MEIO AMBIENTE

Desmatamento no Brasil cresceu 22,3% no ano passado; Amazônia e Cerrado lideram

Terras indígenas e quilombos se destacam como os territórios mais preservados do país

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 12/06/2023 às 12:34

Alterado em 12/06/2023 às 13:26

Cinco dos seis biomas brasileiros apresentaram aumento na área desmatada: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal Foto: Amanda Perobelli/Reuters

A área desmatada no Brasil no ano passado aumentou 22,3% em relação a 2021, totalizando 2,05 milhões de hectares, de acordo com o Relatório Anual de Desmatamento (RAD2022) produzido pelo MapBiomas. A Amazônia e o Cerrado foram os biomas mais afetados, representando 90,1% do desmatamento. No governo Bolsonaro, entre 2019 e 2022, 6,6 milhões de hectares foram desflorestados. Esse número equivale a uma vez e meia o estado do Rio.

Esses dados revelam a crescente destruição ambiental no país, impulsionada principalmente pela atividade agropecuária, responsável por 95,7% do total desmatado ou a 1,96 milhão de hectares. O garimpo e a mineração também contribuíram com áreas menores de desmatamento.

Os números

Cinco dos seis biomas brasileiros apresentaram aumento na área desmatada: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Pampa e Pantanal - a exceção é a Mata Atlântica. A Amazônia registrou o maior aumento absoluto, com 190.433 hectares desmatados, seguida pelo Cerrado, com 156.871 hectares. Proporcionalmente, os biomas mais impactados foram o Cerrado, com 31,2% de sua área afetada, e o Pampa, com 27,2%.

Em termos de vegetação e uso da terra, o desmatamento predominou na formação florestal (64,9%), seguido pela formação savânica (31,3%) e formação campestre (3,6%).

Ao analisar os estados, o Pará lidera o ranking do desmatamento, com 22,2% da área desmatada em todo o país (456.702 hectares). Em seguida, estão o Amazonas, com 13,33% (274.184 hectares); Mato Grosso, com 11,62% (239.144 hectares); Bahia, com 10,94% (225.151 hectares); e Maranhão, com 8,2% (168.446 hectares). Esses cinco estados são responsáveis por 66% do desmatamento no Brasil.

As terras indígenas e as Comunidades Remanescentes de Quilombos (CRQ) se destacam como os territórios mais preservados do país. Nas terras indígenas, o desmatamento corresponde a apenas 1,4% da área total desmatada no Brasil (26.598 hectares), sendo que a maior parte ocorreu na Amazônia. O Território Indígena Apyterewa, no Pará, foi o mais afetado, com 10.525 hectares desmatados.

Nas comunidades quilombolas, o desmatamento corresponde a apenas 0,05% da área total do país. Das 456 comunidades certificadas, 62 (26,1%) registraram pelo menos um alerta de desmatamento, com uma área máxima de 258 hectares na comunidade Kalunga, em Goiás.

Irregularidades

O relatório do MapBiomas revela que há uma série de irregularidades, incluindo desmatamento em áreas protegidas, como terras indígenas e unidades de conservação, além de sobreposição com Áreas de Reserva Legal (RL) e Áreas de Preservação Permanente (APP). Metade dos alertas de desmatamento (52%) apresenta sobreposição com RL, totalizando 699.189 hectares ou 34% da área total desmatada.

As ações dos órgãos de controle ambiental, como o Ibama e o ICMBio, tiveram um impacto limitado na contenção do desmatamento ilegal. Até maio deste ano, essas ações abrangeram apenas 2,4% dos alertas de desmatamento e 10,2% da área desmatada identificada de 2019 a 2022.

Os estados com maior atuação foram Espírito Santo (73,7% dos eventos no estado), Rio Grande do Sul (55,6%), São Paulo (40,3%) e Mato Grosso (37,3%), enquanto Pernambuco (0,8%), Maranhão (1,6%) e Ceará (1,9%) tiveram menor engajamento.

O Relatório Anual de Desmatamento do MapBiomas utiliza dados de diferentes fontes, como o Deter (Sistema de Detecção de Desmatamento em Tempo Real do Inpe) para Amazônia e Cerrado, SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento do Imazon) para a Amazônia, além de outros sistemas específicos para cada bioma.

Também são considerados cruzamentos com cadastros ambientais, sistemas de gestão fundiária, unidades de conservação, terras indígenas e outros limites geográficos para obter uma visão abrangente do desmatamento no Brasil.