JUSTIÇA

Mauro Cid confirma que Jair Bolsonaro leu minuta de golpe e fez alterações

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Por JB JURÍDICO
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Publicado em 09/06/2025 às 17:06

Alterado em 09/06/2025 às 19:40

Bolsonaro cumprimenta Mauro Cid na sala do interrogatório, no STF Foto: Rosinei Coutinho/STF

Durante depoimento ao STF, nesta segunda-feira (9), o ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro, Mauro Cid, declarou que presenciou "grande parte dos fatos" relativos à tentativa de golpe, mas não participou deles. Ele também afirmou que Bolsonaro recebeu, leu e fez alterações em uma minuta golpista elaborada por assessores.

"Em termos de data, não me lembro bem. Foram duas, no máximo três reuniões em que esse documento foi apresentado ao presidente", disse Cid, acrescentando que a minuta era dividida em duas partes: "A primeira parte eram os 'considerandos' — cerca de 10 páginas, muito robustas. Essa parte listava possíveis interferências do STF e do TSE no governo Bolsonaro e no processo eleitoral."

O tenente-coronel também confirmou a existência de um documento que previa a prisão de autoridades do Supremo Tribunal Federal e do Legislativo. E que o ex-presidente Jair Bolsonaro teria lido esse documento, e "enxugado" o texto.

A proposta também previa uma comissão eleitoral: "Eu não me ative muito aos detalhes do documento, mas seria para conduzir uma nova eleição, baseada em uma eleição anulada", relatou.

"Sim [Jair Bolsonaro] recebeu [o texto] e leu. Ele enxugou o documento. Basicamente, retirando as autoridades das prisões, somente o senhor [Moraes] ficaria como preso. O resto, não", pontuou Mauro Cid.

Kids pretos
Cid admitiu que entregou uma caixa de vinho contendo dinheiro ao major Rafael de Oliveira.

Segundo ele, a entrega foi feita a mando de Walter Souza Braga Netto, que foi candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro em 2022.

O major Rafael de Oliveira integra o grupo conhecido como "kids pretos", formado por militares das Forças Especiais do Exército.

Tanto Rafael de Oliveira quanto outros membros dos "kids pretos" são investigados por supostamente fazerem parte de uma organização armada que teria elaborado um plano para assassinar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente Geraldo Alckmin e o ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. Essa conspiração recebeu o nome de "Punhal Verde e Amarelo".

Durante o interrogatório, o ministro Alexandre de Moraes, relator do processo, questionou Cid sobre a transferência dos valores ao grupo.

Em resposta, Cid reafirmou as informações já fornecidas anteriormente em seu acordo de colaboração premiada. Ele explicou que os recursos foram entregues a ele por Braga Netto e, posteriormente, repassados ao major de Oliveira. O dinheiro estava acondicionado em uma caixa de vinho.

Cid afirmou que não sabia o valor exato que estava no recipiente, o qual foi entregue no Palácio da Alvorada ao militar do grupo "kids pretos", atendendo a uma solicitação de Braga Netto.

"O espaço temporal eu não me recordo, o general Braga Netto trouxe uma quantia em dinheiro, que eu não sei precisar quanto foi. Mas com certeza não foi R$ 100 mil, até pelo volume, não era tanto, que foi passado para o major de Oliveira, no próprio Alvorada", disse. "Fui eu que passei esse dinheiro. Eu recebi do general Braga Netto no Palácio da Alvorada. Estava em uma caixa de vinho, uma botelha, ai depois [...] eu passei para o Major de Oliveira", completou Cid.

Moraes listou o nome dos seis réus da ação penal e perguntou a qual grupo eles pertenciam. Segundo Cid, apenas almirante Almir Garnier, ex-comandante da Marinha, era membro do grupo dos radicais que defendiam o golpe de Estado.

Já sobre os ex-ministros Paulo Sergio e Braga Netto, ambos da Defesa, eram, segundo o depoente, integrantes do grupo dos moderados. Enquanto os ex-ministros Augusto Heleno e Anderson Torres, e o ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem, não se enquadravam em nenhum grupo.

Mauro Cid é o primeiro a ser ouvido porque fechou uma delação premiada com a Polícia Federal. Os outros sete réus serão interrogados em ordem alfabética: Alexandre Ramagem (deputado federal e ex-chefe da Abin), Almir Garnier (ex-chefe da Marinha), Anderson Torres (ex-ministro da Justiça), Augusto Heleno (ex-ministro do GSI), Jair Bolsonaro (ex-presidente), Paulo Sérgio Nogueira (ex-ministro da Defesa) e Walter Braga Netto (ex-ministro da Casa Civil e da Defesa).

Oitivas
O início das oitivas indica que o processo contra o principal grupo denunciado pela PGR caminha para o fim, podendo resultar na prisão dos réus.

A oitiva de Bolsonaro também marca a primeira vez que o ex-presidente ficará frente a frente com seu ex-ajudante de ordens, o tenente-coronel Mauro Cid, desde que este fechou acordo de delação premiada com a Justiça. Cid foi peça central das revelações presentes na denúncia da PGR. Foi ele que confirmou aos investigadores que Bolsonaro convocou militares de alto escalão para discutir formas de reverter os resultados das eleições. (com Sputnik Brasil)

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