INFORME JB

Por Jornal do Brasil

[email protected]

INFORME JB

Amapá, a nova fronteira do petróleo

Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
[email protected]

Publicado em 22/10/2025 às 19:42

Alterado em 22/10/2025 às 19:48

. .

A autorização do Ibama para a Petrobras fazer pesquisas e provavelmente confirmar, com os furos de três a quatro poços exploratórios, as indicações comerciais de petróleo e gás natural dos mapeamentos sísmicos da plataforma marítima do Amapá, está agitando os meios empresariais de apoio à exploração e produção de petróleo. Pelos resultados fabulosos já alcançados na Guiana e no Suriname, considera-se que o alto mar do Amapá será a nova fronteira do petróleo e gás do Brasil nas próximas duas décadas.

Em evento promovido em restaurante do Jockey Club, terça-feira à noite pela Ouro Nova, uma “deep tech” nascida há 15 anos na incubadora de negócios da PUC-Rio, e que hoje auxilia o desenvolvimento de pesquisas e soluções de alta tecnologia para enfrentar os desafios do pré-sal – como o poço submarino mais profundo do mundo, o Monai, com 7.700 metros, no pré-sal da Bacia do Espírito Santo – era geral o entusiasmo com as novas possibilidades.

É que as projeções da Petrobras e da ANP indicam que em 2030-2031 a produção anual de petróleo do Brasil, que hoje supera os 5 milhões de barris-dia ou equivalentes em petróleo e gás, dos quais mais de 4 milhões saem dos poços do pré-sal, começaria a declinar. Portanto, se o Amapá se confirmar como uma nova fronteira as oportunidades de negócios estão garantidas.

Ressalvas aos ambientalistas

Os ambientalistas têm razão em criticar a licença do Ibama às vésperas da COP-30, em novembro, em Belém. Mas se esquecem de um cenário relevante em se tratando do Brasil.

Enquanto a matriz energética do primeiro mundo, da China, da Índia e da Indonésia é dominada por fontes fósseis (sobretudo petróleo e carvão), que emitem muito CO2, no Brasil a energia do petróleo e gás é minoritária.

Aqui a geração é liderada pelas usinas hidroelétricas. E a anergia eólica e a solar só não têm aproveitamento maior porque faltam grandes baterias para acumular a energia gerada sob o sol ou com os ventos. Isso daria até maior confiabilidade ao Sistema Integrado Nacional, regulado pelo O.N.S.

O Brasil entra na conta global como gerador de CO2 pela derrubada/queima de florestas e pelas emissões de gases (puns) dos 230 milhões de bovinos.

A nova fronteira do Amapá, passível de ser explorada em cinco a oito anos, não agravaria a contribuição brasileira ao aquecimento global. Nesse intervalo há como avançar na transição energética e no controle do desmatamento e dos puns, com aditivos na engorda dos milhões de bois em confinamento

Ensaios de mercado na OTC 2025

O mercado mundial de exploração e produção de petróleo em águas profundas e ultraprofundas (como o pré-sal e como se espera da plataforma marítima do Amapá e de toda a Margem Equatorial) tem como termômetro da troca de tecnologia e estabelecimento de parcerias (nenhuma grande petroleira pode prescindir de pequenas e grandes empresas de tecnologia auxiliar em E&P) as reuniões anuais da Offshore Tecnology Conference (OTC). As reuniões da OTC ocorrem em Houston, a capital mundial do petróleo no Texas, nos anos pares.

Nos anos ímpares, as oportunidades do pré-sal brasileiro cresceram tanto que, nos próximos dias 28 e 29, acontece no Rio de Janeiro, no pavilhão de negócios do Estácio, a 7ª edição da OTC Rio.

Os representantes da Petrobras, da norueguesa Equinor, da anglo-holandesa Shell, da portuguesa Galp e da Repsol Sinopec (de controle chinês) estavam trocando figurinhas sobre a nova fronteira. O engenheiro Eloy Fernandez y Fernandez, ex-presidente da ONIP, filiada à Firjan, que viveu o bom do pré-sal, estava de malas prontas para embarcar para o Amapá para fazer palestras na universidade e nos meios empresariais locais sobre os desafios do novo filão.

O governador do Amapá, Clécio Luís Andrade estará na OTC Rio tentando atrair empresas para o seu estado.

Os riscos da má partilha

Os portugueses, que contribuíram em boa parte como ancestrais do povo brasileiro, têm um humor invulgar. Numa má divisão de terras de uma herança familiar, um dos herdeiros ficou insatisfeito com a área dos vinhedos que lhe coube que nomeou o vinho produzido nas vinhas do “terroir” como “Má Partilha”.

Lembro disso porque os alertas do Ineep (Instituto de Estudos Estratégicos do Petróleo e Gás) já advertiam para os riscos de insucesso do regime de partilha, o que se confirmou no 3º Ciclo da Oferta Permanente de Partilha (OPP) realizado hoje pela Agência Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis.

O mercado esperava uma arrecadação de R$ 516,2 bilhões com a oferta recorde de 13 blocos do pré-sal. Mas houve muitas desistências e antes do leilão a meta de receita caiu a R$ 161,4 milhões. Depois de batido o martelo, a receita minguou para apenas R$ 103,7 milhões. Ou seja, 20% da meta.

No entanto, só sete blocos receberam lances. A Petrobras voltou ao leilão, em parceria em três blocos. Outras ofertas vieram da australiana Karoon (bloco Esmeralda), das chinesas CNOOC e Sinopec (Ametista), em consórcio, e a norueguesa Equinor (Itaimbezinho). Juntas essas empresas arremataram 77,3% da área leiloada, pagaram um bônus de assinatura de R$ 66,7 milhões, cerca de 64,0% do bônus total,

Nem tudo é festa no Amapá

Enquanto políticos e empresários comemoram a licença do Ibama para a Petrobras fazer pesquisas exploratórias para comprovar a existência comercial de petróleo e gás natural na plataforma continental do Amapá, a 175 kms mar adentro, a classe artística do estado está em pé de guerra contra o governador Clécio Luís Vilhena Andrade (Solidariedade-AP).

Calote no festival do abacaxi

As entidades culturais do estado promoveram os festivais do Pirarucu e do Abacaxi, duas riquezas locais até o petróleo entrar nos sonhos da população, mas o governo Clécio até agora não repassou as verbas para pagar os artistas locais, os nacionais e trabalhadores terceirizados nos festivais do Amapá.

A falta de pagamento tem impactado a vida de muitos profissionais que participaram dos festivais. Os artistas locais e nacionais e os trabalhadores terceirizados, essenciais à realização dos eventos, como técnicos de som, iluminação e pessoal de limpeza, também esperam aflitos a quitação dos serviços prestados.

A reação da comunidade

A comunidade artística e cultural do Amapá tem se mobilizado para chamar a atenção das autoridades sobre a importância do cumprimento dos compromissos financeiros. Vozes da oposição insinuam que o governador Clécio, simpatizante de Bolsonaro, confirma a falta de apreço pela cultura.

Tags:

Deixe seu comentário