INFORME JB

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INFORME JB

A tragédia dos Nem-Nem nos espera

Segundo o IBGE, um em cada cinco brasileiros com 15 a 29 anos não estudava e nem estava ocupado em 2022

Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
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Publicado em 06/12/2023 às 19:52

A Síntese dos Indicadores Sociais, de 2022, a última foto do governo Bolsonaro, divulgada esta 4ª feira pelo IBGE mostra números aterradores que projetam futuro sombrio a uma parcela expressiva dos jovens brasileiros. O número de jovens que não estudavam nem tinham ocupação foi de 10,9 milhões em 2022, o que equivale a 22,3% das pessoas de 15 a 29 anos de idade.

A situação é ainda pior para os pobres e as mulheres e cidadãos pretos ou pardos. Dos 10,9 milhões de desempregados e que não estudavam 61,2% eram pobres. E as mulheres pretas ou pardas representavam 43,3% dos Nem-Nem (mais do que o dobro das mulheres brancas - 2,2 milhões, ou 20,1%).

No universo masculino, os homens pretos ou pardos somavam 2,7 milhões (24,3%), também mais do que o dobro dos 1,2 milhão (11,4%) de homens brancos de 15 a 29 anos sem estudar ou trabalhar.

Sem qualificação nas escolas, esse contingente dificilmente vai encontrar vaga no cada vez mais exigente mercado de trabalho. A exigência de traquejo com computadores e internet vai tanto dos setores de serviços (o que mais emprega), à construção e chega ao agronegócio. Dirigir caros tratores e equipamentos pede intimidade dos peões com a internet e a informática. Por sinal, muitos tratores já são operados eletronicamente, sem tratoristas a bordo.

Círculo vicioso da pobreza

Em 2022, 4,7 milhões de jovens não procuraram trabalho e nem estavam dispostos a trabalhar. Entre esses jovens, 2,0 milhões eram mulheres cuidando de parentes e afazeres domésticos.

Sem motivação, que perderam nas primeiras idas à escola, sem estudo de qualidade, o jovem contingente de Nem-Nem tende a procriar e se multiplicar.

Isso pressiona a assistência social (Bolsa Família e programas afins) e a segurança pública. O aumento do calor, quando a multidão à toa buscou as praias, deixou isso claro no Rio de Janeiro e em outras cidades litorâneas.

A escola que não atrai

No balanço feito, em 2022, no Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) a aprendizagem dos estudantes brasileiros se manteve baixa e estável desde 2009. Isso deixou o país entre os 20 piores do mundo em Matemática (classificado em 65º lugar) e Ciências (68º lugar).

Pior foi em Leitura, atividade combatida no governo Bolsonaro, com censura aos clássicos da literatura brasileira: o Brasil ficou entre os 30 piores, no 52º posto, entre os 81 participantes do Pisa referente a 2022.

Rodízio no MEC explica

Entre 2019 e 2022, os quatro anos do governo Bolsonaro, quando a pasta da Educação foi comandada por quatro ministros. Ricardo Velez que tomou posse em janeiro de 2019, foi substituído em abril de 2019 por Abraham Weintraub, que deu lugar a Milton Rodrigues, em junho de 2020.

Rodrigues foi o mais longevo, mas renunciou em março de 2022, após denúncias de corrupção para favorecer pastores evangélicos que intermediavam liberação de verbas do bilionário Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação a prefeitos amigos e aliados do governo.

O secretário-executivo Victor Godoy herdou o cargo até dezembro de 2022, sem tempo de mostrar serviço no ano eleitoral.

Causa e efeito

O resultado do desencontro de diretrizes foi que a tentativa de desmonte da educação tradicional no governo Bolsonaro (que enxergava infiltração ideológica nas cátedras escolares – os métodos do educador Anísio Teixeira eram os alvos dos bolsonaristas) – não criou nada. Deixou apenas um vácuo, com retrocesso em relação à posição alcançada pelo Brasil, em 2018.

O resultado do Pisa só não foi pior, porque na pandemia da Covid-19 (2020 e 2021) muitos governos estaduais e prefeituras ignoraram as diretrizes do MEC e fizeram um mutirão para reforço do ensino escolar à distância.

Na imensa maioria das prefeituras, as dificuldades de acesso à internet restringiram as aulas de educação à distância. Entretanto, como o fenômeno também atingiu países pobres, o Brasil não piorou tanto diante de seus pares.

Conferir de perto

Mas, ante os fracos resultados do Brasil no Pisa, o MEC, sob a gestão do ministro Camilo Santana, no governo Lula, já tomou uma decisão. Está proibida a formação de professores pelo método de Educação à Distância, já que a ausência de aulas presenciais tira a capacidade dos professores formadores dos novos mestres corrigirem erros de didática e de postura perante os alunos.

E sem a capacitação de professores que tenham condições de motivar os alunos na aventura do aprendizado, crescerá a evasão que gera os Nem-Nem.

Para onde vamos?



Um vídeo que circulou esta semana nas redes sociais mostra um incrível desembarque, em Copacabana, de um bando de jovens (homens, mulheres e até crianças) de um ônibus ainda em movimento da linha 474, Jacaré-Jardim de Alá na divisa de Ipanema e Leblon. Assim como a linha 472, da mesma companhia, que faz o trajeto Triagem-Leme, os ônibus partem vazios da vizinhança da favela do Jacaré, uma das maiores e mais populosas da cidade. Mas já na primeira parada há uma invasão pelas janelas, sem que o motorista consiga evitar (os ónibus há muito não têm trocador).

As duas linhas funcionam como o “bonde do Jacaré”. Assim como a 484 (Olaria-Copacabana), com ponto final na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, no Posto 6, próximo à praia do Arpoador, e a 483 (Penha-Copacabana) trazem moradores das comunidades do Alemão e da Maré para as praias da Zona Sul.

A maioria vem sem dinheiro e sem camisa (o que dificulta eventual captura e identificação). Sem lenço e sem documento, a turma está disposta a fazer um ganho (de celular, de cordão de outro ou de dinheiro. No metrô, é difícil entrar sem pagar e não é possível viajar sem camisa.

Surfistas de ônibus

Assim como muitos jovens já perderam a vida por choques elétricos ao viajarem no teto dos trens elétricos, como se fossem surfistas, o vídeo mostrou que muitos dos jovens tinham aberto a tampa de ventilação (o ar-condicionado não funcionava para variar, o que era impossível porque a turma se pendurava nas janelas abertas) e viajam perigosamente sobre a capota do coletivo. Numa curva o tombo seria fatal.

A vingança dos lutadores

Os casos de violência de alguns bandos destes jovens contra moradores e turistas de Copacabana e do Leme (o que se repete em Ipanema e Leblon), gerou uma articulação de lutadores de artes marciais das academias da Zona Sul para revidar com aparelhos, incluindo o temível soco-inglês, para intimidar os Nem-Nem que procuram ganhar dinheiro com arrastões na Zona Sul.

A área que separa o Jacaré de Benfica, Ramos e Olaria, na margem direita de descida da Avenida Brasil rumo ao Centro e Zona Sul (na margem esquerda ficam as favelas de Nova Holanda e as comunidades da Maré), é chamada de a nossa Faixa de Gaza. E a elite quer usar os métodos de Israel contra eles.

Coincidência ou não, a frequência nas praias de Ipanema e Leblon caiu no último fim de semana.

Deputado faz alerta

O deputado estadual, Átila Nunes Filho (PSD-RJ), um grande lutador contra as discriminações às matrizes religiosas africanas, alerta as autoridades de segurança do Estado para a escalada de violência que pode crescer na cidade antes mesmo da chegada do verão (oficialmente em 22 de dezembro).

Ele considera que o Estado do Rio de Janeiro está ao Deus-dará em matéria de segurança pública. “Cadê o Secretário de Segurança que não emitiu uma única nota a respeito dos bárbaros acontecimentos no Rio e na Baixada?”. O deputado disse que a Alerj vai convocar, Victor Santos, para explicações esta semana.

Átila Nunes se diz horrorizado com as notícias de que lutadores de Jiu-Jitsu de academias de Copacabana caçarão os criminosos que fazem arrastões no bairro. Será que população tem que contar com justiceiros para terem a segurança que não lhes é garantida pelo Estado? Chegamos à exaustão.

Largada do Carnaval

Ainda não é Natal, mas a movimentação do Carnaval já sacode a cidade. Neste sábado (9/12), às 19h, no Solar do Mirante, em Santa Teresa, o Mistura de Santa apresenta o samba que celebra os 10 anos do bloco, e lança a camiseta para o carnaval 2024.

Criação do artista gráfico Luiz de França, o Zod, a camiseta traz frases de sambas antigos nos fios de cabelos da imagem que celebra o enredo de 2024, “Mistura é 10”. São lembrados Lampião (cordel); Rita Lee e a Tropicália; a diversidade, e, também, a frase que marcou o primeiro samba da agremiação “ser o que quiser e respeitar o que vier”.

O Solar do Mirante fica na rua Leopoldo Fróes, 163, esquina com a rua Aprazível.

Camiseta do bloco Mistura de Santa, de Santa Teresa
Divulgação