INFORME JB

Por Jornal do Brasil

[email protected]

INFORME JB

Autoridades cobram Dino, MPSP e Unisa após 'masturbação coletiva' de alunos de medicina da universidade viralizar

União Nacional dos Estudantes afirmou que 'esses alunos precisam ser responsabilizados pelos crimes cometidos', enquanto diversos políticos também se manifestaram

Por Gabriel Mansur
[email protected]

Publicado em 18/09/2023 às 15:39

Alterado em 18/09/2023 às 17:17

Campus Metrô Adolfo Pinheiro da Universidade Santo Amaro Foto: Reprodução

Um vídeo misógino e nojento, para não citar criminoso, uma vez que há uma prática flagrante de importunação sexual, ganhou as redes sociais a partir deste domingo (17). Acadêmicos do curso de Medicina da Universidade de Santo Amaro (Unisa), em São Paulo, promoveram uma masturbação coletiva, para manter "a tradição", como afirmou um dos participantes, durante partida de vôlei feminino em um torneio universitário. Além de estudantes, os jovens também são do time de futsal da Unisa.

Nas imagens, amplamente divulgadas nas redes sociais, cerca de 20 homens foram capturados correndo na quadra com suas calças abaixadas, com seus órgãos genitais aparentes, como um bando de neandertais, encenando o que foi descrito como uma "Volta Olímpica", enquanto tocavam suas partes íntimas. Essa cena aconteceu durante o Intermed - competição esportiva que envolve outras universidades da região - , realizado entre os dias 7 e 10 de setembro, em Bauru.

Outra gravação, que também viralizou no domingo, embora tenha acontecido em outro momento, ocorreu em maio deste ano, durante a Copa Calo, realizada em São Carlos, no interior de São Paulo. Nela, uma dezena de estudantes estava na plateia assistindo ao jogo feminino e também simulando atos de masturbação.

Ainda há dúvidas sobre as datas e origens dos vídeos, mas o fato é que os atos libidinosos viralizaram neste domingo e geraram revolta nas redes sociais, a ponto do assunto "medicina" entrar no trending topics do X (antigo Twitter). 

O Ministério das Mulheres, chefiado por Cida Gonçalves, repudiou o episódio e afirmou que a atitude “jamais pode ser normalizada”.

“Romper séculos de uma cultura misógina é uma tarefa constante que exige um olhar atento para todos os tipos de violências de gênero. Atitudes como a dos alunos de Medicina, da Unisa, jamais podem ser normalizadas”, disse a conta oficial da pasta no X.

O Ministério das Mulheres disse ainda que está comprometido com o combate a práticas machistas para que as universidades sejam lugares seguros e livres de violência.

“Em parceria com o Ministério da Educação, o Ministério das Mulheres reforça seu compromisso de enfrentar essas práticas que limitam ou impossibilitam a participação das estudantes como cidadãs. Vamos seguir trabalhando para que as universidades sejam espaços seguros, livres de violência”, afirma o ministério na postagem.

Também em nota, o Centro Acadêmico Rubens Monteiro de Arruda (Carma), da Faculdade de Medicina Santo Amaro, repudiou as atitudes demonstradas nos vídeos que estão circulando nas mídias. “Tais feitos são um retrocesso para a nossa universidade e, portanto, não representam a nossa querida casa", comentou.

Já a Associação Acadêmica José Douglas Dallora, da mesma universidade, afirmou “que as filmagens circuladas pela mídia não são contemporâneas e não representam os princípios e valores pregados pela atlética. Acrescentou que "não toleramos ou compactuamos com qualquer ato de abuso ou discriminatório".

Nesta segunda-feira, a União Nacional dos Estudantes emitiu nota em que considerou "absurdas as cenas dos alunos de medicina da Unisa durante jogos universitários. Esses estudantes precisam ser responsabilizados pelos crimes cometidos em uma conduta inaceitável durante um jogo de vôlei feminino. Não podemos tolerar que casos como esse continuem acontecendo".

Até o fechamento desta edição, a Unisa não comentou o caso e fechou os comentários em suas redes sociais. No entanto, estudantes de Medicina da universidade ouvidos pelo Metrópoles, afirmam que a prática é considerada "normal" em eventos universitários.

"Tava todo mundo zoando. Não tem nada a ver com bater punheta. A ideia era mostrar o pau para a torcida rival, isso é normal em jogos de Medicina. Jogo de Medicina é como se fosse um outro universo. A gente sabe separar as coisas. Ninguém vai sair fazendo isso por aí", teria declarado um aluno ouvido pelo site.

Cultura do machismo

Além da obscenidade, uma matéria do Uol de 2022 mostrava que esse comportamento não é apenas tolerado, como também estimulado na Unisa. Mensagens de WhatsApp divulgavam o seguinte: "regras de comportamento dos calouros nos torneios – os principais são o Pré-Intermed, em abril, e o Intermed, em setembro, competições esportivas entre alunos de faculdades de medicina”.

“A tradição dos bixos [sic] homens na abertura é correr pelado na quadra com as outras faculdades”, diz um dos participantes.

Há um histórico de trotes violentos. Segundo o Uol, alunos recebem um manual de regras ao entrar no curso de medicina. Mulheres não podem usar acessórios ou roupas decotadas e homens devem raspar o cabelo. A padronização serve para diferenciar calouros de veteranos.

Os hinos da atlética possuem versos machistas como “pegar as caipiras e comê-las no canto” e quem não sabe ou não quer cantar é punido. As agressões a calouros incluem tapas, socos, cuspe no rosto, humilhações públicas e nas redes sociais.

Reações nas redes sociais

Deixe seu comentário