INFORME JB

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Com nome no recibo, Wassef agora confessa ter recomprado Rolex para 'devolvê-lo à União'

Advogado de Jair Bolsonaro afirma que não agiu sob ordens do tenente-coronel Mauro Cid

Por GABRIEL MANSUR
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Publicado em 15/08/2023 às 22:11

Alterado em 16/08/2023 às 07:52

Frederick Wassef Foto: reprodução

Dois dias após negar ter conhecimento sobre o Rolex e qualquer outro presente apropriado - ou vendido - ilegalmente pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), o advogado do ex-presidente, Frederick Wassef, agora admite ter viajado aos Estados Unidos e recomprado o relógio em 14 de março deste ano.

A nova versão foi apresentada aos jornalistas em coletiva de imprensa, nesta terça-feira (15), após revelação de que o nome do advogado constava no recibo de recompra do item de luxo. Apesar da confissão, Wassef afirmou que seu objetivo era realizar a devolução do relógio e que não agiu sob ordens do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.

"Comprei o relógio, a decisão foi minha, usei meus recursos, eu tenho a origem lícita e legal dos meus recursos. O meu objetivo quando comprei esse relógio era exatamente para devolvê-lo à União, ao governo federal do Brasil, Presidência da República, e isso inclusive por decisão do Tribunal de Contas da União. Fiz o relógio chegar ao governo. O governo do Brasil me deve R$ 300 mil", ironizou Wassef, enquanto mostrou um recibo de compra no valor de 49 mil dólares.

Macaque in the trees
Suposto comprovante de compra do Rolex (Foto: Foto: Reprodução)

O relógio de luxo em questão é da marca Rolex e foi um presente de autoridades sauditas a Jair Bolsonaro durante uma viagem oficial do então presidente da República em 2019 à Arábia Saudita e ao Catar. O item foi levado para os Estados Unidos – para onde Bolsonaro viajou às vésperas de deixar a Presidência – e lá foi vendido, segundo a Polícia Federal (PF), ilegalmente, pelo então ajudante de ordens de Bolsonaro Mauro Cid.

Em 15 de março, o TCU definiu prazo de cinco dias úteis para que Bolsonaro entregasse ao tribunal um kit com joias suíças da marca Chopard, em ouro branco. A "organização criminosa", segundo parecer de Alexandre de Moraes, então montou uma "operação resgate" para recuperar o artefato. No fim, o relógio foi devolvido.

Na entrevista desta terça, Wassef disse que a viagem que ele fez aos EUA já estava marcada antes de ele ter comprado o relógio e que a ida ao país teria "fins pessoais". A compra da joia, segundo o advogado, foi feita com dinheiro dele, "do meu banco". Ele, contudo, não deixou claro se o modelo era o mesmo que foi vendido por Cid: "E se esse relógio for outro?"

Dinheiro vivo

O relógio, segundo ele, foi pago em espécie e por dois motivos: por ser uma forma de registrar quem fez a compra, seguindo legislação dos EUA, e para conseguir "desconto".

'Consegui US$ 11 mil dólares [de desconto]. Se eu compro com cartão de crédito, pago no Brasil com 5% de IOF', ressaltou.

Operação resgate

O relatório da Polícia Federal na investigação sobre a venda ilegal de presentes oficiais dados à Presidência da República mostra que Frederick Wassef e Mauro Barbos empreenderam uma "operação de resgate" para devolver joias, já vendidas, ao Tribunal de Contas da União (TCU).

Em 15 de março, o TCU definiu prazo de cinco dias úteis para que Bolsonaro entregasse ao tribunal um kit com joias suíças da marca Chopard, em ouro branco, recebidas como presente do governo da Arábia Saudita em viagem oficial de 2019.

A entrega ao TCU era necessária porque itens de alto valor recebidos como presente oficial devem integrar o acervo da Presidência da República, ou seja, não são de titularidade do presidente que recebe. Esses itens, segundo a investigação, já tinham sido vendidos em duas lojas diferentes nos Estados Unidos.

Segundo a PF, a "operação de resgate" foi dividida em duas etapas:

  1. o relógio Rolex Day-Date, vendido para a empresa Precision Watches, foi recuperado por Frederick Wassef em 14 de março, véspera da decisão do TCU, e "repatriado" em 29 de março;
  2. o restante das joias foi recuperado por Mauro Barbosa Cid em 27 de março, em uma loja em Miami.

Ainda segundo a PF, as duas partes do kit foram entregues a Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e tenente do Exército. Crivelatti também foi alvo da operação desta sexta-feira (11).

O kit foi entregue pela defesa de Jair Bolsonaro em uma agência bancária em Brasília, no dia 4 de abril.

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