DIREITOS HUMANOS
Mulheres negras fazem marcha contra racismo no dia 30, no Rio
Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 24/07/2023 às 06:51
Alterado em 24/07/2023 às 09:19
Quarta Marcha das Mulheres Negras em Copacabana, no Rio de Janeiro, protesta contra a violência que atinge as mulheres negras em todo o país (arquivo) Tomaz Silva/Agência Brasil
A Marcha das Mulheres Negras 2023, que acontece no próximo dia 30, na Praia de Copacabana, zona sul do Rio de Janeiro, tem como tema Mulheres negras unidas contra o racismo, contra todas as opressões, violências, e pelo bem viver. Será a nona edição do ato, que também encerrará as comemorações pelo Dia das Mulheres Negras, instituído por força de lei estadual o 25 de julho.
O evento traz na edição deste ano algumas reivindicações. Entre elas, a criação de estratégias para sobreviver ao racismo do qual "o povo preto, nos últimos quatro anos, se tornou alvo, de todas as formas", disse à Agência Brasil Clatia Vieira, uma das organizadoras da marcha. "O crescimento e o fortalecimento do racismo foram uma coisa muito assustadora e aconteceram porque racistas tiveram amparo na gestão do governo federal".
Serão também marcantes na marcha a questão da fome, a violência e a juventude negra, que, segundo Clatia, está muito vulnerável. O evento vai abordar ainda questões de moradia, trabalho e saúde mental. "Vamos falar de um governo que olhe para a população negra, não como uma população de coitados e coitadas, mas como parte da sociedade brasileira, e que precisa ser tratada como cidadã".
Para isso, Clatia ressalta a necessidade de fazer valer a Constituição Federal e a dignidade do povo preto.
Bem viver
No que se refere ao bem viver, Clatia explicou que se trata da construção cotidiana, "que é o bem viver como um conceito de condições de dignidade humana de vida. Porque a população negra está exposta e é violentada todos os dias, não por sermos mulheres ou jovens, mas por sermos negros".
Para Clatia Vieira, trata-se de uma ideologia racista que tomou forma e corpo e tem afetado a vida da população negra, de forma drástica. "Não que já tivesse sido resolvido, mas a gente tinha um equilíbrio nessa questão. A gente perdeu. Esse gap [lacuna] de cinco anos deu muita força para as políticas racistas. Eu posso dizer que [o racismo] foi normalizado, e isso dá força para as pessoas seguirem se comportando dessa forma, como a gente tem acompanhado".
O cenário político atual, com a mudança do governo federal, permite à população negra respirar, acredita Clatia Vieira. "Porque a gente tinha muito medo de sair às ruas, porque as pessoas eram atacadas por serem pretas, por terem o cabelo black".
Ela lembrou também das perseguições aos terreiros de umbanda, que configuram racismo religioso. "Estávamos vivendo um processo que a democracia não valia", denuncia.
Clatia disse que os quatro anos do governo anterior não serão resolvidos em uma única gestão do governo atual, "porque as políticas antidemocráticas tomaram muito corpo". Embora o ex-presidente da República tenha se tornado inelegível, deixou políticas antidemocráticas, racistas, disse.
"E isso afeta muito a população negra e, em especial, as mulheres negras".
Agora, Clatia vê a necessidade de ir para a rua reivindicar, a partir da democracia, que esta seja minimamente respeitada.