BRASIL

Tarcísio ultrapassou limites institucionais ao atacar Moraes, dizem ministros

Membros do STF consideraram que chamar ministro do STF de "ditador" e "tirano" durante discurso no 7 de Setembro foi um "divisor de águas"

Por JORNAL DO BRASIL com Revista Fórum
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Publicado em 08/09/2025 às 08:03

Alterado em 08/09/2025 às 08:04

O governador Tarcísio de Freitas Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Por Julinho Bittencourt - Os ataques feitos pelo governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, durante seu discurso na Avenida Paulista no feriado de 7 de Setembro, acirraram a tensão entre o Executivo paulista e o Judiciário. A fala, considerada por integrantes da Corte como um “divisor de águas” na relação institucional, provocou forte reação nos bastidores do tribunal.

Na avaliação de ao menos três ministros ouvidos reservadamente pela coluna de Bela Megale, no Globo, Tarcísio “ultrapassou limites institucionais” ao se referir a Moraes como “ditador” e “tirano”. A manifestação pública do governador ocorreu durante um evento que reuniu apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), com quem Tarcísio mantém forte ligação política.

A leitura entre parte dos ministros é que o governador radicalizou o discurso com o objetivo de acenar à base bolsonarista e, assim, se viabilizar como possível candidato à Presidência da República em 2026, caso Bolsonaro fique inelegível.

— Obviamente, o discurso do Tarcísio não é um sinal de quem queira construir diálogo com o Judiciário. O que eu vejo é ele radicalizando em busca da bênção do Bolsonaro para concorrer à Presidência — afirmou um ministro do STF sob condição de anonimato.

A fala de Tarcísio, que já vinha adotando um tom mais alinhado ao bolsonarismo nos últimos meses, marca um novo capítulo na tensão entre o Palácio dos Bandeirantes e o Supremo. Até então visto como um interlocutor mais moderado, o governador rompeu com essa imagem ao adotar um tom agressivo diante das câmeras e de uma multidão de apoiadores.

O tuíte de Gilmar
Gilmar Mendes, do STF, postou em seu perfil no X (ex-Twitter) uma publicação fazendo referência a ataques feitos por bolsonaristas a instituições e ao STF em manifestações realizadas neste domingo (7).

"No Dia da Independência, é oportuno reiterar que a verdadeira liberdade não nasce de ataques às instituições, mas do seu fortalecimento. Não há no Brasil 'ditadura da toga', tampouco ministros agindo como tiranos", apontou o magistrado, se referindo a diversas falas que atacaram a Corte com o uso da expressão mencionada por ele. "O STF tem cumprido seu papel de guardião da Constituição e do Estado de Direito, impedindo retrocessos e preservando as garantias fundamentais."

O magistrado apontou que, para "falar sobre os perigos do autoritarismo, basta recordar o passado recente de nosso país: milhares de mortos em uma pandemia, vacinas deliberadamente negligenciadas por autoridades, ameaças ao sistema eleitoral e à separação de Poderes, acampamentos diante de quartéis pedindo intervenção militar, tentativa de golpe de Estado com violência e destruição do patrimônio público, além de planos de assassinato contra autoridades da República".

Resposta a Tarcísio
Houve ainda uma menção indireta à fala do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), feita no ato bolsonarista realizado na Avenida Paulista.

"Nós não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. E é isso que nós precisamos fazer, é isso que nós precisamos defender. Chega! Chega do abuso! Chega! Eu tenho certeza que novos tempos virão", bradou o governador.

Depois de uma pausa em seu discurso, parte do público começou a gritar "Fora, Moraes" e Tarcísio reagiu apoiando os gritos. "Porque ninguém aguenta mais. Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está acontecendo nesse país", disse.

Em sua postagem, Gilmar Mendes disse, referindo-se ao que o país não "aguenta mais": "O que o Brasil realmente não aguenta mais são as sucessivas tentativas de golpe que, ao longo de sua história, ameaçaram a democracia e a liberdade do povo. É fundamental que se reafirme: crimes contra o Estado Democrático de Direito são insuscetíveis de perdão! Cabe às instituições puni-los com rigor e garantir que jamais se repitam."

 

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