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SP: trabalhadores do Metrô, Trem e Sabesp entram em greve em protesto contra as privatizações

Governador Tarcísio de Freitas afirmou que paralisação total é ilegal e reforçou lobby por concessões dos serviços

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 03/10/2023 às 12:53

Metroviários, ferroviários e funcionários da Sabesp paralisam atividades Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

Os trabalhadores da Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô), da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) iniciaram, nesta terça-feira (3), uma greve unificada, com duração prevista de 24 horas.

A paralisação, contra as privatizações das três empresas (CPTM, Metrô e Sabesp), já havia sido aprovada pelos trabalhadores em assembleias na semana passada e foi confirmada em uma votação na noite desta segunda-feira (3).

De acordo com Camila Lisboa, presidente do Sindicato dos Metroviários, os trabalhadores fizeram a proposta de catraca livre ao governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), mas ele não aceitou. Camila afirmou que “essa greve só acontece porque o governador Tarcísio não topou a catraca livre".

"Se ele estivesse preocupado com o trânsito da população, ele toparia esse desafio, preservaria o direito de protesto dos trabalhadores e o transporte para as pessoas se deslocarem”, afirmou ela ao Bora Brasil.

Tarcísio reforça privatizações

Já Tarcísio considerou a greve abusiva e ilegal. Segundo o governador, a paralisação desrespeita a decisão do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), de sexta-feira (29), que proibiu a greve total dos trabalhadores do metrô.

Trata-se de uma decisão do desembargador Celso Ricardo Peel Furtado de Oliveira, que determinou que deveria ser assegurada a circulação da frota de 100% dos trens nos horários de pico (das 6h às 9h e das 16h às 19h) e 80% nos demais períodos, sob pena de multa de R$ 500 mil.

“Infelizmente, aquilo que a gente esperava está se concretizando. Temos uma greve de metrô, CPTM e Sabesp. Uma greve ilegal, abusiva, claramente política. Uma greve que tem por objetivo a defesa de um interesse muito corporativo", criticou.

Em publicação na rede X, antigo Twitter, Tarcísio chamou a paralisação de “pauta corporativa” dos funcionários do transporte público de SP e afirmou que o governo continuará os estudos sobre a concessão das linhas.

"Essa turma não está respeitando sequer o Judiciário. Não estão respeitando o poder Judiciário, não estão respeitando o cidadão. Dizem que são contra as privatizações. Mas quais são as linhas que estão funcionando hoje? Aquelas concedidas à iniciativa privada”, disse o mandatário paulista. “Isso mostra que estamos na direção certa, que temos, sim, que estudar [as privatizações", concluiu Tarcísio.

Líder sindical critica governador

A respeito da declaração de Tarcísio, sobre ter que "estudar" as privatizações, Camila Lisboa contra-argumentou e disse que, ao contrário do que Tarcísio sinaliza, a privatização dos serviços do metrô, trens e da Sabesp já está em andamento e não apenas em fase de estudos.

“Ele já fez um edital de terceirização dos serviços de atendimento do metrô, que está previsto para ocorrer na semana que vem, no dia 10 de outubro”, enfatizou. “Tem leilão marcado de privatização da linha 7 Rubi para o dia 29 de fevereiro. Ele está encaminhando o projeto de lei de privatização da Sabesp na Assembleia Legislativa. Ele está conversando com os prefeitos de todas as cidades que têm os serviços de Sabesp, convencendo as prefeituras a abrir mão da autonomia dos municípios para avançar com o projeto de privatização da Sabesp”, destacou a líder sindical sobre as ações concretas que estão sendo tomadas para que os serviços públicos sejam repassados à iniciativa privada.

A sindicalista pontuou ainda que em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro a privatização dos serviços de transportes resultou em expressivo aumento nos valores das tarifas cobradas dos passageiros. Segundo Camila, a paralisação desta terça-feira defende os direitos dos trabalhadores e da população.

“Nós estamos defendendo emprego. Estamos defendendo direitos e, ao mesmo tempo, estamos defendendo o interesse da população, que quer um transporte público de qualidade, que a água esteja com qualidade, que a conta de água não aumente”.

Presidente do metrô ameaça grevistas

O presidente do Metrô de São Paulo, Júlio Castiglioni, afirmou que a empresa vai punir os funcionários em greve que paralisaram quatro linhas do transporte na capital paulista nesta terça.

“Não há nenhuma predisposição para negociar o interesse público”, disse Castiglioni. “Em persistindo o descumprimento da ordem judicial, nós vamos, no tempo devido, no modo devido, executar as multas, vamos punir aqueles que eventualmente empreenderam alguma conduta abusiva e é o mínimo que podemos apresentar como resposta”, completou.

Segundo o presidente, um oficial de Justiça esteve no Centro de Controle Operacional da companhia por volta das 6h para verificar o cumprimento da decisão do desembargador Celso Furtado.

Camila afirmou que a postura fere o direito de greve dos trabalhadores e “mente em favor de um objetivo político” ao falar das paralisações da categoria.

"Ali naquela coletiva teve muita omissão, muita mentira a serviço de um projeto político, porque o governador quer ser presidente do Brasil. […] O que ele não pode é atacar o direito de protesto dos trabalhadores. Nós não estamos na ditadura, governador. A ditadura acabou!", disse ela.

O sindicato alega que as falhas constantes das linhas 8-Diamante e 9-Esmeralda, administradas pela Via Mobilidade, foram omitidas pelo governador durante posicionamento. “Descarrilamentos, velocidade reduzida e trem andando com portas abertas” foram alguns dos problemas apontados pela categoria.

O que funciona e não funciona em São Paulo

Metrô
Linhas paralisadas: 1-Azul, 2-Verde 3-Vermelha
Linhas funcionando: 4-Amarela e 5-Lilás

CPTM
Linhas paralisadas: 10-Turquesa, 12-Safira e 13-Jade
Linhas funcionando parcialmente: 7- Rubi (de Caieiras a Luz) e 11-Coral (de Guaianases a Luz).
Linhas funcionando: 8-Diamante e 9-Esmeralda

Essa é a segunda greve no metrô em 2023. Os sindicatos afirmam que as concessões de linhas do transporte e da rede de água e esgoto poderão piorar a qualidade dos serviços.

Diante da paralisação, a prefeitura da capital paulista decretou ponto facultativo dos serviços municipais e suspendeu o rodízio de veículos nesta terça-feira. Está mantido o funcionamento de escolas e creches, unidades de saúde, serviços de segurança urbana, de assistência social, do serviço funerário, e demais serviços essenciais.

O governo de São Paulo também determinou ponto facultativo em todos os serviços públicos estaduais da capital, inclusive na educação e parte do setor de saúde. Os serviços de segurança pública não serão afetados, assim como os restaurantes e postos móveis do Bom Prato, que vão oferecer as refeições previstas normalmente.

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