Chacina do Guarujá: bala que matou soldado da Rota era de uso exclusivo do estado

Significa que as próprias forças de segurança estão vendendo armas para o crime organizado

Por GABRIEL MANSUR

PM da Rota foi morto por bala que provavelmente foi desviada por soldados corruptos da própria.

A investigação sobre a morte do policial militar Patrick Bastos Reis, soldado da Rotas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota), ganhou um novo capítulo nesta sexta-feira (1º). Segundo a GloboNews, a bala que matou o PM, em 27 de julho, era de um calibre exclusivo das forças de segurança pública brasileira. Isso significa que a arma e a bala do crime saíram de dentro das polícias e do exército.

Caso ela de fato estivesse nas mãos de um criminoso do Primeiro Comando da Capital (PCC), para onde caminham as apurações, isso significa que as próprias forças de segurança estão vendendo armas para o crime organizado. A bala é de calibre 9 mm. O armamento foi brevemente permitido para civis, mas voltou a ser proibido neste ano.

Essa é a segunda descoberta sobre o caso - em um prazo de duas semanas - com força o bastante para mudar o rumo das investigações. No dia 20 de agosto, um laudo pericial feito em Erickson David da Silva, o Deivinho, apontado como principal suspeito pela morte do soldado, não apontou presença de pólvora em suas mãos.

O documento afirma que o exame pericial "não é conclusivo” porque “depende de inúmeros fatores”, como “colheita adequada do material”, “tipo de munição utilizado” e “lapso temporal entre o fato e a coleta para o exame".

Desde o início das investigações, Deivinho alega inocência e nega qualquer disparo de arma de fogo no dia do crime. Porém, ele está preso desde 29 de julho e enfrenta acusações de homicídio doloso.

O principal elemento apresentado pela Polícia Civil contra ele é o testemunho de um traficante confesso, Marco de Assis Silva, conhecido como Mazzaropi, que afirma que Deivinho (e não ele, o traficante, também suspeito) foi o autor do disparo fatal. Ambos estão presos cautelarmente, assim como Kauã Jazon da Silva, irmão de Deivinho.

Violação aos direitos humanos

A morte de Patrick gerou reação imediata da PM paulista, que culminou na morte de 24 pessoas na Baixada Santista desde julho. Em relatório divulgado nesta semana, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) afirmou que a Operação Escudo - nome oficial para a operação policial -, também conhecida como 'Chacina do Guarujá', violou os direitos humanos de pelo menos 11 pessoas.

Testemunhas relataram casos de execução, pessoas de outras regiões sendo levadas para serem mortas onde ocorria a operação, invasão de casas, omissão de socorro médico, ausência de câmeras ou identificação nas fardas, morte de moradores de rua, entre outros (veja os onze 11 relatos abaixo).

A entidade exige uma explicação do governo Tarcísio em até 20 dias sobre a não utilização de câmeras corporais por policiais durante a operação. O órgão também pede que o governo paulista ordene o fim da operação e apresente, em até 20 dias, esclarecimentos sobre as execuções realizadas durante o período.

Com GloboNews e Revista Fórum