BRASIL
Caso Guarujá: perícia não consegue provar se acusado realmente matou soldado da Rota
Por Gabriel Mansur
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Publicado em 20/08/2023 às 20:30
Alterado em 20/08/2023 às 20:32
Ericksn David da Silva, o Deivinho, e o PM da Rota Patrick Reis Fotos: Reprodução/Twitter e Divulgação/PM-SP
Erickson David da Silva, o Deivinho, acusado de atirar e matar o soldado Patrick Reis, da Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (ROTA), em 27 de julho, no Guarujá, litoral de São Paulo, pode não ser o verdadeiro autor do disparo. É o que mostra laudo residuográfico realizado pela Polícia Científica nas mãos do acusado.
Peritos da Polícia Civil de São Paulo realizaram o teste nas mãos de Deivinho a fim de detectar possível presença de resíduos químicos provenientes de disparo recente de arma de fogo, e o exame pericial teve resultado negativo. Significa que o homem acusado pela polícia e Ministério Público de ter matado o soldado da Polícia Militar com um tiro de pistola não teria efetuado qualquer disparo com arma de fogo em um período àquele em que foi realizado o exame.
Cabe ressaltar que a própria Polícia Científica, ao apresentar o laudo pericial, observa que o teste não é conclusivo. A íntegra do laudo, obtido pela Revista Fórum, está disponível ao fim da reportagem.
“Aplicando-se as técnicas adequadas e padronizadas, foi realizada a referida colheita dos materiais de ambas as mãos Sr. ERICKSON DAVID DA SILVA, SILVA, para em seguida, já acondicionados, ser realizado o exame de RESIDUOGRAFIA METÁLICA (cátion chumbo), pelo método de FIEGL-SUTTER.
No último dia 8, data em que foi realizado o exame residuográfico, a juíza Denise Gomes Bezerra Mota, da 1ª Vara Criminal do Foro do Guarujá (SP), acatou a denúncia do Ministério Público e tornou Deivinho e outros três suspeitos réus pelo homicídio do soldado Patrick.
Desde o início das investigações, Deivinho alega inocência e nega qualquer disparo de arma de fogo no dia do crime. Porém, ele está preso desde 29 de julho como principal suspeito e enfrenta acusações de homicídio doloso.
O principal elemento apresentado pela Polícia Civil é o testemunho de um traficante confesso, Marco de Assis Silva, conhecido como Mazzaropi, que afirma que Deivinho (e não ele, o traficante, também suspeito) foi o autor do disparo fatal. Ambos estão presos cautelarmente, assim como Kauã Jazon da Silva, irmão de Deivinho.
O assassinato do militar provocou a operação da PM paulista, comandada por Tarcísio de Freitas (Republicanos), resultando em pelo menos 16 mortes em duas comunidades de Guarujá e Santos.
O exame
Um cartucho de munição é composto por uma cápsula de metal (geralmente de latão, uma liga de cobre e zinco) com material propelente e uma mistura iniciadora (a "espoleta"), tendo o projétil na ponta. No disparo, a combustão do propelente produz o gás que impulsiona a "bala" em direção ao alvo.
Nesse processo rápido e intenso, outras substâncias também são expelidas do cano, como resíduos sólidos do projétil e da detonação da "pólvora", além de gases como monóxido e dióxido de carbono, e óxidos de nitrogênio (nitratos e nitritos). Esses resíduos se dispersam no ambiente, mas normalmente se acumulam mais próximos - nas mãos do atirador e em suas roupas.
Leia a íntegra do laudo residuográfico apresentado pela Polícia Científica.