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Símbolo cultural português, bacalhau movimenta economia e vai ganhar museu em Lisboa

Francisco Anzola/Sputnik Brasil -
Praça do Comércio de Lisboa
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A prefeitura de Lisboa anunciou a construção de um equipamento cultural, que deve agradar os portugueses e turistas. O Bacalhau Story Centre vai ser instalado no Terreiro do Paço, também conhecido como Praça do Comércio, uma das zonas mais emblemáticas da cidade.

Macaque in the trees
Praça do Comércio de Lisboa (Foto: Francisco Anzola/Sputnik Brasil)

O museu vai ser um centro interpretativo com a história do peixe e da ligação com Portugal. Será instalado na torre nascente do Terreiro do Paço, na ponta esquerda de quem olha para o rio Tejo. De acordo com o Turismo de Lisboa, órgão municipal responsável pelo projeto, o Bacalhau Story Centre será "uma homenagem a um símbolo da gastronomia, da cultura e da história de um país que há muito pensa global", diz em nota à agência Sputnik Brasil.

Ainda não há muitos detalhes sobre o acervo do museu, mas a prefeitura garante que "será um espaço para lembrar as gerações de marinheiros e pescadores, além de explicar a maneira de ser de um povo sempre pronto a oferecer o que tem e ir até ao fim do mundo para trazer o que lhe falta".

Dos mares do norte

História para contar, o país tem de sobra. A ligação dos portugueses com o bacalhau remonta ao século XIV, quando Dom Fernando I, então rei, fez um acordo com o rei da Dinamarca para pescar nos mares do norte da Europa, tudo por motivos religiosos.

Na época medieval havia 132 dias em que a Igreja obrigava à abstinência da carne. E como não havia congelamento, nem conservação, era preciso que o peixe pudesse ser conservado, e o sal era um grande conservante. Isso vem nos dizer o porquê de a gente no Natal comer bacalhau. Na época, a semana que antecedia o Natal era de abstinência de carnes", conta o gastrônomo e pesquisador histórico Virgílio Gomes.

Com o passar dos séculos, o consumo continuou se espalhando pelo país. "O bacalhau começa por se instalar por uma necessidade de termos um peixe que se conserva longe da costa e durante o inverno", explica Virgílio.

Mesmo com a modernidade, os hábitos pesqueiros são mantidos até hoje. "Ele vem dos mares do norte e é sempre preparado a bordo. Ele é limpo, cortado, espalmado e salgado a bordo, depois se faz a cura final aqui em Portugal", diz o gastrônomo.

Impacto econômico

Portugal é considerado o maior consumidor de bacalhau salgado do mundo: são 62 mil toneladas por ano, de acordo com a Associação dos Industriais do Bacalhau (AIB).

A principal parcela do peixe continua sendo pescada longe da costa portuguesa. "Há três grandes países fornecedores. A maior região é no mar de Barents, no Atlântico norte, quase junto ao círculo polar Ártico. Esse recurso é gerido por dois países, a Rússia e a Noruega. A seguir vem a Islândia, que também tem um estoque importante e tradição neste peixe", explica o secretário-geral da AIB, Paulo Mónica.

Esse consumo interno de Portugal movimenta 420 milhões de euros por ano (mais de um bilhão e 900 milhões de reais), mas a indústria também alimenta o mercado estrangeiro. Cerca de 25% de toda a produção portuguesa de bacalhau é exportada. "Nesse volume, o Brasil tem um peso muito importante, mais de um terço das exportações são para lá", diz Paulo Mónica. E não é apenas o famoso bacalhau salgado que viaja mundo afora. "As postas congeladas, já prontas a consumir, têm vindo a ganhar peso relativamente ao bacalhau seco", afirma o representante da AIB.

Tradição e futuro

Mais de um terço das vendas de todo o ano em Portugal são feitas justamente no período natalino. A tradição de comer bacalhau, para o gastrônomo Virgílio Gomes, também é mérito da versatilidade do peixe. "O bacalhau é um produto tão flexível que se pode preparar de qualquer maneira", diz.

No entanto, Virgílio chama a atenção para certos exageros da fama internacional. "Não há 500 receitas de bacalhau, é uma mentira. Há alguns anos, consegui identificar que estão na prática dos portugueses por volta de 30 receitas, que se preparam com facilidade", diz o gastrônomo.

Na ponta da língua de quase todo turista estão os nomes dos pratos mais conhecidos. Bacalhau a Brás, a Gomes de Sá, a Lagareiro, com Natas, com Broa. São eles que enchem as bocas e reforçam as lembranças positivas que os estrangeiros levam para casa.

A expectativa da prefeitura é a de que o Bacalhau Story Centre faça parte da consolidação da imagem de Lisboa como uma cidade que preserva o passado e olha para o futuro. O projeto está integrado a um plano maior, de reabilitação para toda a área ribeirinha central do rio Tejo, orçado em € 27 milhões (R$ 122 milhões).

"O Novo Cais de Lisboa devolve o rio aos lisboetas e disponibiliza-o, em todo o seu esplendor, aos visitantes nacionais e estrangeiros que acolhemos todos os anos. Esta obra é, sem dúvida, um passo importante na valorização da cidade e na capacidade de inovação e diferenciação da sua oferta", diz o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, em comunicado sobre o projeto.

As obras começaram pela área das docas. O prazo da prefeitura para conclusão de todo o projeto é 2020, mas não há data definida. (Sputnik Brasil)