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Dependência do SUS cresce na pandemia e 'cultura de cortes' pode piorar situação, diz médico

Rodrigo Nunes/Divulgação/Ministério da Saúde -
Unidade de Pronto Atendimento do Sistema Único de Saúde, em Brasília
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Unidade de Pronto Atendimento do Sistema Único de Saúde, em Brasília (Foto: Rodrigo Nunes/Divulgação/Ministério da Saúde)

Segundo pesquisa publicada pelo IBGE no início de setembro, cerca de 150 milhões de brasileiros dependem do SUS para tratamento médico. Apenas 26% da população seria cliente de planos médicos de saúde. Esse número é ainda menor nas regiões Norte e Nordeste, sendo 14,7% e 16,6%, respectivamente.

Tal situação pode ficar ainda mais desigual devido aos efeitos da pandemia do novo coronavírus, que desencadeou uma crise sanitária e agravou a situação econômica no Brasil, que já vinha restringindo investimento público mesmo em áreas como a saúde.

Para o médico Sylvio Provenzano, especialista em Saúde Pública, ex-presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj), a falta de investimento tem reduzido anualmente a capacidade do SUS e a pandemia, de fato, agravou a situação do atendimento no país.

"As filas, que já eram imensas, estão infinitas. As pessoas aguardam com a paciência que só o brasileiro aprende a ter desde pequenininho para esperar sua vez. E realmente, o atendimento a 150 milhões de pessoas no sistema público é algo quase que impensável. E o Brasil tem um sistema 'mix', ou seja, mistura o público e o privado. Só que o privado perdeu muita gente, fruto do desemprego que aconteceu devido ao isolamento que é necessário para conter a expansão da Covid-19", aponta o médico em entrevista à agência Sputnik Brasil.

Provenzano, que é chefe da Clínica Médica do Hospital dos Servidores do Estado, no Rio de Janeiro, afirma que, mesmo que as verbas aumentassem, não acredita que hoje o SUS seria capaz de atender todas as pessoas.

"Por mais verbas que o governo federal destinasse à saúde pública, eu acredito que ainda assim seria insuficiente. E hoje, o governo tem outras preocupações como tentar amortizar o impacto econômico na população, principalmente aqueles de baixa renda. Existe uma série de obrigações que o governo tem que cumprir", comenta.

O médico também critica o que identifica como uma cultura de austeridade econômica no Brasil que privilegia cortes na saúde e na educação.

"E nós vemos, infelizmente, com muita tristeza, que aqui no Brasil existe uma cultura por parte dos governantes que, quando temos que reduzir [investimentos] a primeira coisa que vem na cabeça é a educação – o que na minha cabeça é um erro crasso – e logo em segundo lugar a saúde. Ou seja, um erro agravando o outro", avalia.

O médico também aproveita para reforçar a necessidade de que continue a vigilância por parte da população para conter a propagação da Covid-19 no Brasil, lavando as mãos, evitando aglomerações e utilizando máscaras. Segundo os dados mais recentes do consórcio de veículos de imprensa, que compila informações das secretarias estaduais de saúde, o país tem atualmente mais de 132 mil mortos por Covid-19 e cerca de 4,3 milhões de casos confirmados da doença.

"Cabe a nós tomarmos medidas para que não sejamos os próximos a engrossar essa lista de pessoas que precisam do SUS porque pegamos a Covid-19. Então, que a gente tome os cuidados, porque a responsabilidade é de cada um de nós, é individual. É para conosco, para com nossos familiares e amigos, e para com a sociedade de modo geral. Cuidem-se", conclui.(Com agência Sputnik Brasil)