Há um movimento importante no setor de estilo e imagem masculina. Driblando as tradicionais resistências às mudanças sugeridas pelos criadores, os homens acabam se rendendo a sugestões na maneira de vestir ou no aspecto físico.
Conceitos de Paris
A semana da moda masculina, de 09 a 13 de julho, reuniu designers e marcas em apresentações on line. Uma bela saída para o risco dos desfiles tradicionais, com plateia, camarim lotado de equipes e elenco de modelos, exemplo sofisticado da tão temida aglomeração. Mas a versão digital, com agenda de 67 participantes, até a tarde de sexta-feira, ficou abaixo do resultado dos três dias de Alta Costura. Muitos vídeos são conceituais demais, como Dries Van Noten, que apenas mostrou um modelo imitando os gestos de um percussionista, de uma música por Larder Gyselink. Ou a marca JW Anderson, que fez um teaser de um Show in a Box, projeto a ser desenvolvido por fotógrafos, exibido mais tarde. O sonho de chegar a Paris, saindo do ateliê em Los Angeles, foi a história de Mike Amiri, que normalmente tem uma vibe rock n´roll e veste famosos como Kyle Kuzma, do basquete pelo Los Angeles Lakers e Paul Pogba, da seleção de futebol francesa e do Manchester United, além de uma turma de roqueiros. História interessante, coleção nenhuma.
Um vídeo conceitual mais cativante foi a conversa de Kris Van Assche com o escultor Brian Rochefort.
Entre os que mostraram algum tipo de lançamento, Yohji Yamamoto apresentou modelos, em ambiente escuro, realçando os casacos vermelhos com botões em forma de olhos, ternos largos e com textos impressos nas costas. Pouco convincente para um público sem ambições de visual contestador. Mas Rick Owens,normalmente conhecido por suas apresentações performáticas, foi um dos que melhor aproveitaram a versão online: ele e apenas um modelo, em um estudio dentro do showroom, ao som de uma música chata, mostraram o espírito novo das coleções. De longe, sem revelar detalhes das roupas, viam-se as mudanças de looks, o designer arrumando os acessórios e dando os toques finais e o próprio fotografando o modelo no fundo infinito branco. Simples, informativo e deu uma sensação de privilégio para quem gosta de acompanhar esta etapa de um lançamento.
E houve diversão, assinada por Virgil Abloh para a Louis Vuitton: personagens de animes, em forma de um leão, um sapo, um dragão, com alguns símbolos da marca nas roupas, saem do depósito da fábrica fora de Paris e correm da Torre Eiffel até o Arco do Triunfo.
O executivo brasileiro
Durante esta semana a Montblanc patrocinou uma conversa pelo zoom com Alexandre Taleb, brasileiro consultor internacional de moda masculina. Com o tema Imagem e Estilo Masculino, Taleb explicou que seu trabalho foca no mercado corporativo, isto é a roupa de trabalho, principalmente dos executivos. “Você é a média das cinco pessoas com quem mais convive. Deve ter a capacidade de persuasão para convencer a que acreditem em um produto ou uma fala. Esta imagem deve ser projetada com clareza: a primeira impressão, muito importante, dura um segundo. O ideal é vestir a roupa certa no ambiente certo”.
Para Taleb, as cores escuras, a ausência de estampas e o nível de pele à mostra indicam o grau de formalidade do look. O consultor estabelece um método que indica o acerto na vestimenta: são os 12 pontos: paletó, calça, camisa, meia, sapato, cinto, relógio, gravata, malha. Cada item vale um ponto. O ideal seria atingir 9 pontos - passou disso, volta pra casa e se arruma direito, para convencer como um cara sério, competente, candidato a executivo de uma grande empresa.
Alexandre Taleb aponta uma novidade, o lenço Ascot, que começa a conquistar os jovens em ocasiões especiais, como um jantar, um concerto. E contou um fato do seu trabalho: Seu cliente João Apollinario, fundador da Polishop, passou a vestir terno nas entrevistas virtuais com os clientes. “Aprendi que devia ter a aparência do dia a dia fora do contato online”.