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Homens mais vulneráveis nas coleções de Paris

Reuters/Charles Platiau -
Desfile Balmain Outono Inverno Masculino 2020/2021 em Paris
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Mais uma surpresa no sistema da moda: os desfiles das coleções masculinas, ao contrário de estarem em vias de acabar, foram imponentes, grandiosos e com propostas inovadoras. A começar pelos conceitos que refletem novas situações do mundo. Os designers trocam a inspiração na roupa de rua por olhares que variam de uma volta às tradições orientais, à alfaiataria e até a admitir que os homens estão mais vulneráveis neste mundo complicado.

Há uma aproximação evidente com a moda dita feminina nos looks. Muitas vezes, os acessórios são mais importantes do que as próprias roupas. Há bolsas grandes, como em Balmain, sapatos tradicionais revistos de forma moderna, como nos oxfords, derbies e loafers da JW Weston, modernizados por Olivier Saillard. Ou a parceria entre Valentino e o tênis Onitsuka Tiger.E jóias, muitas jóias, brilhando sobre os suéteres ou com ternos clássicos.

Mas em matéria de brilho, ninguém superou Neymar, que ofuscou na fila A com a jaqueta espelhada que vale R$ 60 mil, calça de alfaiataria e botas pretas, no desfile da grife Balmain.

Nômades e arlequins

Olivier Rousteing criou uma grande coleção para a Balmain, em um cenário que remetia a desertos, com escadaria e fundos em tons de areia. Etíopes, povos da Somália e franceses foram representados em calças largas, estampas de lenços, sandálias de solado bolha com meias, e os losangos do padrão Argyl em preto e branco foram misturados com bom resultado.

Macaque in the trees
Desfile Outono Inverno Masculino Balmain 2020 2021 em Paris (Foto: Reuters/Charles Platiau )

Este padrão de losangos apareceu também na coleção de Rei Kawakubo. A japonesa mais criativa do circuito fashion usou losangos lembrando do arlequim, personagem esperto e romântico, como uma metáfora de proteção contra este mundo complicado, segundo comentou com Gianluca Cantaro, do site NowFashion.

Alfaiataria e roupa de trabalho

Calças cargo, macacões, uniformes militares. Parece já visto? Pois agora os designers sugerem estes temas com perfil mais frágil, mais empatia e sensibilidade. Há paletós com babados na Louis Vuitton, macacões desestruturados e transparentes na Botter, da dupla Lisi Herrebrugh e Rushemy Botter.

Voltando à Louis Vuitton, o diretor de criação, o americano Virgil Abloh, virou um fenômeno de repercussão que nem a própria Vuitton, com seus quase 170 anos de experiência, consegue controlar. Interessante lembrar que o também americano Michael Kors, quando assinava as coleções da Céline nos anos 1980, era rejeitado pela imprensa francesa justamente porque "americano não sabia fazer moda para as parisienses", comentavam na plateia. E eram belas coleções.

Para Abloh, a alfaiataria é um símbolo de convenção a ser renovada, como um desafio para convencer os jovens a adotar. Mesmo o cenário, inspirado em Magritte, foi a mensagem de valorizar a arte fora das paredes urbanas.

Joias e poesia

Em Rochas, Federico Curradi mostrou construções leves, casacos e tricôs complementados por botas _ para quem se julga um misto de gentleman e poeta maldito, um artista romântico. Já Clare Waight Keller transformou a Givenchy em estilo rico e colorido, cheio de jóias, inspirada na exposição sobre os marajás nos anos 1930, no Museu das Artes Decorativas, no Louvre. O belga Dries Van Noten surpreendeu usando referências do Studio 54, em Nova York e do Berghain, templo techno de Berlim. Imaginem estolas de pele, calças de veludo e de couro, camisas de babados e botas de plataforma. Um look de rave: shorts de seda, suéter gigante e botas de ciclista.

Mais joias em Dior, sobre roupas de volumes, acessórios e as joias de Yoon Ahn na grande tenda montada na Place de la Concorde. Junia Watanabe também encheu de colares de ouro os suéteres rulês e os macacões de mecânico.

Divertidos e figurinos

Tinha que ter Star Wars: Raf Simons assistiu ao filme Ascensão Skywalker e desfilou rulês metalizadas, capas de plástico transparente e...casacos de Chewbacca!

Jun Takahashi aproveitou a posse do Imperador Naruhito no ano passado e fez quimonos, armaduras medievais lembrando os filmes de Akira Kurosawa e o Japão medieval.

Mas divertido mesmo foi o desfile da Vetements, de ombros largos até nas camisetas, em ambiente escuro. O motivo da escuridão: enganar a plateia, vestindo e maquilando modelos como Kate Moss, Angelina Jolie, Naomi Campbell, Sharon Stone. No final, as luzes acenderam e revelaram a brincadeira.

Macaque in the trees
Desfile Outono Inverno Masculino Balmain 2020 2021 em Paris (Foto: Reuters/Charles Platiau )
Macaque in the trees
Neymar estava sentado na primeira fila no desfile Outono Inverno Masculino Balmain 2020 2021 em Paris (Foto: Reuters/Charles Platiau )

Reuters/Charles Platiau - Desfile Outono Inverno Masculino Balmain 2020 2021 em Paris
Reuters/Charles Platiau - Desfile Outono Inverno Masculino Balmain 2020 2021 em Paris
Reuters/Charles Platiau - Neymar estava sentado na primeira fila no desfile Outono Inverno Masculino Balmain 2020 2021 em Paris