Óculos figuram entre os acessórios favoritos do consumo de moda brasileiro. Tanto a chegada do verão (ainda que o sol forte esteja demorando a justificar o uso de lentes escuras) como a temporada de presentes de Natal são argumentos para horas diante dos espelhos das óticas e lojas de departamentos.
O melhor desta busca é constatar que temos concorrentes nacionais para as marcas internacionais mais cobiçadas como a Prada, queridinha das celebridades e youtubers, Tom Ford, do americano sofisticado, a Moscot, famosa por ser escolha do Woody Allen e Johnny Depp. Sem falar no marketing da Ray-Ban.
Made in Brazil
Como as marcas brasileiras conseguem se destacar neste universo de indústrias poderosas? Por motivo simples e atual: as histórias envolvendo a produção baseada na sustentabilidade, fator mais importante do que os preços que chegam a ser um décimo das internacionais.
Uma pioneira neste setor é a Allwoods, nascida da vontade de um pai professor de História e ex-funcionário de ótica e uma filha criativa, com muito estilo. Mariana Lutfi trocou o emprego na Kia Motors e se associou ao pai, Jorge Lutfi, há cinco anos, em Porto Alegre, para lançar óculos de madeiras certificadas e reflorestadas. "Foi trabalho de formiguinha, ninguém sabia como lidar com o e-commerce, a produção era toda nossa. O logo, que parece uma folha canadense, na verdade é do plátano, árvore da região serrana do Rio Grande do Sul", contou Mariana no espaço na Babilônia Feira Hype. Os óculos da Allwood são de imbuia, pau ferro, cabreúva, nogueira, marfim e o bambu, fibra muito resistente. Em lugar dos estojos clássicos, os produtos são embalados em caixinhas artesanais, feitas pela ONG Meninas da Marcenaria. Em uma cesta no canto do espaço vejo óculos de...resina! A explicação convence: "ampliamos o conceito para o upcycling. Usamos armações antigas e reciclamos, tirando por exemplo as hastes para juntar com as armações de madeira. Reaproveitamos e vendemos por preços ainda mais baixos (em torno dos R$ 90) do que os R$ 210 a R$ 390 da produção nova". Um destaque deste upcycling é a armação com a frente antiga de acetato e hastes de zebrano, madeira que parece mármore, modelo que leva de dois a três dias para ser montado.
Mais que madeira
A Zerezes nasceu em 2012, também chamando a atenção pelas armações de madeiras certificadas. Rapidamente abriu espaços de varejo, associados à Vert, marca de tênis franco-brasileiros de conceito também sustentável, do solado ao cabedal. Só que os sócios Luiz Eduardo Rocha, Henrique Meyrelles, Hugo Galindo e Rodrigo Latini já inventam outras estruturas. Primeiro, foi o acetato revisado, colorido. Agora, a surpresa muito atual: óculos feitos de canudinhos reciclados!
O trabalho artesanal valoriza as armações exclusivas assinadas por Gustavo Gonçalves: os modelos pintados à mão encantam as celebridades.
E a tecnologia também participa do setor no Brasil. A Yoface produz óculos de impressão 3D. A idéia é de Ivan Cavilha, que reaproveita os excedentes do pó de nylon. As coleções cápsula da designer Jéssica Patricio seguem o estilo minimalista e agênero.
O poder empresarial da Chilli Beans, fundada por Caito Maia em 1997 impressiona. É uma rede brasileira, que surpreende pelo sucesso de vendas em quiosques, shoppings e lojas de rua. "Só no aeroporto de Guarulhos temos três quiosques, todos vendendo muito bem", comentou Caito durante uma edição de semana de moda de São Paulo.
Poder empresarial, canudinhos, bambus, impressoras: há muitas histórias nos óculos brasileiros. Como afirma um dos produtores, "Tanto faz gostar de óculos redondo, quadrado ou gatinho. O que importa mesmo é consumir boas práticas".
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