SAÚDE

A abordagem multidisciplinar na cirurgia plástica pós-bariátrica

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Por DR. PABLO TRINDADE

Publicado em 07/05/2023 às 10:01

Alterado em 07/05/2023 às 10:11

Dr. Pablo Trindade Acervo JB

Nos últimos 20 anos, a obesidade vem desafiando a saúde pública mundial. E sabemos quais são os resultados, frutos das morbidades associadas não só em suas repercussões clínicas, mas como seu custo social e econômico. No entrelace dessa Epidemia global, não há mais discussão sobre os benefícios da Cirurgia Bariátrica e Metabólica, como tratamento mais eficaz da obesidade (fonte: SBCBM – Sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica).

Com isso, vemos, nos últimos anos, um aumento exponencial do contingente de pacientes, ditos “ex-obesos”, que se apresentam nos consultórios de cirurgia plástica, em razão das “sobras de pele” resultantes do pós-bariátrico. Tal fato decorre do grande emagrecimento causado, entre outros fatores, pela limitação funcional (não poder se exercitar, por exemplo), prejudicando a sua relação interpessoal e o convívio desse paciente com a sociedade. Seria como se, para resolver a doença obesidade, o
paciente tivesse que conviver com uma sequela: a flacidez de pele resultante, que leva à marginalização do ex-obeso dentro da sociedade. A necessidade de olharmos para esse paciente com mais atenção é notória.

Nós, cirurgiões plásticos, tivemos que nos adaptar a esse novo grupo de pacientes. Seja utilizando técnicas cirúrgicas tradicionais, inovadoras, ou mesmo fazendo uso das mais antigas, por vezes esquecidas. Limitar-se ao uso das mesmas técnicas, utilizadas em nossas cirurgias estéticas, é um erro. Um caminho fadado ao insucesso. Nosso “arsenal” de técnicas cirúrgicas deve ser ampliado e reciclado. Dentre as deformidades, podemos destacar, principalmente, as regiões abdominal, mamária, da face, das coxas e dos braços, que são acometidos por grandes excessos de pele, fruto do grande emagrecimento.

O paciente que foi submetido à cirurgia bariátrica se depara não só com os excessos de pele, resultantes do emagrecimento, mas com sequelas nutricionais graves, adquiridas pelo procedimento, além dos componentes psicológicos, que o acompanham desde a Obesidade. Fatores clínicos que são essenciais no sucesso da realização de uma cirurgia plástica. Ao controlarmos esses distúrbios, buscamos como
resultado cirurgias seguras, com menores taxas de complicações, maiores graus de satisfação e, principalmente, auxiliamos no processo do tratamento crônico da obesidade.

Desta forma, devemos tratar esse paciente integralmente. Tratarmos apenas o contorno corporal não é conveniente. Uma equipe multidisciplinar de apoio é tão importante como o procedimento em si. Temos a responsabilidade, juntamente com o Cirurgião Bariátrico, a nutricionista, o psicólogo e demais profissionais envolvidos, de continuarmos a tratar a doença OBESIDADE. A manutenção do resultado do
procedimento da cirurgia plástica também depende disso. O Cirurgião Plástico moderno deve se adaptar a esse novo cenário dentro da cirurgia plástica reparadora.

Um novo modelo de atendimento deve ser criado para receber essa demanda. Os cirurgiões plásticos interessados em absorver esse contingente devem receber treinamento específico e contar com suporte multidisciplinar em sua clínica privada.

Não podemos tratar de casos clínicos tão complexos da mesma forma que tratamos nossos pacientes da cirurgia estética ou o resultado será o aumento do número de complicações e insatisfações em nossas salas de espera. Faz-se necessário um olhar integral para esse tipo de paciente.

Um centro de excelência, criado em 2002 pela Universidade de Pittsburg, mostrou excelentes resultados, unindo num mesmo núcleo Cirurgiões Bariátricos, Cirurgiões Plásticos Reparadores e Equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, nutricionistas, profissionais de educação física e fisioterapeutas. Fato é que as equipes de Cirurgia Bariátrica possuem suas equipes de atendimento integral. O tratamento da obesidade não termina no consultório dos Cirurgiões Bariátricos, mas sim se estendem ao do Cirurgião Plástico. Acredito que num futuro próximo, o modelo de um serviço
único, com todas as especialidades, deverá ser proposto, tanto no âmbito privado como no próprio SUS. Até lá, lidando há quase 10 anos com esse tipo de paciente, creio que o Cirurgião Plástico Moderno deve estar preparado para absorver essa crescente demanda.

Em 2023, lançaremos, na Barra da Tijuca, o primeiro serviço privado voltado única e exclusivamente para o tratamento integral do paciente ex-obeso. O NIRC, ou “Núcleo Integrado de Readequação Corporal”, que permitirá a reinserção desse paciente à sociedade, educando-o acima de tudo e prevenindo a recidiva da doença.

Permanentemente, a possibilidade da flacidez corporal, resultante do emagrecimento, assombra o paciente obeso, durante todo o processo. Na grande maioria das vezes, o paciente está disposto a assumir os riscos, mas a incerteza da extensão das cicatrizes, da qualidade dos resultados, como a dificuldade de acesso ao tratamento, gera no paciente a ansiedade. Uma frustração quase que antecipada. Uma “sensação de vazio”, relatada por alguns pacientes, desde a cirurgia bariátrica, até,
finalmente, o acesso à cirurgia plástica reparadora, geralmente 18 meses depois.

Da mesma forma, outro fator preponderante é a inverdade, quando muitos pacientes acreditam que, ao realizar a cirurgia plástica reparadora, livraram-se totalmente da doença obesidade. Como se fosse o fim do processo, que está finalmente “curado”. Geralmente, chegam ao consultório do cirurgião plástico já sem o acompanhamento da equipe multidisciplinar da cirurgia bariátrica e com a expectativa de realizar a última etapa desse processo longo e demorado. Sabemos muito bem que a obesidade é uma doença crônica e com altas taxas de recidiva. Estudos mostram que o paciente submetido à cirurgia plástica reparadora pós-bariátrica apresenta menores taxas de recidiva da obesidade a longo prazo.

O NIRC, “Núcleo Integrado de Readequação Corporal”, foi criado para “preencher esse vazio”. Ou seja, preparar o paciente para a tão sonhada cirurgia plástica reparadora, substituindo a ansiedade e a frustração antecipadas em informação médica de qualidade e apoio. Dar continuidade ao trabalho da cirurgia bariátrica, preparando o paciente para lidar como essa nova fase e, principalmente, prepará-lo para a fase de manutenção do resultado pós-cirúrgico. E não só isso, mas criar um centro especializado, que ofereça liderança, inovação, pesquisa e treinamento contínuo, contando com equipe multidisciplinar na atenção e cuidado universal desse paciente em questão. Um modelo de cuidado único e pioneiro, que
possa ser reproduzido e ensinado, estimulando a produção científica e o ensino continuado aos jovens cirurgiões plásticos, interessados em se especializar nesse vasto campo de atuação.

 

Sobre o Autor: Dr. Pablo Trindade, graduado em Medicina pela tradicional Universidade Gama Filho, no Rio de Janeiro. Formou-se em Cirurgia Geral e Videolaparoscopia, após três anos de Residência Médica no Hospital Municipal Miguel Couto, maior Hospital de Trauma da Zona Sul do Rio de Janeiro.

Interagindo sua paixão pela Cirurgia com a facilidade que sempre teve com atividades manuais, escolheu a Cirurgia Plástica como Especialização. Após obter sucesso em um dos mais concorridos processos seletivos em Cirurgia Plástica do mundo, ingressou na Escola do Professor Ivo Pitanguy, concluindo em três anos a Pós-Graduação em Cirurgia Plástica.

Perfazendo doze anos de formação Acadêmica, prestou prova para Membro da concorrida e respeitada Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, obtendo o Título de Especialista em 2014.

Atualmente, mantém suas atividades como profissional em seu Consultório em Ipanema para cirurgias estéticas e fundou, na Barra da Tijuca, o primeiro centro privado de Cirurgia Plástica Reparadora para tratamento de pacientes ex-obesos submetidos à Cirurgia Bariátria, o NIRC, procurando aprimorar cada vez mais seu maior e mais profundo objetivo: o bem estar de seu paciente.

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