O homem é o maior foco de interesses e de estudo para o próprio homem. Nesse processo contínuo, ele é objeto e sujeito simultaneamente.
Vida é movimento, é alternância de erros e acertos, é uma eterna troca entre aprendizes. Somos todos alunos e professores em inúmeras passagens de nossa existência. São raros aqueles que não tenham sempre algo a aprender a mais e, em circunstâncias opostas, aqueles que não tenham algo a ensinar.
É sempre essa dualidade que persiste. Por vezes, são os deuses do bem que nos habitam, aqueles que fazem valer a sua voz e a sua atuação. Em outras vezes, por oposição, são os diabos que ocupam nossos corações aqueles que se fazem valer.
Os recentes acontecimentos ocorridos na Tailândia, quando 12 garotos e o seu treinador de futebol foram encurralados nas profundezas de uma caverna alagada no norte do país prenderam a atenção de todo o mundo. Houve muita apreensão, muitas rezas, muito acompanhamento no desenrolar dessa possível tragédia nos mais diversos rincões da Terra. Corações aflitos bateram em uníssono em uma torcida ansiosa por um desfecho feliz. Ao mesmo tempo, ocorria a Copa do Mundo, que também unia corações em grandes expectativas com o seu desenrolar.
Não resta dúvida de que rolou muita emoção, muita expectativa em milhares de pessoas ligadas a uma expectativa de que os meninos e o seu treinador seriam salvos, a duras penas, mas seriam. O lado do bem, de empatia, do zelo e da solidariedade com os familiares aflitos imperou.
Aliás, o grande dramaturgo Nelson Rodrigues dizia a respeito dos nossos irmãos de Minas Gerais: “O mineiro só é solidário no câncer!”.
Tal asserção é amarga, não resta dúvida, mas pelo menos, há uma manifestação de solidariedade.
Contrariamente, esses mesmos homens solidários diante da tragédia na Tailândia, seriam capazes de bombardear, ou mandar mísseis sobre outras regiões conflagradas. Amparar, hoje, tentar aniquilá-los amanhã. Deus hoje, diabo amanhã!
Um ser humano mais equilibrado é aquele que se reconhece, admite e atua como um eterno aprendiz.
É óbvio que em alguns casos sofre-se desapontamentos, frustrações e até um certo desânimo diante dos erros que constantemente cometemos.
Mas não importa, mesmo porque como muitos psicanalistas explicam, as eventuais crises existenciais tão comuns ao gênero humano são excelentes oportunidades de crescimento e evolução, quando adequadamente metabolizadas. É próprio da natureza humana procurar em certa medida acertar quase sempre, e os erros, os fracassos, as dificuldades vivenciadas podem ser dolorosas e frustrantes.
Muitas vezes somos nós os piores algozes de nós mesmos, porque estabelecemos em nível muito elevado os nossos padrões de excelência a serem atingidos ou ultrapassados.
Talvez o alcance de grande porte do sucesso a ser perseguido esteja na nossa possível capacidade de recuperação, da nossa conscientização de sermos seres inacabados e no nosso contínuo esforço de realizar certas avaliações e tentativas de sempre prosseguir na busca de nossos ideais.
* Mestre em Educação pela UFRJ