“Viver sem conhecer o passado é andar no escuro”, alerta o protagonista do filme nacional, “Uma História de Amor e Fúria”, recém chegado aos cinemas, com direção e roteiro do premiado Luiz Bolognesi. O longa metragem de animação retrata o amor entre um herói imortal e Janaína. O cenário do filme, genuinamente brasileiro, não poderia ser outro: as várias fases da história do nosso país. No elenco, as vozes de Selton Mello, protagonista, além de Camila Pitanga e Rodrigo Santoro. O filme, que ficou seis anos em produção, é destinado ao público adulto, porém foi todo feito com uma linguagem em HQ.
Quatro episódios estruturam o filme: três do passado para entender o futuro (colonização, escravidão e Regime Militar) e um no futuro. Utilizando a mitologia indígena, traz um episódio em que o protagonista participa de um combate entre etnias indígenas, antes da chegada dos europeus. Muito feliz a abordagem, visto que a história do Brasil não começa apenas com a chegada dos portugueses. Salta no tempo para a Balaiada, em 1838, no Maranhão, indo aos anos 60 quando os militantes da esquerda combatiam a ditadura militar, instaurada em 1964, e que fará 50 anos em 2014.
No filme, os heróis são os verdadeiros combatentes: “meus heróis nunca viraram estátua. Morreram lutando contra quem virou”. No último episódio, o futurista, baseado no Rio de Janeiro de 2096, o filme sugere um futuro caótico e assustador para o Brasil. Fundamentalismo religioso evangélico, guerra pela água, milícias, entre outros conflitos envolvem esse cenário. Esse filme, que usa a estética próxima à das graphic novels, deve ser visto pela sua abordagem instigante para buscar uma reflexão sobre o Brasil, que foge da sua história oficial.
* Antônio Campos - advogado, conselheiro Federal da OAB, editor, escritor, membro da Academia Pernambucana de Letras e curador da Fliporto. [email protected]