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Pressão no cais: Valongo na mira da Unesco

Marcos Tristão -
O Cais do Valongo, que não conta com painéis sinalizando as descobertas no local
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Eleito patrimônio mundial em 2017 pela Unesco, o Cais do Valongo, na Região Portuária, remete a uma inominável crueldade com as pessoas escravizadas que chegaram da África ao Rio de Janeiro. Trata-se de um lugar que hoje existe para lembrar a barbárie dos tempos da escravidão. A cidade tem lidado mal com isso. A Unesco tem exigências para que o título de patrimônio mundial não seja somente um status vazio. Não vêm sendo cumpridas. Uma das maiores reclamações é quanto à falta de sinalização no Cais. Ali não há qualquer placa que explique por que aquele lugar histórico de embarque tornou-se um símbolo tão importante para o órgão internacional. Esse é apenas um dos motivos por que hoje será anunciado um comitê gestor.

Macaque in the trees
O Cais do Valongo, que não conta com painéis sinalizando as descobertas no local (Foto: Marcos Tristão)

Ex-presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade, o arquiteto Washington Fajardo aponta outra inadequação: o lixo do Hospital dos Servidores é coletado no cais. Quem olha o cais da perspectiva da Rua Camerino enxerga um muro depois do qual há um depósito do lixo produzido pela unidade de saúde. “O muro impede que o visitante de caminhar ao longo do cais. Há, assim, um problema ambiental e de uma total inadequação”, afirma Fajardo.

No dia da audiência, no mês passado, o arquiteto fez uma síntese do que chama de “muro da vergonha”. Para ele, como se trata de um hospital federal, os ministérios da Saúde e da Cultura, ao qual o Iphan é vinculado, devem resolver a situação em conjunto, fazendo um remanejamento do depósito para um outro lugar. O sítio arqueológico no meio dessa questão é um bem da União.

Macaque in the trees
O casario antigo mal conservado (Foto: Marcos Tristão)

Comitê gestor

As medidas do comitê gestor vão abarcar as do Plano de Gestão do Valongo, que foi feito logo após o Cais ter conquistado o título de patrimônio mundial. O Quilombo da Pedra do Sal está nesse contexto. Parte de seu casario está em ruínas. Outra exigência que ainda não saiu do papel foi o Centro de Interpretação sobre a história e valores ali preservados. A Unesco pede que ele tenha como sede o prédio Docas Pedro II, projetado pelo engenheiro negro André Rebouças no século 19. O prédio está ocupado pela ONG Ação da Cidadania Contra a Fome, que condiciona sua saída do prédio ao recebimento de uma indenização ou mesmo de um outro prédio público onde possa se instalar. O Ministério Público Federal está acompanhando a questão.

Outra exigência é um tratamento paisagístico do cais e de seu entorno. A continuação de pesquisas arqueológicas ali é outra exigência, assim como a criação de um projeto educativo que exponha a importância do lugar.

Marcos Tristão - O casario antigo mal conservado
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