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A minha, a sua, a dele, as nossas: confira a crítica da peça 'Nossas mulheres'

JB Impresso -
JB Impresso
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O mundo contemporâneo está desenhando, desafiando, revolucionando os tradicionais papéis de homem e mulher. Marido, mulher, pai, amigo, casamento são hoje uma nova composição na qual cada um tenta viver como quer, mas se vira mesmo é com o que tem. “Nossas mulheres, de Eric Assous, tunisiano que vive na França, ganhador dos mais importantes prêmios franceses, conta a história de três velhos amigos, homens de meia-idade, bem sucedidos, mas todos com problemas conjugais/afetivos, que não sabem como resolver.

“Nossas mulheres” é a tradicional tragicomédia francesa, construída pela sucessão de episódios dramáticos, mas que tem um final feliz. Além disso, a peça é perfeita com a estrutura de teatro clássico: unidade de lugar (um só cenário); unidade de tempo (a ação se passa em menos de 24 horas) e verossimilhança (pelo seu tom realista, quase que cotidiano). O que torna o texto interessante é que, se a forma é clássica, o seu desenvolvimento é muito próximo das linguagens midiáticas dos seriados. São três amigos – Max (Edwin Luisi) , Paulo (Ísio Ghelman)e Simão( Marcio Vito/Edmilson Barros), cada um tem a sua história, seu núcleo, as mulheres de suas relações que, apesar de ausentes, são coadjuvantes importantes dos diálogos e das ações.

Macaque in the trees
Divulgação

O trabalho de iluminação de Renato Machado é o elemento que determina que sejamos transportados para outras situações. O foco de luz é alternado em cada um dos atores , evidenciando os solilóquios que falam de como é a vida em casa, a história de seus casamentos, seus conflitos, a personalidade de cada mulher – Max/Magali, Paulo/Carine e Simão/Estela . A repetição do recurso deixa claro que a opção do autor foi de construir três personagens principais, pois é a trama de cada um e como elas se cruzam que chega ao principal assunto: como os relacionamentos atuais são diversos em suas formas, mas idênticos em seus impasses.

A direção de Andre Paes Leme faz ressaltar as boas características de cada ator, com desempenhos homogêneos, mas igualmente talentosos. Isio Ghelman é um médico bem-sucedido, desprovido de afeto, mas que explode em fúria quando acha que sua filha está envolvida em uma situação complicada. Edwin Luisi faz um Max certo de suas escolhas, enfático naquilo que diz desejar, o que torna as suas contradições , quando acontecem, um belo jogo de interpretação. Marcio é um Simão simples e um objetivo.

“Nossas mulheres” é um desembrulhar de humanidade. Max e Paulo aguardam Simão para o carteado de sexta. Falam de suas vidas, reclamam de coisas aparentemente sem importância como preferências musicais. Ri-se muito, o que é bom nesse momento. Os problemas afetivos são apenas mais uma das levezas desimportantes, até que... a chegada de Simão muda tudo. Obriga a que olhem passado, presente, futuro, pensem em seus limites. De diálogos superficiais, os monstros das contradições crescem. Isio , Edwin e Marcio, com competência e clareza, acompanham o que lhes é pedido. Os atores viram nossos espelhos, nos enxergamos e acontece o melhor efeito que o teatro nos traz.

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SERVIÇO

NOSSAS MULHERES

Teatro Ipanema (R. Prudente de Morais, 824 – Ipanema: Tel.: 2267-3750).

Sáb. , dom. e seg., às 20h

Ingressos a R$ 50

Classificação: Livre

Até 24/9

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*Especial para o JB. Professora do Depto. de Comunicação da PUC-Rio e doutora em Letras

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teatro