ASSINE
search button

Acusações de ministro causam "indignação", diz secretário. PM cita "irresponsabilidade inadmissível"

Torquato afirmou que "comandantes de batalhão são sócios do crime". PM divulgou nota de repúdio

Compartilhar

As pesadas críticas do ministro da Justiça, Torquato Jardim, à segurança pública do Rio de Janeiro repercutiram fortemente no governo do estado. O governador Luiz Fernando Pezão afirmou que o governo do estado e o comando da Polícia Militar não negociam com criminosos, e o secretário de Segurança, Roberto Sá, se disse "surpreso" e "indignado".

Por sua vez, a Polícia Militar divulgou uma nota de repúdio após as declarações do ministro, afirmando que elas são de uma "irresponsabilidade inadmissível".

Torquato afirmou, em entrevista ao Blog de Josias de Souza, no portal UOL, que  Pezão e Roberto Sá não têm nenhum controle sobre a Polícia Militar, e que os comandantes de batalhão "são sócios do crime organizado no Rio."

>> "Comandantes de batalhão são sócios do crime organizado no Rio", diz ministro da Justiça

Paralelamente, deputados que integram a Comissão de Segurança Pública da Alerj decidiram enviar representação à procuradora-geral da República, Raquel Dodge, para que seja aberta investigação sobre as declarações do ministro da Justiça. A deputada Martha Rocha afirmou que o ministro "não pode ser leviano a esse ponto". "Se ele tem tantos órgãos sob suas ordens, que providências tomou para impedir que essas coisas aconteçam?", questionou.

O secretário de Segurança Roberto Sá destacou que o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Wolney Dias, é de sua "total confiança", e que ele tem autonomia para escolher os nomes que comandam a instituição. 

"Fiquei surpreso e gostaria de manifestar minha indignação com relação a esta notícia atribuída ao ministro Torquato Jardim", disse Roberto Sá, acrescentando que não há qualquer interferência política nas nomeações na corporação.

"Talvez ninguém corte tanto na carne como nós, na atividade de correção feito na Corregedoria da PM", disse, acrescentando contudo que o país vive uma "crise moral". "As corporações não estão imunes, mas quando tomamos conhecimento, não há complacência", disse.

Roberto Sá prosseguiu: "Acusações como estas não contribuem para nada. Quero notícias concretas para poder punir. Comentários genéricos são injustos com os mais de 50 mil policiais militares do estado. Esta polícia, mesmo com o salário atrasado, sem a RAS, sem receber pelas metas, vem mantendo um nível de produtividade de 4 mil presos por mês. Estamos longe do ideal, mas tenho orgulho de chefiar uma polícia que não parou de trabalhar, e dá a vida pela sociedade."

O governo do Rio divulgou nota a respeito das declarações do ministro. Na nota, Pezão reforça que o governo do estado e o comando da Polícia Militar não negociam com criminosos.

Veja a nota do governador Luiz Fernando Pezão:

NOTA À IMPRENSA

O governador Luiz Fernando Pezão afirma que o governo do estado e o comando da Polícia Militar não negociam com criminosos, ressaltando que "o comandante da PM, coronel Wolney Dias, é um profissional íntegro". O governador destaca ainda que o ministro da Justiça, Torquato Jardim, nunca o procurou para  tratar do assunto abordado pelo ministro na entrevista concedida ao UOL. Pezão frisa também que as escolhas de comandos de batalhões e delegacias fluminenses são decisões técnicas e que jamais recebeu pedidos de deputados para tais cargos.

Veja a nota da Polícia Militar do Rio de Janeiro sobre as declarações do ministro:

REPÚDIO ÀS DECLARAÇÕES DO MINISTRO DA JUSTIÇA 

As declarações do Ministro da Justiça, Torquato Jardim, vinculando comandantes de batalhões da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro ao crime organizado, são de uma irresponsabilidade inadmissível e merecem o nosso mais veemente repúdio.

Ao generalizar acusações sem qualquer base comprobatória contra uma instituição bicentenária, as declarações do Ministro Jardim revelam, no mínimo, desrespeito e desprezo ao esforço descomunal empreendido por milhares de policiais militares que, não obstante a dificuldades de toda ordem, não têm medido esforços para defender a sociedade do nosso estado.

Vale lembrar que até a presente data, perdemos 113 companheiros de farda, vítimas de um quadro de violência formado por inúmeras variáveis e sobre o qual a Polícia Militar não pode ser responsabilizada.

Muito pelo contrário, no enfrentamento diário aos criminosos, somente este ano efetuamos mais de 20 mil prisões e apreendemos mais de cinco mil armas de fogo. A grande maioria dessas armas é fabricada em outros países. Fuzis com alto poder ofensivo e pistolas sofisticadas chegam às mãos de criminosos por uma articulação do tráfico internacional de armas, cuja repressão transcende a atuação das forças de segurança estaduais.

Em relação à morte do Coronel Luiz Gustavo Teixeira, citada também nas declarações do Ministro Jardim, cabe esclarecer que o oficial de conduta ilibada estava uniformizado, pois voltava de uma cerimônia de posse em outro batalhão da Corporação. E foi assassinado numa tentativa de assalto, como quase todos os policiais militares, que, ao se depararem com criminosos, não têm outra alternativa senão matar ou morrer. A banalização da vida, revelada nesse crime hediondo, é resultado também de um código penal anacrônico, cuja revisão também não é atribuição da esfera estadual.

Por fim, vale registrar ainda nossa repulsa a denúncias contra uma Corporação que não aceita e pune com todo rigor qualquer desvio de conduta em suas fileiras, como pode ser comprovado pelo trabalho da Corregedoria Interna da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro.