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Executivo da Match, Ray Whelan foi contratado pela CBF na gestão de Teixeira

Whelan preso na terça (7) já está em liberdade. Ele está ligado à Fofana na máfia dos ingressos

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O executivo inglês da Match Services, Ray Whelan, preso nesta segunda-feira (7/7) acusado de comandar uma quadrilha internacional de venda ilegal de ingressos e pacotes de luxo nas quatro últimas Copa do Mundo, já foi contratado pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para ajudar na preparação da candidatura do Brasil para receber o Mundial, na administração de Ricardo Teixeira. As informações foram publicadas nesta terça-feira (8) pelo Estadão. 

Sobre o caso:

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Segundo a reportagem, Whelan trabalhou no Japão e na Coreia do Sul, em 2002, na candidatura fracassada da África do Sul para a Copa de 2006 e nas candidaturas da Tunísia e Líbia para a Copa de 2010. O Jornal do Brasil publicou uma entrevista com o jornalista britânico Andrew Jennings no dia 2 de junho, revelando todos os detalhes de como acontece o esquema mafioso nos países que recebem o Mundial. 

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Jennings conta que a Fifa e os irmãos mexicanos Jaime Byrom e Enrique Byrom, sócios de Philippe Blatter, sobrinho de Joseph Blatter, presidente da Fifa, na empresa Match, com sede em Zurich, tentaram bloquear na Inglaterra a publicação do seu livro que revela toda trama da venda dos ingressos no mercado negro internacional, e ele recebeu várias ameaças. Jennings apresenta documentos que comprovam irregularidades nos campeonatos da Alemanha, em 2006, e no da África do Sul, em 2010. As provas são de que os Byrom forneceram ingressos para o vice-presidente da Fifa Jack Warner, que por sua vez os negociou nos mercado negro em troca de votos favoráveis no Comitê Executivo da entidade.

Na visão do jornalista, a estrutura estabelecida entre a Fifa e os comitês nacionais pode ser comparada com o crime organizado. Isso pelo fato de Blatter e os sujeitos no topo da pirâmide da Fifa permitirem associações nacionais a comprar os ingressos que eles não querem e entregarem no mercado negro. Dessa forma, não são os oficiais da Fifa que estão enriquecendo. Na verdade, o que eles estão "comprando" é a lealdade das associações nacionais em eventos ao redor do mundo. A Fifa terá ingressos e alocação para negociar com países pobres que nunca poderia pagar para viajar ao Brasil, Africa do Sul ou Alemanha, por exemplo. Eles são vendidos no mercado negro e é assim que os funcionários de baixo nível da entidade conseguem dinheiro. E eles ainda conseguem mascarar as saídas desses ingressos para o Imposto de Renda. É esse esquema denunciado por Jennings que serve como ponte para manter as pessoas ligadas. "E assim, para as associações nacionais o Blatter é o melhor presidente que poderia existir", conclui o comunicador.

Essas entidades solicitam os ingressos aos irmãos mexicanos que os repassam em nome do Blatter ou da própria Fifa. Países da África, Ásia e Europa já possuem os seus negociadores com os Byrom, que depois fazem as vendas no mercado paralelo. O jornalista cita a CBF como uma das associações a adotar essa postura. Ele afirma que os Byrom têm o controle absoluto dos ingressos, porque grande parte das entradas são impressas somente após a definição da escala dos jogos em cada fase, o que facilita o esquema deles no Brasil com os Grupos Traffic e Águia, ligados a CBF e diretamente com o Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, no período de 1989 a 2012.

Jennings faz acusações diretas à Ricardo Teixeira e desvenda as negociações para a Copa no Brasil. "O Teixeira [Ricardo Teixeira] foi condenado por tantos roubos sujos como consta no relatório de Álvaro Dias e Aldo Rebelo, em 2001", enfatiza o jornalista. No livro, Jennings destina capítulos para tratar de episódios envolvendo a administração de Ricardo Teixeira na CBF. "Estavam qualificando ele para entrar no esquema. Na máfia, você tem que matar alguém, no caso do Teixeira era aprender roubar o Brasil. Ele podia roubar milhões da Nike. Ele se gaba da quantia, é algo na casa dos bilhões", diz o britânico.

Avaliando a entrada do esquema no cenário brasileiro, o jornalista afirma que Teixeira fez pressão para os irmãos firmarem parceiros brasileiros, assim ele teria uma fatia garantida para os seus amigos. Ele cita os relatórios do senador Álvaro Dias, para a CPI da CBF, como fontes inesgotáveis de evidências da participação dos grupos no esquema corrupto. Jennings diz que seguiu as propinas de Teixeira na Suíça e as informações contidas nos relatórios do senador para concluir as suas investigações, especialmente os documentos anexados ao dossiê de Alvaro Dias, comprovando diversos crimes na CBF. O jornalista acredita que Blatter entregou a Copa do Mundo para Teixeira, pelo fato de estar na hora certa de "pagar os favores". A CBF passava por problemas financeiros e Ricardo Teixeira fez o esforço necessário para provar que era a pessoa certa para organizar a Copa. 

No final da entrevista ao JB, Andrew Jennings traça um perfil dos membros da Fifa e da CBF. "Estamos tratando de gângsteres, que dão dinheiro para a caridade, mas não podemos falar que são honestos". E ainda faz uma comparação com a ficção: "Al Capone dava dinheiro para crianças de orfanatos". A reportagem do Estado desta terça (8), ressalta ainda que Whelan deu palestras e entrevistas em diversas cidade brasileira, na tentativa de buscar investimentos de empresários para a Copa do Mundo.