ASSINE
search button

De volta às ruas, garis agradecem apoio da população e criticam ofensas de Paes

Prefeito chamou greve de 'motim' e integrantes do movimento de 'marginais'

Compartilhar

A greve de garis iniciada no primeiro dia de Carnaval e finalizada no sábado (8) significou uma vitória para a categoria. Eles agradecem o apoio da população, mas, apesar das conquistas, lamentam que a cidade tenha precisado chegar ao ponto que chegou para que antigas lutas fossem bem sucedidas. Também não gostaram das declarações do prefeito, que chamou integrantes do movimento de "marginais". As declarações foram tomadas como ofensa por eles, que fazem questão de salientar que a cidade teve, sim, uma greve de trabalhadores, pais de família, que tiveram a coragem de ir para as ruas e lutar, e que merecem dignidade e respeito.

Com o fim da greve, as ruas do Rio de Janeiro já estão mais limpas, principalmente na Zona Sul da cidade, e até a próxima quinta-feira a situação deve ser normalizada, conforme comentou um agente de limpeza urbana ao JB

Na manhã de sábado (8), o prefeito Eduardo Paes foi a público para chamar a greve de "motim", os integrantes de "marginais" e dizer que a Prefeitura não tinha dinheiro para oferecer o reajuste reclamado pela categoria. No mesmo dia, contudo, aceitou uma contraproposta da assembleia grevista de reajuste de 37%. Os garis conquistaram então um aumento do salário-base de R$ 802 para R$ 1.100, além de 40% de insalubridade. O vale-refeição também passou de R$ 12 para R$ 20. Com isso, encerraram a greve, que durava oito dias. 

>> Garis são aplaudidos pelo público no Desfile das Campeãs, na Sapucaí

>> Prefeitura aceita contraproposta de R$ 1.100 e garis encerram greve

>> Paes chama greve dos garis de motim e envolvidos no movimento de marginais

O resultado foi ótimo para uns e razoável para outros. Uma gari que se identificou como Eliane, há sete anos na Comlurb, achou apenas razoável. Já outra que se identificou como Letícia, há cinco meses na empresa, acredita que foi uma boa conquista, que abre espaço para "galgar outras coisas no futuro": "Não se consegue tudo de uma vez", acredita. 

Eduardo Cordeiro, gari há seis anos, também aprovou o resultado: "Somos uma classe que trabalha muito. Antes, a gente tentava, mas não conseguia. Mas desta vez juntou todo mundo e fomos para a rua. Nosso trabalho é muito importante, só queremos respeito". 

"A população nos ajudou muito. Eles sabem do nosso dia a dia", comentou um dos que trabalhavam neste domingo para coletar o lixo da Presidente Vargas, no Centro do Rio. "Foi um bom acordo, não foi o ideal, mas foi uma conquista", afirmou outro, que preferiu não se identificar. 

Evandro, há nove anos na atividade, acredita que o prefeito sabe que errou em muitas palavras, e em muitas ações. "O gari não é marginal, é gente! Nós tomamos isso como ofensa. Se falam isso de um colega nosso, não vamos gostar."

As declarações do prefeito foram tomadas pela classe como ofensa direta aos trabalhadores. Um deles, há nove anos na Comlurb, fez questão de apontar a discriminação sofrida pelos garis e rebater que são trabalhadores, pais de família, não marginais. "Nós fazemos um serviço essencial para a cidade. Queremos o que todo o cidadão tem direito." 

Ana Cristina Alves, gari há menos tempo, três meses, também não gostou da repercussão do movimento em parte da imprensa, principalmente quando se falava apenas em 300 garis grevistas. Ela critica ainda as declarações do prefeito, que, para ela, deve ter se expressado mal ou se equivocado. 

"Eles falaram em 300 garis. Mas todos os garis queriam a mesma coisa. Nós vimos muito mais trabalhadores nas manifestações. O resultado chegou perto do que a gente queria. O prefeito tinha falado que não podia pagar mais para quem só tem a quarta série. Isso é um absurdo, como se fôssemos todos analfabetos. Eu conheço gente aqui que está na faculdade, que tem o ensino médio. Ele quis desmoralizar o pessoal. [Já] o sindicato, por mim, acabava hoje mesmo", comentou Ana Cristina. 

Os garis reclamam que o sindicato da classe assinou um acordo sem o consentimento dos grevistas, que firmava um reajuste de 9% e demissão dos que não comparecessem no dia seguinte para trabalhar. Um agente de limpeza urbana salientou que a vitória só foi alcançada porque os garis "tiveram peito" para enfrentar e lutar por seus direitos, porque se dependesse do sindicato nada teria sido conquistado. "O sindicato perdeu a moral", comentou outro. 

Outra servidora fez questão de ressaltar os preços surreais do Rio de Janeiro e a dificuldade de contar com serviços e produtos básicos com o salário anterior. "A gente merecia [o aumento], estava na hora. Essa luta não é de hoje. Todos os garis queriam isso, até os que não foram às ruas para lutar."