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"Perdemos o controle do que acontecia na Aldeia Maracanã", diz líder indígena

Parte dos índios que ocupavam o antigo museu chegou neste domingo ao abrigo em Jacarepaguá

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“Nossos antepassados viviam na Aldeia Maracanã; lutávamos por aquele espaço, a nossa história estava ali. Já que não foi possível, optamos pelo diálogo e negociação para nos instalar em lugar seguro. Chegou um tempo em que começamos a perder o controle de tudo aquilo ali, e um grupo optou sair para negociar com o governador”.

Esta foi a declaração de Garapirá Pataxó, que se identifica como vice-cacique, na manhã deste domingo (24) durante a entrega do alojamento provisório aos índios, retirados na última sexta (22) da Aldeia Maracanã (antigo Museu do Índio), na Zona Norte do Rio. Ele esclarece que houve diálogo durante um bom tempo e não havia desejo da situação chegar a um extremo.

A nova moradia, que abrigará 13 pessoas, está localizada em uma área do Instituto Estadual de Dermatologia Sanitária (IEDS), mais conhecido como Hospital Colônia Curupaiti, em Jacarepaguá, onde, no passado, residiam pacientes com hanseníase. 

“O grupo que está aqui não tem nada a ver com o que foi ao atual Museu do Índio. Gostaríamos que as pessoas entendessem. O que está aqui é um grupo pacífico e de diálogo. O outro é liderado pela etnia Guajajara. E os que estão neste alojamento são de oito etnias diferentes. Queremos paz e integração de posse”, alerta Garapirá, sobre o grupo que está na sede da Justiça Federal, no Centro, para uma audiência.

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Logo nas primeiras horas dos novos moradores em Jacarepaguá, uma forte chuva surpreendeu, deixando o local alagado e fazendo com que os próprios índios tivessem que usar rodos para contornar a situação. “Melhor que tenha chovido, pois podemos ver logo como resolver junto ao pessoal da Secretaria. Estar aqui é só o primeiro passo, ainda existe muita conversação com o governo. Foi um avanço, uma primeira vitória. Temos a satisfação de ser recebidos pela comunidade com carinho. Queremos agregar coisas com a comunidade”, analisa Elvira Alves uma das índias do grupo.

Secretário confirma melhorias no processo e prazo menor para projeto

O local onde estão instalados os abrigos abrange um espaço de 2 mil metros quadrados, com extensão de mata em volta. Há camas de estilo beliche, uma cozinha e banheiros feminino e masculino. A pedidos dos novos residentes, um escritório no local será montado. Os indígenas também receberam kits de limpeza e higiene pessoal, cobertores e toalhas. Eles foram recebidos por funcionários da Assistência Social e Direitos Humanos do Estado e pela comunidade, que também reside no local. 

Zaqueu Teixeira, secretário estadual de Assistência Social e Direitos Humanos, informou que a vinda dos índios para o local é mais um passo concreto para cumprir tudo o que se foi proposto. Ao se dirigir a eles, o secretário agradeceu a sensibilidade dos novos moradores em entender, segundo ele, que a melhor forma de avançar no processo é na paz.

“E isso é alcançado quando se chega a um acordo sobre um local e se consegue dar dignidade para aquilo que os índios tanto procuram aqui no Estado”, complementou ele, dizendo que está autorizado pelo governador Sérgio Cabral a dar garantias de melhorias diante da situação.“Nós acolhemos 12 índios e o espaço será suficientemente necessário para que todos fiquem acolhidos”, finalizou o secretário, assegurando um prazo de 18 meses para finalizar a construção do Centro de Referência Indígena, embora aceite a ideia do projeto terminar em menos tempo.

"Esta medida afirmativa traz cultura, a preservação histórica e de patrimônio”

Para celebrar a data, os índios rezaram, cantaram e agradeceram a parceria com o governo. “Que a chama violeta transmute todas as energias. Que a chama rosa do amor inunde o coração dos nossos governantes e administradores” desejou o índio Dauá Puri. Ele comenta que o local é uma emergência para que os índios possam desenvolver seu trabalho. “Primeiro, vamos descansar e só aí, pensaremos nos passos que já vinham sendo dados na Aldeia Maracanã, que é cumprir a Lei 11.645, ou seja, ajudar a levar a cultura às unidades escolares e comunidades”, resume Dauá.

Em determinado momento, quando todos estavam de mãos dadas, Artur Custódio, coordenador Nacional do Morhan (Movimento de reintegração das pessoas atingidas pela Hanseníase), disse que é uma honra receber os índios ali. “Contamos com vocês para preservar a mata e a história que existe aqui. E montar o museu da hanseníase. Estamos aqui para unir esforços”, comentou.

“Esta iniciativa integra dois povos marginalizados, o pessoal excluído pela hanseníase no passado e os índios. Esta medida afirmativa traz cultura, a preservação histórica e de patrimônio”, afirma Artur.

* do projeto de estágio do JB