ASSINE
search button

Fernandinho Beira-Mar admite crimes: 'não sou santo'

Traficante participou de julgamento sobre homicídio de 3 pessoas

Compartilhar

Preso há quase 12 anos, o traficante Fernandinho Beira-Mar começou a cursar teologia dentro do presídio federal de Catanduvas, cidade situada no oeste do Paraná. Em interrogatório dentro de seu julgamento em que é acusado em mandar matar três pessoas, Beira-Mar afirmou que começou a fazer o curso à distância, e lamentou o fato de não poder trabalhar dentro da prisão.

Beira-Mar disse que já teve envolvimento com o tráfico de drogas, entre diversas atividades que alega ter exercido na vida. Segundo ele, sua passagem pelo tráfico não durou mais do que quatro anos. Ele afirma que seu principal trabalho legal xzaté hoje foi como empresário do ramo da construção civil. Ele, no entanto, admitiu já ter sido um dos responsáveis pelo tráfico de drogas na favela Beira-Mar. Ao ser questionado se já tinha mandado matar alguém, Beira-Mar foi enfático.

“No meu passado, já fiz algumas coisas, não sou santo”, afirmou, acrescentando não estar mais envolvido com o tráfico, e disposto a pagar por seus crimes. “Estou sofrendo bastante, quero pagar o que devo à Justiça”, complementou, em depoimento ao juiz Murilo Kieling.

Questionado se era ligado a alguma facção criminosa, Beira-Mar garantiu que não fazia parte de nenhum grupo específico. Mas, de acordo com ele, ao ser preso, acabou sendo ligado ao Comando Vermelho (CV).

“Não precisa fazer parte de facção nenhuma antes. Mas ao ser preso, tem que optar. Se você está na cadeia do CV, passa a ser taxado de membro do CV. Minha facção sou eu. Simplesmente tiro cadeia onde pessoal do CV tira cadeia”, explicou.

Em determinado ponto do interrogatório, Beira-Mar, ao se explicar, repetiu por diversas vezes o palavrão “porra”. Foi repreendido pelo juiz, que pediu que ele retirasse a palavra de seu vocabulário, durante o depoimento.

“Desculpe, excelência, é que é tão costumeiro usar isso”, alegou.

Considerado um dos traficantes mais perigosos do País, Beira-Mar teria ordenado, de dentro do presídio de Bangu 1, o assassinato de Antônio Vieira Nunes, o Playboy, e Ednei Thomaz Santos. Adailton Cardoso de Lima foi alvejado, mas sobreviveu. Os crimes foram cometidos no interior da favela Beira-Mar, em Duque de Caxias. Segundo a denúncia, Beira-Mar determinou os homicídios para vingar a morte de um de seus comparsas, conhecido como Bone.

No mesmo interrogatório, o traficante negou ter sido o mandante desses crimes. Segundo ele, a ordem era apenas para “dar um coro” nessas pessoas, que estariam cometendo atos criminosos contra pessoas inocentes da favela. A ideia, de acordo com ele, era assustá-los e expulsá-los da favela, mas todos reagiram, dando início a um tiroteio. No episódio, Beira-Mar acompanhou todo o processo por telefone, mesmo estando preso em Bangu I.

“Em momento algum dei ordem para matar. Quem matou o Ednei foi o Pepito [outro traficante local]. E não queria a morte do Adailton, tanto que mandei socorrê-lo”, relatou.

Aos 46 anos, e pai de 11 filhos, Beira-Mar reencontrou, ainda que à distância, e separado por um vidro, boa parte de seus familiares. Ao chegar ao tribunal, trocou muitos acenos e mandou beijos para seus parentes. Essas manifestações foram alvo de reclamação por parte do promotor Marcelo Muniz, que solicitou ao juiz que retirasse da plateia quem se comunicasse com Beira-Mar. O pedido foi aceito por Murilo Kieling.

>>Traficante joga beijos para parentes no julgamento