ASSINE
search button

'Huffington Post': Lava Jato leva Brasil a "eclipse global"

Artigo fala sobre o poder da operação anti-corrupção, seus prós e contras

Compartilhar

Editorial publicado pelo Huffington Post nesta terça-feira (15) lembra que ha alguns meses atrás, o jornalista Charlie Rose - que definitivamente pode ser cotado entre os indivíduos mais bem informados do mundo - estava envolvido com um grupo de brasileiros em uma reunião social em Nova York. O anfitrião do que provavelmente é o melhor programa de TV nos Estados Unidos queria saber: "Quando seu país voltará ao crescimento? Quando o Brasil vai subir novamente? "

Sete anos atrás, Rose deu as boas-vindas a seu show o arquétipo da mania brasileira de grande alcance: Eike Batista. A elite global considerava o magnata do negócio como emblemático da economia em expansão do país. Quando a capa de "The Economist" foi ilustrada com a estátua do Cristo Redentor como um foguete subindo ao espaço de superpotências mundiais, poderia se incluir Eike Batista como copiloto, observa o texto de HP.

Batista, como tantos outros nomes proeminentes das empresas públicas e privadas do Brasil, foi preso sob acusações de corrupção decorrentes da Lava Jato, talvez a maior investigação mundial sobre a corrupção, destaca Post. E o Brasil, nos círculos acadêmicos e no mundo dos negócios em geral, viu seu status como um "país emergente" ter levado a questão.

> > 'Forbes': Top 5 de candidatos á presidência do Brasil 2018

O artigo ressalta que existem muitas maneiras de medir o declínio do Brasil. Foi o pior desempenho dos países do G20 por três anos consecutivos. Não existe um modelo de crescimento brasileiro com inclusão social garantida capaz de orientar outras nações em desenvolvimento.

A combinação do populismo econômico, uma política revivida de substituição de importações, isenções fiscais e gastos públicos colossais provocou uma catástrofe de que outros países desejam manter distância. Uma possível exceção é os EUA sob gestão de Donald Trump. Trumponomics é, de fato, um primo próximo da "nova matriz econômica" do Brasil (uma ênfase no conteúdo local, a preparação de campeões empresariais implementada durante a administração da presidente Dilma Rousseff.

Huffington afirma que devido às suas deficiências de segurança pública, o Brasil não conseguiu conquistar legitimidade para perseguir maiores ambições de segurança coletiva. Com 50 mil mortes por ano, as vítimas de homicídios no Brasil atualmente superam as perdas de conflitos na África e Oriente Médio juntos. O horror das prisões brasileiras e os alarmantes níveis de violência em centros urbanos como o Rio de Janeiro impedem o país de um cobiçado cargo permanente no Conselho de Segurança da ONU, apesar do incansável esforço diplomático.

> > 'Deutsche Welle': Natureza sob ataque no Brasil 

Obviamente, programas de cooperação técnica com a América Latina e a África permitem que o Brasil exerça influência diplomática. No entanto, é a influência econômica relativa do país, e não o sucesso de suas políticas públicas, que continua a sustentar o desejo do mundo de fortalecer relações com o Brasil. Mesmo iniciativas como o Bolsa Família, que já era um modelo considerado digno de exportação para países de baixa renda, viu sua viabilidade e atratividade limitadas pelo contexto de uma economia estagnada, descreve o noticiário.

O diário defende que em termos macroeconômicos, o país não está mais em declínio. A inflação caiu. A Petrobras, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) e a Eletrobras estão agora bem gerenciadas. Certas reformas estruturais fizeram avanços. 

Também é verdade que a política monetária e fiscal sólida e a melhoria da gestão das empresas estatais ajudaram a reforçar a credibilidade do Brasil desde que Michel Temer assumiu o cargo de presidente na sequência do impeachment de Dilma Rousseff, observa Post. 

Mas tudo isso é o mínimo que se poderia esperar. A boa governança e a diplomacia pragmática são pré-condições, não louváveis ??características distintas daqueles que querem prosperar em um contexto global, aponta a publicação.

É como se o baixo desempenho econômico, a corrupção sistêmica e o desencanto com a política partidária eliminassem as histórias de sucesso. Nesta perspectiva, o Brasil oferece pouco do que se orgulhar e muito se envergonhar, diz HP.

Segue-se que, no campo das relações internacionais, o país supostamente esgotou seu "soft power". O homem que cunhou este termo, Joseph Nye, cientista político de Harvard, define o poder suave como "a capacidade de um país em influenciar e persuadir os outros sem o uso da força ou da coerção".

Nye identifica não só a capacidade da cultura e do idioma para promover o poder suave, mas também os valores, as instituições e a forma como a nação procura resolver problemas internacionais ou domésticos.

Se isso for verdade, então, no meio do que poderia ser visto como o "eclipse global do Brasil", o país está realmente lançando seu poder suave como uma conseqüência não desejada da operação Lava Jato, analisa Huffington Post.

Os debates recentes em universidades em todo o mundo deixam claro que a maioria esmagadora de acadêmicos, líderes de opinião e decisores econômicos entende a sonda de corrupção Lava Jato meramente como uma fonte de orgulho para os brasileiros. É uma ferramenta importante para o país aproveitar sua capacidade de competir no cenário mundial.

Um dos primeiros acadêmicos notáveis ??a expressar essa visão foi o economista de Harvard, Dani Rodrik. Cerca de um ano e meio atrás, Rodrik afirmou que os fatores econômicos e a opinião pública internacional estavam subestimando o Brasil. E ele continuou a dizer que os promotores e juízes estão lutando contra a corrupção no âmbito da lei, exercendo a maturidade política e agindo acima das influências do partido. Isso resultará em práticas de conformidade aprimoradas e melhores relações com os investidores que renderão grandes bônus de meio prazo para aqueles que fazem suas apostas no Brasil, apoiou.

Se este for realmente o caso, o Brasil não está destinado - como afirmou Sergio Moro, o juiz que liderou investigação, durante uma palestra na Universidade de Columbia no início deste ano - a sucumbir indefinidamente ao papel de vítima indefesa de corrupção. Nem este vício deve ser entendido como uma espécie de "doença tropical", acrescenta.

Pelo contrário, o movimento para combater a corrupção no Brasil pode ser um modelo de mudança paradigmática na economia política, não só de países emergentes, mas também em economias mais maduras. Nesta fase, muitas outras nações latino-americanas, por exemplo, expressaram o desejo de que algo parecido com a  lava jato também revolucione a maneira de fazer negócios em seus países.

Claro que a operação também pode cometer alguns erros aqui e ali, dada a escala da investigação e suas frentes múltiplas. Mas o dano que a sonda provoca em comparação com os males que cura é palpável.

O sucesso da Lava Jato não pode responder satisfatoriamente a pergunta de Charlie Rose sobre quando o Brasil aumentará novamente. O país exige não apenas gerenciamento eficiente dos níveis de corrupção não-sistêmica, mas também uma estratégia sólida para ser competitivo no mundo turbulento de hoje.

No entanto, o Brasil demonstrou que, pelo menos em questões de corrupção, muitas instituições - apoiadas pela maioria da população - estão arregaçando as mangas e começando a trabalhar.

Isso é inspirador e, finalmente, influencia outros países. Isso é um exemplo, a própria essência do poder suave, finaliza.

> > Huffington Post