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Renato Duque diz a Moro que Lula tinha "pleno conhecimento" de esquema

Ex-presidente afirma que acusadores apelam para fabricação de depoimentos mentirosos

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Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, que é responsável pelos processos da Operação Lava Jato em primeira instância, o ex-diretor da Petrobras Renato Duque disse, nesta sexta-feira (5), que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tinha "pleno conhecimento", além do "comando", sobre um esquema de pagamento de propinas em contrato da Sete Brasil, empresa que fornecia sondas para a Petrobras.

Duque afirmou a Moro que teve três encontros com Lula em 2012, 2013 e 2014 e que na última reunião, já com a Lava Jato em andamento, o petista o teria alertado sobre a existência de contas no exterior.

“Nessas três vezes, ficou claro, muito claro pra mim, que ele tinha o pleno conhecimento de tudo e detinha o comando”, disse o ex-diretor, que narrou o suposto alerta de Lula: “Presta atenção no que eu vou te dizer: Se tiver alguma coisa, não pode ter. Não pode ter nada no teu nome, entendeu?”.

"Ele [Lula] me pergunta se eu tinha uma conta na Suíça com recebimentos da empresa SBM, dizendo que a então presidente Dilma tinha recebido a informação de que um ex-diretor da Petrobras tinha recebido dinheiro em uma conta na Suíça, da SBM. Eu falei: 'não, não tenho dinheiro nenhum, nunca recebi dinheiro da SBM'", acrescentou Duque.

Em nota, a defesa de Lula afirmou que o depoimento de Renato Duque "é mais uma tentativa de fabricar acusações ao ex-presidente nas negociações entre os procuradores e réus condenados, em troca de redução de pena". "Como não conseguiram produzir nenhuma prova das denúncias levianas contra o ex-presidente, depois de dois anos de investigações, quebra de sigilos e violação de telefonemas, restou aos acusadores de Lula apelar para a fabricação de depoimentos mentirosos", complementa a nota.

>> Lava Jato: Moro ouve Renato Duque em ação que envolve Palocci

Duque já foi condenado em quatro ações da Lava Jato a mais de 50 anos de prisão e é réu em pelo menos outros seis processos decorrentes da operação que estão em andamento na 13ª Vara Federal de Curitiba.

Veja na íntegra a nota dos advogados de Lula:

O depoimento de hoje (5/5) do ex-diretor da área de serviços da Petrobras Renato Duque segue o padrão já identificado nas declarações dos novos candidatos a delatores que o antecederam, caso de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e de seu subordinado Agenor Medeiros. Eles citam Lula, falam de encontros e de conversas com o ex-Presidente, mas não têm qualquer prova do que afirmam. Ao dizer que Lula tinha "pleno conhecimento de tudo, tinha o comando", Duque busca por em pé perante o Juízo da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba a falaciosa tese do procurador Deltan Dallagnol explorada no seu famoso power-point e que foi negada por 73 testemunhas já ouvidas sob o compromisso de dizer a verdade. Depoimentos cruzados - e certamente combinados - não substituem provas. 

Nos três casos, chama a atenção que os advogados dos réus tenham feito questionamentos não para defesa dos clientes, mas com o objetivo de envolver o nome de Lula, inclusive em processos em que ele sequer é parte - caso do depoimento de hoje. O ex-Presidente foi submetido a uma devassa com a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, além de buscas e apreensões em sua casa e  na de seus familiares e nenhum ato ilegal foi identificado. Até mesmo pessoas referidas por Duque, como Pedro Barusco, quando ouvidas com o compromisso de dizer a verdade, negaram a participação de Lula. 

Foram 24 audiências realizadas só na ação que trata do triplex do Guarujá e nenhuma prova foi produzida contra o ex-Presidente. Não pode ser coincidência que, nos últimos 15 dias, depois de anunciado o adiamento do depoimento de Lula, três pessoas que há muito tentam destravar uma delação para reduzir suas penas e até mesmo sair da cadeia - caso de Pinheiro e Duque - tenham resolvido falar, especialmente considerando que o processo de Duque já estava em fase de alegações finais. Merece repúdio que se aceite negociar futuras vantagens em troca de acusações frívolas, confirmando o caráter ilegítimo das denúncias contra Lula.