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Em Congresso do PT, Cunha é hostilizado e propostas econômicas têm destaque

Evento foi encerrado com aplausos ao ex-tesoureiro Vaccari, alvo da Lava Jato

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"Debates intensos, muita torcida, muitas manifestações polarizadas e ao final a grande unidade que faz inveja aos outros partidos". A frase do presidente Nacional do Partido dos Trabalhadores, Ruy Falcão, foi para definir o perfil do 5° Congresso do PT, que teve o seu encerramento no início da tarde deste sábado (13/6), após três dias de atividades em Salvador (BA). Nas votações finais das emendas ao texto-base do Congresso, os delegados petistas criticaram duramente o presidente da Câmara Federal Eduardo Cunha (PMDB/RJ), enquanto debatiam sobre a manutenção das alianças políticas para 2016, e prestaram solidariedade ao ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso no dia 15 de abril, acusado de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras revelado pela Operação Lava Jato.

O presidente negou que a sigla passa por sua "maior crise" e classificou o evento como "democrático", presidido por centenas de delegados, cerca de 800, com temas que vieram de encontros regionais. No discurso de encerramento, Falcão comentou a prisão de Vaccari, salientando que o ex-tesoureiro não é culpado dos crimes dos quais foi acusado - "ele foi preso injustamente, nunca se apropriou de nenhum centavo do partido", disse. "Ele cumpriu rigorosamente o que existia no país, que e coletar recursos ao partido através de doações eleitorais que são feitas via transação bancárias, declaradas na Justiça Eleitoral", complementou, atribuindo a prisão a uma tentativa da oposição de criminalizar o PT. 

Por causa do pouco tempo para os debates e votações, nem todas as emendas foram votadas neste último dia de evento e tiveram que ser arremetidas para o diretório nacional da sigla, que deve deliberá-las nos próximos dias, assim como divulgar a redação final. Três teses foram consideradas mais polêmicas: a que tratava das medidas de readequação do programa econômico do governo; outra sobre a forma de eleição interna no PT e ainda sobre as demandas de um grupo de deputados que fizeram a proposta de um congresso constituintes em novembro, para discussão de assuntos mais relevantes. As emendas mais polêmicas foram rejeitas, mas, segundo Falcão, com ampla votação. Um dos delegado petistas avaliou que a tendência política do encontro no final da noite desta sexta (12) seguia uma linha mais esquerdista, evitando tocar em pontos delicados das negociações que possam causar conflitos com a base aliada (PMDB).

O presidente do partido admitiu que houve críticas à aspectos da política econômica, mas não de forma direta, como um "Fora Levy", ou direcionando a um ministro ou a própria presidente. No entanto, ele chamou a atenção para os adendos feitos relacionando o assunto, que destaca a retomada do crescimento, a recessão, a política cambial e monetária que precisa ser diferenciada. "São formas de dialogar com a população sem entrar nesse dilema que o partido está contra a política econômica, está contra a Dilma", destacou Falcão. 

Mais cedo, os delegados rejeitaram as propostas de mudanças no texto acerca da política de alianças, desta forma permanece o texto original da Carta de Salvador. A ruptura com o PMDB foi proposta em teses, mas derrubada na votação pela corrente majoritária, que segue a recomendação de evitar as críticas diretas aos partidos aliados. "Não há nenhum propósito de romper aliança no Congresso Nacional com os parceiros que integraram a nossa coligação. Claro que tem que haver diálogo para uma unidade em torno das propostas de governo, já que eles integram o  nosso governo. Isso requer conversa, negociação política e não um rompimento unilateral que poderia levar a uma desestabilização do nosso governo", avaliou o presidente da sigla. 

Em relação a uma reforma tributária, Falcão se posiciona a favor da medida, já que o país possui uma política tributária injusta, recaindo mais no consumo, salário e produção. Ao contrário de outros países que colocam o imposto sobre a grande propriedade, riqueza e patrimônio. "É preciso uma reforma, não só a questão do ICMS, que governos sucessivos tentam mudar para recompor o pacto federativo. A incidência do imposto de renda sobrecarrega as classes média e trabalhadores, então independente de mudar o conjunto da política tributária é preciso ter as alíquotas no topo da pirâmide de renda e rebaixar da classe média para baixo", diz. Para Falcão, toda fez que é cogitada a palavra imposto as pessoas ficam com medo. Ele citou o exemplo da CPMF, que financiaria grandes recursos para financiar a saúde, mas o tema foi retirado da pauta das emendas na manhã deste sábado (13). 

Com relação ao sistema de eleição interna, a decisão foi desvincular o PED da contribuição financeira obrigatória do filiado comum e discutir outras medidas de introdução, como os debates virtuais, como aconteceu com a transmissão ao vivo das votações no congresso. Falcão considerou que o encontro nacional relevou uma grande disposição para seguir com as mudanças internas no partido, no sentido de aprimorar os mecanismos próprios de participação dos filiados e de dialogar mais com os movimentos sociais. 

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