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Bruno assumiu crime parcialmente para reduzir pena, avalia criminalista

Para psicóloga, goleiro teve problemas de identidade porque ascendeu socialmente do dia para a noite

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Depois de o goleiro Bruno Souza, ex-Fla, confessar pela primeira vez, depois de três anos, que Eliza foi estrangulada, esquartejada e distribuída aos cães, a expectativa pelo resultado do julgamento só aumentou. Para o advogado criminalista Luiz Cogan, o craque foi esperto e o Tribunal do Júri está diante de uma clara tentativa de diminuição de pena.

"Ao assumir que sabia que Eliza Samúdio seria morta, mas dizer não mandou Bola e Macarrão executarem o crime, ele tentou se colocar na posição de amigo omisso. Ele tinha ascendência sobre o Macarrão, que trabalhava para ele. Poderia ter evitado o crime, mas não o fez. Assim, ele tenta escapar das qualificações do homicídio - como motivo torpe e ter dificultado a defesa da vítima", analisa o advogado. 

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Para o especialista, a tentativa da acusação é que o crime de homicídio (principal acusação contra o goleiro) seja classificado como homicídio simples, cuja pena mínima é de 6 anos e não de homicídio qualificado, considerado crime hediondo, cuja pena pode chegar aos 30 anos. No caso do homicídio simples, o goleiro poderia ficar em regime semi aberto. 

O fato de Bola e Macarrão, amigos de Bruno e considerados os executores do crime e da ocultação do cadáver, terem distribuído os pedaços do corpo de Eliza Samudio para cachorros não faz com que a pena seja aumentada, de acordo com Cogan. Isso porque, quando o corpo foi dado aos cães o homicídio já havia sido consumado.

"Pelo fato de terem dado os pedaços do corpo da vítima aos cães, a tipificação do crime é a destruição de cadáver. Isso não aumenta a pena-base, porque sai do crime do homicídio", destaca.

Perfil violento

A sequência de episódios violentos nos quais esteve envolvido o goleiro Bruno Souza chamou a atenção da psicóloga Maria Luiza Bustamante, doutora em violência pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). 

Em 2008, o goleiro foi acusado de agressão por um estudante de Administração. Na ocasião, houve um bate-boca entre o universitário e o goleiro dentro de uma lanchonete. Logo depois, Bruno deu um soco no jovem. Já em 2009, Eliza foi à imprensa denunciar a agressão sofrida por Bruno e outros três amigos do jogador. Ela levou chutes, tapas no rosto e foi obrigada a tomar pílulas abortivas quando estava grávida de 5 meses de Bruninho. 

Um ano depois, em 2010, o jogador indagou jornalistas ao sair em defesa do atacante Adriano, também acusado de agredir a namorada: "Quem aí que é casado nunca saiu na mão com a mulher?" No mesmo ano, Eliza Samudio desapareceu e foi considerada morta.

Para Bustamante, é importante ter atenção com pessoas com perfil extremamente violento e reajam com ira sempre que contrariados, em quaisquer situações.  

"O Bruno tem um perfil de uma pessoa que reage com extrema ira quando qualquer situação o frusta ou simplesmente o contraria. Uma pessoa desse tipo pode chegar a matar mesmo", analisou. "Um fator que deve ser levado em consideração neste e em muitos outros casos de violência é que a ascensão social repentina desorganiza a cabeça de uma pessoa. Trata-se de uma mudança muito brutal. A projeção tira os pés da pessoa do chão e ela não sabe quem ela é. Sua referência de identidade fica abalada. Ele não estava preparado para uma ascensão tão repentina, foi criado por família pobre, sem pai, nem mãe", avalia.