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Fifa afasta Valcke, o homem que disse que Brasil 'merecia um chute no traseiro'

Secretário-geral, que criticou preparativos da Copa no Brasil, é afastado por suspeita de corrupção

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Nesta quinta-feira (17), a Fifa anunciou que Jérôme Valcke deixou o cargo de secretário geral da entidade. O afastamento acontece num momento em que a Fifa está envolvida com uma série de denúncias de corrupção, inclusive com dirigentes do alto escalão detidos. O próprio presidente da Fifa, Joseph Blatter, que foi reeleito este ano, convocou novas eleições após a forte repercussão dos escândalos.

Veja a nota oficial da Fifa:

"A Fifa anunciou hoje (quinta-feira) que o seu secretário-geral, Jérôme Valcke, foi afastado e liberado de suas funções efetivas com efeito imediato e até um novo posicionamento da Fifa. A Fifa tomou conhecimento de uma série de denúncias envolvendo o secretário-geral e solicitou uma investigação formal pelo Comitê de Ética da Fifa."

Segundo reportagem do Estado de S. Paulo divulgada nesta quinta, Valcke fez um acordo milionário com uma empresa de marketing para vender ingressos acima do preço tabelado para a Copa do Mundo de 2014. O esquema envolvendo os bilhetes rendeu 2 milhões de euros (cerca de R$ 8,6 milhões) aos bolsos do dirigente.

A acusação contra Valcke partiu de Benny Alon, empresário que atua na venda de ingressos para Mundiais da Fifa há mais de duas décadas. Sua empresa, a JB Marketing, ainda apontou, além do desvio de verba, um sumiço de 8.300 ingressos que deveriam ser comercializados por ela. Em 2010, Alon acordou com a Fifa os direitos sobre a venda de pacotes de ingressos VIP a partir de 2013, inclusive, para a Copa das Confederações.

Em junho de 2014, o Jornal do Brasil publicou reportagem revelando os bastidores da Fifa nas vendas de ingressos para a Copa no mercado negro.

>> Confira aqui

Contando com um esquema já arquitetado nas doze cidades-sede, 11 mil ingressos seriam entregues à empresa de Alon para a comercialização. A princípio, a JB Marketing poderia escolher 12 jogos para os quais venderia ingressos, mas as partidas foram renegociadas ainda em 2012, após reunião com Jérôme Valcke. Segundo o novo acordo, a empresa agora venderia ingressos para os principais jogos do Mundial, incluindo todos os da Seleção Brasileira.

Os lucros sobre a venda das entradas seria repartido igualmente entre a empresa e o dirigente. “Valcke foi até seu cofre, colocou suas digitais e tirou dali nosso contrato. Valcke então me perguntou: ‘O que tem para mim aqui?’ e eu respondi que poderíamos dividir 50% para cada um. Naquele momento, não pensei que a divisão seria com Valcke, mas com a Fifa, e que a entidade ficaria com 50% do lucro que eu fizesse”, contou Alon à reportagem do Estado.

O empresário ainda revelou que, oito meses antes da oficialização, já sabia que o Catar sediaria o Mundial de 2022. Em reunião com Valcke, Alon ficou sabendo que sua empresa não teria direitos sobre a venda de ingressos no país árabe. “Ele me disse: você negociou bem. Mas vocês não terão ingressos para 2022. Esse Mundial acontecerá no Catar”, declarou o empresário, admitindo que Valcke teria lhe dito que o Catar “deu tanto dinheiro que não poderia negar-lhes o Mundial”.

Valcke teve uma atuação polêmica durante os preparativos para a Copa de 2014 no Brasil. Ele chegou a afirmar que organizadores da Copa precisavam de um "chute no traseiro" para conseguir viabilizar a tempo a infraestrutura para realizar o Mundial. A declaração teve forte repercussão negativa no Brasil, a ponto de Valcke dizer que tinha sido mal interpretado e culpado a tradução de sua fala.

Agora, quem leva um "chute no traseiro" é o próprio Valcke. 

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