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Tudo quase pronto no Maracanã

Obras inacabadas e problemas na chegada evidenciam que nem tudo é uma maravilha

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A reabertura do Maracanã para o amistoso entre Brasil e Inglaterra, neste domingo, evidenciou que o Estádio não está a maravilha que o poder público apregoa. 

O próprio Governador Sérgio Cabral, na sexta-feira, reconheceu que as obras do entorno do Maracanã não estariam prontas até o jogo deste domingo. E foi exatamente o que se viu: apesar de acelerarem os trabalhos durante a madrugada, ainda podiam ser vistos locais em que as obras estavam aparentes. 

As obras que ocorrem para a demolição do Estádio de Atletismo Célio de Barros eram separadas do público que chegava apenas por uma fina grade. Outros problemas, como falta de acabamento em algumas partes da obra e a grande quantidade de poeira que as obras inacabadas levantavam, também foram sentidos pelos torcedores.

Dentro do estádio, várias instalações e salas ainda não estão abertas. Na entrada da tribuna de imprensa, um operário trabalhava em um banheiro, enquanto os primeiros jornalistas ocupavam seus postos.

Nas filas do portão de entrada na Avenida Maracanã, ao lado da estátua do Bellini, torcedores enfrentavam longas filas para chegar ao estádio. O motivo era a demora casada pela passagem de cada um dos torcedores por um detector de metal.

Torcedores com necessidades especiais também passaram por dificuldades. Fábio Fernandes, que é cadeirante, disse ter retirado o ingresso com facilidade. Ele viu, entretanto, outros portadores de necessidades especiais que não eram cadeirantes, como deficientes visuais e auditivos, terem dificuldade em obter os bilhetes para assistir à partida. Ao apresentarem suas carteiras, ouviam dos atendentes nas bilheterias que deveriam ter chegado mais cedo.

No final, todos conseguiram entrar, mas fizeram criticas ao que classificaram uma diferenciação entre os portadores de necessidades especiais. Questionaram o fato de as pessoas terem de comparecer ao estádio pela manhã para receber os ingressos, voltar para casa e à tarde retornar para poder assistir ao jogo. Procurada no local pela reportagem da Rádio MEC-RJ, a organização do evento não quis se manifestar. 

Manifestantes são reprimidos

Uma manifestação aconteceu em frente ao Maracanã, minutos antes do jogo de reabertura do estádio, entre Brasil e Inglaterra, neste domingo. O grupo, formado na grande maioria pela Frente Nacional do Torcedores, reunia pessoas contra a demolição do Parque Aquático Julio de Lamare, do Estádio de Atletismo Célio de Barros e da Escola Friedenreich.

Os manifestantes se reuniram na praça Saens Peña e foram caminhando até o estádio, quando acabaram interpelados pela polícia e proibidos de seguir com bandeiras, bambus e instrumentos musicais. Só foram liberadas as faixas e panfletos.

Cercados por policias, os manifestantes foram vigiados todo o tempo em que estiveram em frente ao Maracanã. Eles pediam a saída de José Maria Marín a frente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), de um Maracanã mais democrático e uma regulamentação desportiva.

Segundo João Hermínio Marques, da Frente Nacional dos Torcedores, a manifestação é pacifica, e a polícia chegou cercando o grupo tão logo entrou no bloqueio em volta do estádio. "Quando chegamos o Choque já veio para cima da gente, tirando os nossos instrumentos e as nossas bandeiras, disseram que era ordem da Fifa", contou.

"Estamos aqui para pedir a saída do Marín da CBF, uma regulamentação desportiva e um Maracanã para todos e não só para a elite. O Maracanã é palco do futebol e não da teatralizacao que querem fazer", acrescentou Marques. 

Maracanã, poço sem fundo 

 O novo Maracanã, fechado para reformas em agosto de 2010, custaria, inicialmente, R$ 705 milhões. No início de 2011, porém, o governo constatou que a estrutura da marquise do estádio estava deteriorada e precisava ser demolida. A nova intervenção provocou aditivo de 36%. O preço ficou em R$ 787 milhões, divididos em R$ 400 milhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Socia(BNDES), mais R$ 250 milhões pelo Corporação Andina de Fomento(CAF), mais R$ 137 milhões pela Caixa Econômica Federal.

Um ano depois do início das obras, O Tribunal de Contas da União apontou sobrepreço de R$ 163,4 milhões  no custo, e a reforma foi orçada em R$ 859 milhões. O órgão havia exigido a redução de R$ 97,8 mihões desse sobrepreço.

Com incentivos fiscais concedidos pelo governo, no valor de R$ 84 milhões, o Maracanã passou a custar R$ 775,8 milhões. A Matriz de Responsabilidades, depois, atualizou o valor: R$ 808,4 milhões. Com os recentes aditivos, chegou-se ao custo atual da obra de R$ 1,13 bilhão. Um poço sem fundo.

“Claramente houve, pelas características da obra, quando é recuperado um bem tombado como o Maracanã as necessidades de adaptação são bem maiores do que as de um prédio novo. Novos funcionários tiveram que ser contratados, a arquibancada precisou ser verticalizada. Em obras, quando você começa, surgem fatores imponderáveis que inesperados, sobretudo em um estádio como o Maracanã, de 60 anos de vida e que sempre teve reformas mambembes” explicou o governador Sérgio Cabral, ao tentar explicar os diversos aditivos, que não significaram obras mais rápidas: o prazo de reabertura do estádio foi de dezembro de 2012 para fevereiro de 2013. Em seguida, para maio de 2013. O Consórcio Maracanã S.A, composto por Odebrecht, IMX e AEG, oferecerá R$ 181,5 milhões para administrar o estádio pelos próximos 35 anos, muito pouco perto dos R$ 1,13 bilhão investidos pelo poder público no estádio.

Jogo teste já tinha falhas

No dia da abertura do estádio, em jogo entre amigos de Ronaldo e Amigos de Bebeto, problemas podiam ser vistos dentro e fora do estádio. Na entrada da estátua do Bellini, chama atenção o piso irregular das rampas monumentais, onde pequenos desníveis são comuns e até buracos são encontrados no caminho, colocando em risco, sobretudo,pessoas com dificuldades de locomoção.

Nem mesmo os VIPs e a imprensa escaparam. O elevador destinado às equipes de reportagem teve problemas técnicos, obrigando os profissionais a transportarem equipamentos no meio do público. No hall de entrada dos VIPs, goteiras inundaram o chão. Sem saber como agir, funcionários relatavam por rádio que "banheiros estão sem água".

Alguns dos funcionários ainda tentavam impedir que a imprensa fizesse imagens dos problemas. "Não pode filmar aí", gritou uma colaboradora do governo do Estado. "Vamos subir direto para as cadeiras, emendava outra na direção de um cinegrafista que insistia nas imagens do chão totalmente alagado por goteiras.

*Com Terra e Agência Brasil