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Queda das atividades na indústria e nos investimentos desacelera PIB

Especialistas comentam resultado do 1º trimestre, que teve crescimento de 0,2%

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A economia brasileira teve um crescimento limitado de 0,2% no primeiro trimestre de 2014, de acordo com dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta sexta-feira (30). Na comparação com o mesmo período do ano passado, o avanço do Produto Interno Bruto (PIB) foi de 1,9%. Alguns dados chamaram a atenção, como a atividade industrial, que recuou 0,8%, os investimentos, que sofreram queda de 2,1%, e o consumo das famílias, reduzido em 0,1%.

"O PIB divulgado hoje nos diz que tivemos um início de ano bem fraco. Estamos crescendo a um ritmo mais lento do que o do trimestre anterior (+0,4% no último trimestre de 2013 contra +0,2% agora). Esse desempenho ocorreu, principalmente, devido às quedas no ritmo de atividade da indústria e nos investimentos", aponta Dr. Ernane Galvêas, consultor econômico da Presidência e ex-ministro da Fazenda.

Segundo a gerente de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis, os investimentos caíram devido à redução das importações de bens de capital, da construção civil, da infraestrutura e da produção interna de bens de capital. A queda no consumo das famílias ocorreu em função de um ritmo de crescimento menor na concessão de crédito, com o aumento da taxa básica de juros neste ano. 

Galvêas defende que o sofrimento da indústria não é recente. "O aumento da competição internacional, a carga tributária elevada e a falta de infra-estrutura adequada são apenas alguns dos problemas enfrentados pelo setor produtivo já há algum tempo. As indústrias exportadoras, com poucas exceções, ainda aguardam uma recuperação mais robusta dos mercados internacionais desde a última crise internacional. Internamente, além do esfriamento no consumo das famílias (queda de 0,1% no PIB no primeiro trimestre), a queda do dólar voltou a favorecer a aquisição de produtos importados", esclarece.

Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg Associados, afirma que o resultado negativo da indústria se deve, mais especificamente, a uma forte queda em dezembro de 2013. "Ainda não conseguimos recuperar desse tombo, resultado de um ajuste diante de um consumo doméstico mais fraco e sem conseguir aumentar as exportações. Os números devem continuar em baixa", explica. Zara concorda que a redução dos investimentos se deu devido à retração na produção e importação de bens de capital, mas relaciona o fato, ainda, aos baixos níveis de confiança da indústria e da economia.

Já o ex-ministro da Fazenda Ernane Galvêas argumenta que investir está mais caro. "Para conter a inflação, os juros ficaram mais altos tanto para consumir quanto para investir. A taxa média de juros cobradas das pessoas físicas encerrou o 1º trimestre de 2014 em 41,6% ao ano, a maior desde o início de 2012, segundo dados do Banco Central. O credito para as empresas seguiu mesma trajetória. Em março a taxa média dos recursos livres estava em 23,1%. Um nível recorde dos últimos dois anos.

Em relação ao ano de 2014, Galvêas não enxerga bons resultados. "As previsões que já não eram muito favoráveis tendem a ser corrigidas para baixo. Antes da divulgação dos dados de hoje, a maior parte dos analistas, esperava uma alta superior a 2,0% no comparativo entre o primeiro trimestre desse ano e o mesmo período do ano passado. O IBGE apurou alta de 1,9%. Para 2014, as expectativas, que estavam em +1,6%, provavelmente vão ser revistas novamente", finaliza.

A agropecuária, por sua vez, apresentou um crescimento de 3,6%, depois de recuar 0,5% no quarto trimestre de 2013. A economista da Rosenberg Associados lembra que a agropecuária tem um movimento mais oscilatório. "Nos dois períodos anteriores houve queda, então foi normal a recuperação. Esse ano deve ter entre 1% e 2% de crescimento, enquanto no ano passado foi 7,3%, bem forte. Isso tem mais a ver com a questão de safra", explica. Zara reitera que a previsão da empresa para o país em 2014 é de 1,6%, como explicitado em análise publicada anteriormente no Jornal do Brasil.

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De acordo com Claudio Dedecca, economista da Unicamp, a queda no consumo familiar não é tão relevante. "O primeiro trimestre é desfavorável em termos de consumo, por causa do carnaval e do Natal. Há uma certa desaceleração já esperada. Além disso, o consumo deve aumentar no segundo trimestre com a Copa", indica. Por outro lado, a queda nos investimentos é "altamente preocupante", segundo o professor. "Desde o segundo trimestre do ano passado, o quadro econômico tornou-se tenso, o que pode estar influenciando negativamente os investimentos", sugere. Ele também destaca que a Copa também pode afetar este setor, assim como a produção industrial. "A Copa estimula o consumo, mas, ao mesmo tempo, provoca paradas produtivas. Não teremos tantas paradas no comércio e nos serviços, mas os investimentos e a indústria podem ser influenciados negativamente", conclui Dedecca.

*Programa de Estágio Jornal do Brasil