Neste
final de semana comemoramos o Dia Mundial das Missões e celebramos o 30º
Domingo do Tempo Comum, e a Palavra de Deus nos convida a ir para a própria
essência da nossa vida cristã e religiosa, trazendo o centro da nossa reflexão e
meditação sobre o preceito do amor que tem duas direções distintas e
inseparáveis: o amor a Deus e o amor aos irmãos. Duas direções que estão
integradas em um caminho de santidade e purificação, tendo os olhos fixos
naquilo que realmente importa na vida humana e cristã: amar a todos e sempre, a
qualquer pessoa, mesmo aquele que possa ser nosso maior inimigo.
Não é fácil viver de amor e no verdadeiro amor: é sempre mais fácil viver de amores superficiais e passageiros, inconclusivos, e que produzem apenas algum momento de prazer. O amor verdadeiro, que usa a linguagem de Cristo e é centrado em Cristo, convida-nos a subir até o cume do Calvário, onde o amor se manifesta como uma oblação, da obediência total à vontade de Deus, como uma resposta consciente de que Deus nos ama e nos ama para dar o seu Filho por nós.
Amarás com todo... com todo... com todo ... Três vezes Jesus repete o convite à totalidade, ao impossível. Porque o homem ama, mas somente o amor de Deus é pleno e eterno, aquele que é o próprio amor. Repete dois mandamentos antigos e bem conhecidos, mas acrescenta: o segundo é semelhante ao primeiro. Deduz-se com isso que o próximo é semelhante a Deus: este é o escândalo, a revolução trazida pelo Evangelho.
Amar a Deus com todo o coração. Ainda assim o coração dever amar o marido, a esposa, o filho, o amigo, o vizinho, e até mesmo o inimigo. Deus não rouba seu coração, ele o multiplica.
Não é subtração, mas adição de amor. A novidade do cristianismo não é o mandamento de amar a Deus: amam o seu Deus, muitos homens; fazem isso os místicos de todas as religiões. Mesmo aquele de amar o próximo como a si mesmo já que está presente no Antigo Testamento.
A novidade do cristianismo é o amor como aquele de Cristo. Os homens amam, os cristãos amam ao modo de Jesus. O amor é ele: quando lava os pés dos seus discípulos, quando chora pelo amigo morto, quando se alegra pelo nardo perfumado de Maria, quando se dirige ao traidor chamando-o de amigo e ora pelos que o matariam, nem mesmo o seu sangue mantém para si mesmo, e recomeça pelos que estavam condenados, e tem a intenção de apagar o próprio conceito de inimigo. Amai-vos como eu vos amei. Não quando, mas como; não a quantidade, mas o estilo. Impossível amar quanto ele, mas podemos seguir os seus passos, para compreender o sabor, o fermento, o sal, e inseri-los em nossos dias: como eu fiz, vocês também devem fazer.
Amarás... Todo o nosso futuro está em um verbo, apresentado, porém, não como uma liminar, um imperativo nítido, mas conjugado no futuro, porque amar é ação mais interminável, porque vai durar tanto quanto perdurar o tempo e perdurará para a eternidade. Não uma exigência, mas uma necessidade para a vida, como respirar.
Amar, voz do verbo viver, voz do verbo morrer. O que devo fazer amanhã, Senhor, para estar vivo? Tu amarás. O que farei no mês seguinte ou no próximo ano, e depois, para o meu futuro? Tu amarás. E a humanidade, o seu destino, a sua história? Somente isso: o homem amará. Amar significa não morrer. Vai e faze também o mesmo, e econtrarás a vida. O Evangelho de Mateus deste final de semana, em sua extrema brevidade, é tudo o que pode e deve dizer-se sobre o significado da nossa fé e da nossa esperança.
Aos presumidos mestres do tempo de Jesus era bem conhecida a lei de Deus a esse respeito. Já no Antigo Testamento Deus tinha dado a conhecer os seus pensamentos através dos patriarcas, dos profetas, e tinha colocado no centro da religiosidade do seu povo o amor para com Deus sem limites, sem restrições, sem parcialidade ou reducionismo em todas as sentidos. Se o primeiro e fundamental mandamento do "Eu sou o Senhor vosso Deus, não terás outros deuses além de mim", deve ser traduzido em estilo de vida e de comportamento, ele só pode ser amor e só amor, porque Deus é Amor e nele, fonte de todo o amor verdadeiro. Isso é bem diferente das paixões e das caricaturas de amor que permeiam a nossa sociedade.
Jesus nesta circunstância dirige-se aos fariseus, em resposta à sua pergunta específica. Não há muito para discutir sobre o tema sobre qual é o maior mandamento: é o amor a Deus e aos irmãos.
Tudo aqui em um nível conceitual e de mensagem, e até poderíamos dizer sob um plano jurídico. O problema é como traduzir este amor, ao nível de princípio inspirador da fé e do nosso comportamento cotidiano. Desse mandamento depende a sabedoria, a organização, a perspectiva de cada pessoa e cada instituição. Deus reina, onde há paz, justiça e a fraternidade. Onde impera o egoísmo, reina a divisão da luta fratricida. Eis por que já no livro de Êxodo, primeira leitura da Palavra de Deus deste final de semana, somos lembrados de como se traduz em obra o amor pelos outros. Em resumo, disse exatamente isso: que no coração de uma pessoa que ama existe a atenção para o estrangeiro, o órfão, a viúva, o forasteiro, que está com problemas de toda espécie, principalmente no econômico. O amor não permite descontos e exceções, todos podem e devem ocupar um lugar especial em nossos corações e em nossas afeições e pensamentos. Ninguém deve ser excluído do nosso amor arraigado em Jesus Cristo.
É uma questão de tornar visível este amor através do testemunho da nossa vida. E neste domingo São Paulo Apóstolo nos lembra disso na passagem da Primeira Carta aos Tessalonicenses. Quem coloca Deus no centro de sua vida abandona o caminho do mal e da idolatria, que hoje são o dinheiro, o poder, o prazer, o sucesso, a carreira, a posição social e tudo o que é exterioridade.
Para vivermos em estado permanente de missão e com coragem testemunharmos o Senhor Ressuscitado presente entre nós, somos chamados a viver com alegria o amor a Deus e ao próximo. Quem assim vive e é testemunha é missionário.
Que o Senhor nos livre de um egoísmo cada vez mais prevalente e emergente em todos os setores. Eis por que as nossas orações se dirigem ao Senhor com todas as nossas boas intenções e nosso desejo sincero de fazer o bem: "Ó Pai, que fazeis todas as coisas por amor e és a mais segura defesa dos humildes e dos pobres, dai-nos um coração livre de todos os ídolos, para servir somente a vós e amar nossos irmãos e irmãs, segundo o Espírito do vosso Filho, fazendo do mandamento novo a única lei da vida". Amém.