Memória da Chacina da Candelária: 'Rio tem duas Candelárias por mês', diz sociólogo

Mapa da Violência apresentado por Julio Jacobo apresenta estatística alarmente da juventude no país

Por Cláudia Freitas

O sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz apresentou em audiência pública sobre justiça reparadora e jovens vítimas da violência, realizada nesta quinta-feira (23/7), no Sindicato dos Jornalistas do Município do Rio de Janeiro, o atual Mapa da Violência no Brasil, detalhando a situação de adolescentes de 16 e 17 anos. Com base nos números de homicídios do ano de 2013, o especialista faz uma relação com as oito mortes da chacina da Candelária, que aconteceu no dia 23 de julho de 1993, no Centro do Rio de Janeiro. O resultado é alarmante - "temos duas Candelárias [chacina] por mês no Rio e três, diariamente, no Brasil", conclui Jacobo.

O encontro reuniu autoridades e a sociedade civil para discutir os temas, dentro da programação em memória aos 22 anos da chacina da Candelária, que mobilizou centenas de pessoas durante todo o dia no Centro da cidade. O ministro-chefe da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Pepe Vargas, e o desembargador Siro Darlan participaram da mesa de debates, entre outros representantes de movimentos em defesa dos Direitos Humanos e da Defensoria Pública do Estado. 

Vargas afirmou que a violência contra crianças e adolescentes teve um aumento nos últimos anos. “Lamentavelmente, a sociedade não aprendeu com a chacina. Os homicídios de adolescentes e jovens é estarrecedor. Precisamos de grande mobilização da sociedade e envolvimento de todas as esferas do Poder Público para enfrentar essa questão”, disse. Para o ministro, há necessidade de mudanças legislativas, citando como exemplo a proibição dos autos de resistência, a federalização das investigações e a maior investigação e julgamentos dos crimes praticados por grupos de extermínio. 

Em relação à redução da maioridade penal, Pepe Vargas considerou o projeto "um retrocesso sob o ponto de vista dos direitos e garantias individuais dos adolescentes". Ele ainda acrescentou que este processo pode agravar a violência no pais. O discurso do ministro foi endossado pelo desembargador Siro Darlan, que criticou a PEC da redução da maioridade penal, aprovada na Câmara dos Deputados. Para o magistrado, se aprovado o projeto no Congresso e no Senado, as estatísticas do próximo Mapa da Violência devem apresentar os resultados negativos. Ele convocou os representantes de movimentos e de entidades de Direitos Humanos para uma união a favor da juventude.

A Fundadora do Movimento Moleque – Mães pelos Direitos dos Adolescentes no Sistema Socioeducativo, Mônica Cunha, representou os familiares das vítimas de violência no estado. Cunha criticou a ausência de implementação das medidas socioeducativas nos centros de recolhimento de menores infratores. 

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