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Memória da Chacina da Candelária: menor superou trauma através do trabalho

Claudete Costa foi catar latinha e escapou da tragédia. Hoje ela representa um movimento nacional

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"Todo mundo que está [sobrevivendo] na rua tem uma história". No caso da autora da frase, a sua trajetória de vida teve uma reviravolta logo depois da conhecida Chacina da Candelária, que completa 22 anos nesta quinta-feira (23/7). Claudete Costa escapou "por uma questão de sorte" do atentado, como ela mesma define, e superou o trauma do crime brutal trabalhando como catadora de lixo. Atualmente, o esforço de Claudete a levou ao posto de direção do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, uma das organizações mais respeitadas no país para tratar do tema, inclusive em âmbito federal.

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Claudete foi parar nas ruas do Rio de Janeiro após a sua mãe fugir da violência doméstica que sofria em casa, no município de Vassouras, no interior do estado. Além de Claudete, a mulher carregou ao relento outros três filhos. A primeira moradia da família foi o entorno da Igreja da Escrava Anastácia, na Rua da Uruguaiana, no Centro, onde também vendiam velas como fonte de renda. Com os anos, Claudete foi levada pelos amigos para passar as madrugadas na Igreja da Candelária. No dia da chacina, a menina que na época tinha apenas 13 anos, passou a noite catando latinha pelas ruas da cidade, por ordens da mãe, fato que salvou a sua vida. 

Depois da morte dos amigos da Candelária, Claudete passou a se dedicar integralmente ao trabalho como catadora de materiais recicláveis, um caminho para superar o trauma deixado pela fatídica noite. O seu esforço e dedicação teve o reconhecimento dos outros catadores, que a elegeram em 2013 como representante do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis, para tratar da legalização das bases da atividade junto aos entes governamentais. Atualmente, uma pasta no governo federal cuida da questão do material reciclável, uma conquista de Claudete em parceria com o Comitê Interministerial de Inclusão Socioprodutiva de Catadores. 

O movimento que Claudete preside envolve, no total, trabalhadores do setor em 92 municípios do estado. Para acompanhar de perto a rotina dos catadores, Claudete abre mão do conforto do seu lar para passar as madrugadas nas ruas, ajudando a categoria no árduo trabalho de coletar e separar os materiais recicláveis. Depois do sonho realizado de ter uma família e uma casa, Claudete se empenha agora em conseguir com a prefeitura do Rio alguns galpões para melhorar o desempenho e dar segurança à sua atividade. 

Ela explica que, se o governo municipal conceder estes locais apropriados, os catadores teram a opção de não trabalhar com intermediadores de materiais recicláveis, que compram por preços aviltantes o lixo coletado para seleção e venda para empresas e cooperativas. "Nos galpões, a gente [catadores] poderá levar este material coletado e separá-los para a venda direta às empresas. O serviço vai ser finalizado mais cedo, alguns poderam retornar para as suas casas sem passar toda a madrugada ao relento e ainda teremos equipamento para trabahar com segurança", destaca Claudete.