Líder dos garis culpa influência política por irregularidades durante greve

Reajuste alcançado está fora do considerado justo pela categoria, diz Alexandre Pais

Por Stefano Miranda *

Na noite da última sexta-feira (20), chegou ao fim, após oito dias, a greve dos garis da Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb), do Rio de Janeiro. A decisão saiu após quatro horas de reunião no Ministério Público do Trabalho (MPT). Ficou determinado que os trabalhadores vão receber 8% de aumento salarial, auxílio-funeral de R$ 800 e vale-alimentação de R$ 20.

Na manhã deste sábado (21), o Jornal do Brasil conversou com um dos líderes do movimento de paralisação dos trabalhadores, Alexandre Pais. Segundo ele, o movimento acabou cometendo erros, devido à interferência do sindicato, que enxergou a greve como uma oportunidade de manobra política, graças ao período de eleições sindicais.

“Nós perdemos a batalha, a guerra não. Nós tivemos o apoio do sindicato, e mesmo com o apoio deles tivemos problemas, por intransigência de dois garis que, de olho na eleição sindical, conseguiram convencer os demais a não respeitar as 72 horas de aviso prévio. O sindicato avisou os dois desse prazo, mas como estamos em tempos de eleição, eles resolveram unir o útil ao agradável. A grande maioria dos trabalhadores não estava querendo saber dessa eleição, queríamos o que é nosso direito, apenas isso”, criticou Alexandre.

O gari comentou ainda que haviam dois partidos políticos articulando toda a movimentação junto ao sindicato, o que ele acredita que tenha dificultando também a negociação com o prefeito Eduardo Paes. “Ao contrário do sindicato, nós não precisamos de bandeira de partido nos dizendo o que fazer. Tanto é que no ano passado fizemos tudo certinho e conseguimos o aumento almejado pela categoria (os garis entraram em greve logo após o carnaval de 2014). A intenção desses partidos envolvidos era bater no prefeito, a nossa não. Nossa intenção sempre foi chegar pra negociar com ele, com o único intuito de atingirmos os nossos objetivos”, explicou.

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Alexandre fez questão de deixar claro que o valor alcançado está longe do que eles almejam e consideram justo. Além disso, ele questionou também o fato de que os 8%, valor que foi estipulado na sexta-feira (20) e decretou o fim da greve, já havia sido oferecido durante uma reunião na quarta-feira (18) e foi negado.

“Os valores realmente não foram o que esperávamos, nós queríamos mais. Recebemos 8% de aumento salarial, sem aumento no ticket, e um auxilio funeral de R$ 800. Isso parece uma afronta. O que foi muito estranho é que durante as reuniões de quarta-feira foi oferecido esse valor acordado. A minha dúvida é qual a necessidade de manter uma greve por mais dois dias sendo que o valor acertado já tinha sido oferecido na quarta. Tudo por causa de política, para manter os nomes no ar”, comentou o gari.

O Jornal do Brasil tentou contato com o Sindicato de Asseio e Conservação do Rio de Janeiro, mas até o momento do fechamento desta reportagem não havia obtido resposta.

Após a determinação do fim da greve, será realizada uma audiência de conciliação na sede do TRT. Nessa audiência serão tratados os detalhes jurídicos da paralisação, entre eles, como será feita a reposição dos dias perdidos de trabalho. Essa foi uma das preocupações apontadas por Alexandre. Segundo ele informou à reportagem do JB, o abono é um direito de greve, mas, devido às irregularidades, ele não sabe como isso vai ser tratado.

“O que mais preocupa é que, com esses dias da greve, ficou em duvida se eles serão abonados ou não do nosso pagamento. Esse é um direito de greve, mas infelizmente essas regras foram quebradas devido ao momento político do sindicato, o que prejudicou a briga dos trabalhadores. Nossa única vitória foi manter o trabalho de todos, e voltarmos ao serviço sem sofremos retaliações”. Encerrou Alexandre Pais.

Caso os valores propostos não fossem aceitos, a greve iria a julgamento no Tribunal Regional do Trabalho (TRT) na próxima segunda-feira (23), e corria o risco de ser considerada abusiva pelo fato dos trabalhadores não terem respeitado o prazo de 72 horas para iniciar a paralisação após comunicar a empresa, determinado por lei.

Greve em 2014 teve apoio popular

Durante o carnaval de 2014, os garis fizeram uma greve que chamou a atenção de todos devido ao mau cheiro e às montanhas de lixo espalhadas pela cidade. Na ocasião, a paralisação teve o apoio da população, ao contrário do que era esperado pelo poder público. Após um longo e cansativo período de negociações, os garis conseguiram um aumento salarial de 44%, muito acima dos 8% atingidos neste ano.

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