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Morte de médico gera revolta no Rio de Janeiro

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O assassinato do médico reumatologista William da Silva Castro Alves, 54 anos, durante tentativa de assalto na Avenida Marechal Rondon, na noite de quinta-feira, gerou revolta nos bairros do Riachuelo, Rocha, Sampaio e Méier. Moradores reclamam de insegurança, assaltos frequentes e falta de policiamento, de dia e à noite. Dois suspeitos foram presos.

Arrasada, a viúva do médico atribuiu o crime à política de segurança que, segundo ela, ocupa as comunidades sem planejamento, pois os criminosos vão para o asfalto.

"Meu marido passava por ali há 30 anos, na volta para casa, e a área estava ficando cada vez mais perigosa. Com a pacificação dos morros, a bandidagem veio para a rua, para matar médico, pai de família, gente de bem que trabalhava das oito da manhã às às oito da noite e estava voltando para casa. Quem agora vai responder por isso? Espero que as autoridades me procurem e que se faça justiça, porque minha família está destruída", desabafou Lia Castro Alves, casada com William há 28 anos.

Reconhecidos

O crime ocorreu por volta das 21h, no mesmo local em que o músico Rodrigo Netto, o Nettinho, da banda Detonautas, foi morto há três anos, também em tentativa de assalto. Dois homens de moto abordaram o médico no sinal de trânsito na altura da Rua Henrique Dias, logo após assaltarem um posto de gasolina a 500 metros dali. Bandidos em um Peugeot preto teriam dado cobertura.

Na madrugada, às 2h30, policiais do 3º BPM (Méier) prenderam dois homens e apreenderam um menor de 15 anos, que tinham acabado de roubar um Voyage na Rua 24 de Maio, no Méier. Funcionários do posto reconheceram Roger Ruhan Gusmão de Souza, 18, e Arquiles Pereira de Souza Alves, 18. O menor J.L., que estava armado, não foi reconhecido.

Os três foram detidos na Rua Alice Figueiredo, caminhando. Eles estavam com duas mochilas, celulares e a chave do Voyage. As testemunhas foram levadas para prestar depoimento na Divisão de Homicídios (DH), que investiga a morte. Roger e Arquiles serão indiciados pelo roubo do posto e o assassinato do médico.

"A morte do meu irmão é uma gota no tsunami de sangue que ainda está por vir aqui", afirmou o dentista Walter de Castro Alves, um dos dois irmãos de William.

Oito roubos em apenas dois meses

Funcionários do Posto Linda, na Avenida Marechal Rondon, contam os prejuízos de oito assaltos desde setembro. Em uma semana, foram quatro casos, um ocorrido pouco antes de o médico ser morto. A dupla de moto roubou R$ 597.

"É triste dizer, mas estamos acostumados. Na delegacia, todo mundo já conhece a gente", contou um funcionário. "Eles pedem para encher o tanque, levam o dinheiro do cofre e roubam os clientes. E a polícia demora a passar. Já fui roubado seis vezes aqui. Uma vez tinha até um homem com fuzil e granada", lembrou outro frentista.

Morador do Riachuelo há 40 anos, o economista W., 55, voltava para casa quando viu os bandidos saindo do posto e abordando o médico do médico. "Ele acelerou e eles atiraram. Vejo bondes de homens armados passando até de tarde. Sempre há assaltos aqui porque os motoristas precisam reduzir no sinal", ressaltou.

Família soube do caso pelo 190

O reumatologista seguia para casa, no Flamengo, depois de mais um dia de trabalho no consultório em Cascadura. A mulher estranhou a demora e ligou para os irmãos de William. Pelo 190, souberam do caso.

"Ele jamais iria entregar as coisas. Sempre ralou muito", disse o irmão Marco Antônio, dentista. William deixa uma filha, Thaís, de 21 anos, estudante de Medicina.

Policiamento só em casos de repercussão

Moradores reclamam de falta de policiamento. Segundo a funcionária pública Leila Campelo, 50 anos, carros da PM só circulam quando há crimes de repercussão. "Hoje (ontem) cedo mesmo, minha filha ia trabalhar quando dois homens de moto passaram no ponto da 24 de Maio e puxaram a bolsa de uma mulher, que ainda foi agredida", contou Leila.

A secretária aposentada Ivone Brito, 62 anos, teve a casa assaltada há uma semana por três homens, que trancaram sua família no banheiro.