RIO
CRISE HÍDRICA - Calcanhar de Aquiles da Iguá é o Bosque da Barra
Por CELINA CÔRTES
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Publicado em 11/12/2024 às 14:14

Desde 7 de fevereiro de 2022 a Iguá responde pelos serviços de saneamento dos municípios de Miguel Pereira e Paty do Alferes e de 18 bairros da zona Oeste, entre eles a Barra da Tijuca, Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes.
E a grande maioria das 195 queixas desde janeiro deste ano contra a concessionária, no Reclame Aqui, é sobre aumentos abusivos das tarifas e demora no restabelecimento da distribuição de água tratada após a última paralisação para a manutenção do sistema, em novembro.
Para termos de comparação, a Águas do Rio tem 2.272 reclamações no mesmo período.
Bosque da Barra depois das obras da Iguá Foto: reprodução de vídeo
O calcanhar de Aquiles da Iguá, porém, é o Bosque da Barra, que virou um deserto desde que a concessionária rebaixou – sem permissão dos órgãos competentes – o lençol freático do terreno vizinho, para executar obras de ampliação da Estação de Tratamento de Esgoto da Barra.
O bosque, Área de Proteção Ambiental que corresponde a 50 campos de futebol, era um oásis no bairro. Com a obra perdeu até a sua lagoa, que secou em outubro. A causa do problema foi constatada em julho, após vistoria da Secretaria Municipal do Ambiente e Clima da prefeitura do Rio.
A obra foi embargada, permanece paralisada e ninguém foi multado.
A Iguá esclarece que o alagado do Bosque da Barra é artificial, sem ligação com o sistema lagunar da região, e totalmente dependente de precipitações, fato que atesta que a seca, já observada em anos anteriores, tem relação com a longa estiagem dos últimos meses.
Com o aumento de chuvas no último mês, o alagado já está em nível considerado adequado. A concessionária segue cooperando e atendendo todos os pleitos técnicos realizados pelos órgãos ambientais e fiscalizadores competentes.
Altas tarifas
Humberto Lemos, vice-diretor do Sindicato dos Trabalhadores das Empresas de Saneamento e Meio Ambiente, concorda que o maior problema da concessionária é o Bosque da Barra, contudo, como morador do Recreio dos Bandeirantes, ele também sofre com o aumento abusivo das tarifas, “permitida pela mudança de cobrança estabelecida pelo governador Claudio Castro”, esclarece.
Pelas novas regras, o consumidor de novas unidades residenciais paga pelo que foi usado por todos em um prédio ou condomínio, somado à tarifa individual. Antes, a cobrança no hidrômetro era rateada por todos os moradores de uma mesma unidade residencial.
“Os maiores prejudicados são os moradores de condomínios e comerciantes, que têm dado origem a muitas ações judiciais”, contabiliza Lemos.
Graças a isso, a Iguá tem superávit e, ao contrário da Águas do Rio, não precisa pleitear aumento de tarifas. “Eles atendem ao filé mignon entre os bairros do Rio de Janeiro, têm as mais baixas taxas de inadimplência. Nadam de braçada”, descreve.
A concessão
A Iguá Projetos ganhou a concessão do bloco 2 do que era a Cedae em abril de 2021, correspondente à Área de Planejamento 4 (AP-4), na Zona Oeste da cidade, por R$ 7,2 bilhões, com ágio de 129,68%.
Com isso, assumiu também a administração da Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) Barra, do Emissário Submarino da Barra e de todo o sistema de esgotamento sanitário do Eixo Olímpico, incluindo as elevatórias Vila dos Atletas e Olímpica, além de 1,3 quilômetros de tubulação coletora de esgotos.
A empresa concessionária também responde pelo Açude do Pau da Fome (1908), no Parque Estadual da Pedra Branca, e pelo Reservatório do Tanque, em Jacarepaguá, inaugurado em 1925 e tombado pelo Inepac.
Com isso, a Iguá atende a cerca de 1,2 milhão de consumidores e, ao contrário da Águas do Rio, nunca se queixou de erros no edital que a obrigassem a algum aumento de tarifa. Apesar de “nadar de braçada”, como brinca Humberto Lemos.