RIO

Águas do Rio não responde a perguntas do JB e envia comunicado oficial ao jornal

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Por CELINA CÔRTES

Publicado em 09/12/2024 às 15:16

Alterado em 09/12/2024 às 19:35

Silval Andrade, diretor da Águas do Rio Foto: Águas do Rio

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O JORNAL DO BRASIL solicitou uma entrevista, na última quinta-feira (5), com Sinval Andrade, o diretor da Águas do Rio que tem sido o porta-voz da empresa. Ao fim do dia, foi marcada uma conversa com o executivo na sede, situada no Armazém 2 do Porto.

Quando a repórter chegou, no horário marcado, foi informada que Andrade teve de sair, e ficou acordado que o jornal enviaria perguntas para serem respondidas remotamente. Ao fim da sexta-feira, a repórter foi informada de que as respostas seriam atribuídas não mais ao diretor, e sim à Águas do Rio.

Após um último contato sem retorno, às 21h40 de sexta-feira, em novo contato, no sábado de manhã, a assessoria alegou estar esperando a resposta do presidente da empresa. Nada aconteceu durante o fim de semana. Nesta segunda-feira (9) de manhã, a repórter avisou que publicaria as perguntas sem respostas, se as mesmas não chegassem até o meio-dia.

A Águas do Rio é a operadora da holding Aegea – maior empresa de saneamento do Brasil - que arrematou as outorgas das concessões dos blocos 1 e 4 (formados por 26 municípios do estado, entre eles, Cachoeiras de Macacu, Magé, São Gonçalo, Belfort Roxo, Duque de Caxias, Nova Iguaçu, 106 bairros do Centro e zona Norte e 18 da zona Sul).

O bloco 1 foi arrematado por R$ 8,2 bilhões, com ágio de 103,13%, e o bloco 4, por R$ 7,203 bilhões, e ágio de 187,75%. Os R$ 4 bilhões que a concessionária disse já ter investido em três anos, portanto, é menos de um terço do que foi gasto com ágios.

Os investimentos se voltaram a recuperar estruturas de água e esgoto existentes - como redes, estações de bombeamento e tratamento, reservatórios, entre outras - com troca de tubulações e equipamentos danificados, além de tecnologia de ponta para o Centro de Operações Integradas (COI), para operar os sistemas de água e esgoto remotamente.

Segundo a concessionária, também foram desobstruídos os 9 km do Interceptador Oceânico que coleta parte do esgoto para a zona Sul e o direciona para o Emissário Submarino de Ipanema com remoção de 3 mil toneladas de resíduos. Foram reformadas ainda as 13 elevatórias da Lagoa Rodrigo de Freitas que também bombeiam esgoto para o emissário.

Abaixo, as perguntas que ficaram sem respostas, seguidas da nota oficial da Águas do Rio que, pelo visto, não considera definitiva a proposta de aumentar as tarifas.

1 – A inédita falta de água, por duas semanas, ocorreu após a manutenção anual, no auge do calor. O que explica tanto tempo sem água, quando a Cedae levava 72h para restabelecer o sistema?

2 – Segundo um ex-engenheiro da Cedae, a causa foi a falta de profissionais aptos a lidar com o mapa de manobras do grande sistema - que requer experiência e tempo de serviço -, por conta dos baixos salários que provocam intensa rotatividade que não permite a formação dos técnicos necessários. O que diz sobre isso?

3 – Que tipo de providências serão tomadas para que em 2025 não ocorra um novo desabastecimento após a manutenção anual?

4 – Foram 13 explosões em 11 meses, inclusive com a morte de uma idosa. Elas também aconteciam na época da Cedae, mas nunca com tal frequência. O que explica essa reincidência?

5 – Como a Águas do Rio entrou nos leilões pagando ágios de 100% e não levantou a real situação dos municípios onde ia atuar, e agora quer aumento de tarifa, jogando o próprio erro no colo dos consumidores?

6 – Por que a concessionária não pediu extensão do contrato ao invés de aumentar as tarifas?

7 – Haverá algum desconto nas tarifas dos que ficaram tanto tempo sem água?

8– A concessionária vai ressarcir os que tiveram de comprar carros pipa?

9 – Por que as contas aumentam muito após trocas de hidrômetros sem que haja aumento de consumo?

Comunicado da Águas do Rio:

"A Águas do Rio informa que o sistema de abastecimento da Região Metropolitana é extenso e integra estruturas de diferentes épocas, desde o Império até os dias atuais. A concessão aconteceu exatamente para realizar investimentos e modernizá-lo. Isso está sendo feito de forma gradativa, com planejamento e manutenção constante. Em apenas três anos de operação, quase R$ 4 bilhões foram investidos no Estado.

A concessionária esclarece que as empresas responsáveis pela distribuição de água da Região Metropolitana do Estado aproveitaram a parada do Guandu para realizar obras que só poderiam ser executadas com as tubulações vazias. No entanto, na mesma madrugada em que a ETA Guandu foi paralisada pela Cedae, houve o rompimento de uma tubulação de grande porte (1,75m de diâmetro) no sistema Ribeirão das Lajes, que não tinha relação com a manutenção anual, o que retirou cerca de 5,5 m3/s do sistema, capaz de atender aproximadamente 5 milhões de pessoas - especialmente na Zona Norte e Ilha do Governador, que não seriam atingidas caso ocorresse apenas a parada do Guandu.

Em relação às causas da falta de água em outros pontos da cidade após a volta do Guandu, a empresa esclarece que, após uma longa paralisação do sistema, como ocorreu recentemente, é comum que aumente a incidência de vazamentos, entre outros eventos, em função da variação da pressão da água nas estruturas das redes de distribuição. Para reduzir esses eventos, que são pontuais, a concessionária vem investindo em diversas frentes de melhoria do sistema. Somente nesta última parada do Guandu, por exemplo, 82 trabalhos foram realizados para melhorar a confiabilidade, segurança e a prestação do serviço, como, por exemplo, instalação de válvulas de controle automático de pressão, o que ajuda a reduzir potenciais vazamentos ao estabilizar a pressão nas redes. Até o meio do ano de 2025, serão implantadas 266 desses equipamentos.

É importante reforçar que a cobrança das contas de água é feita através da leitura dos hidrômetros que aferem o volume de água recebido. Todos os hidrômetros instalados pela concessionária são certificados pelo Inmetro, o que garante a exatidão do volume consumido. A empresa tem a obrigação contratual de instalá-los em 100% dos imóveis de sua área de atuação e renovar o parque de hidrômetros em cinco anos, já que, com o passar dos anos, os aparelhos perdem a capacidade da medição precisa.

Sobre suposto aumento da tarifa, por cobertura de esgoto inicial inferior ao previsto no edital, a concessionária informa que há diversas formas de reequilíbrio financeiro previstas em contrato, e estão em processo de instrução pela Agencia Reguladora.

A Águas do Rio reitera, por fim, que os avanços no saneamento estão garantindo melhorias significativas enquanto o abastecimento é mantido, com foco na continuidade dos serviços para a população."

 


A concessionária monitora e opera, em tempo real, 24 horas por dia, os sistemas de água e esgoto das 27 cidades em que atua no Centro de Operações Integradas (COI), com aproximadamente 80 funcionários que se revezam Foto: divulgação

 

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