RIO
Carlos Minc: "Aumentar as tarifas de água é uma maldade"
Por CELINA CÔRTES
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Publicado em 08/12/2024 às 08:39
Alterado em 08/12/2024 às 08:39

O deputado estadual Carlos Minc (PT-RJ), que já foi secretário estadual do Meio Ambiente, 73 anos, acha que ainda é cedo para julgar o desempenho da concessionária Águas do Rio. No entanto, avalia “que ela não está dando conta do recado porque não fez o mapeamento”. Minc – que, como deputado de esquerda, sempre foi contra privatizações – falou com exclusividade ao JORNAL DO BRASIL e disse acreditar que não se pode culpabilizar a população com aumentos de tarifa por “confusões” da concessionária, com anuência do governo do estado para que este não deixe de receber a segunda etapa dos recursos previstos no edital. “É uma maldade”, define.
JORNAL DO BRASIL – A Águas do Rio participou do leilão de privatização da Cedae, que arrematou com ágio de 90%, após meses de estudos. Mês passado, descobriu que havia cálculos errados nos volumes de esgoto tratado e, ao invés de pleitear extensão do contrato, quer aumento de tarifa. O que acha disso?
Carlos Minc – Como eles aceitaram esses dados do estado sem fazer uma perícia? Tem essa hipótese do aumento da tarifa, mas não podemos culpabilizar a população pelas confusões deles, enquanto o estado pede para não repassar uma segunda etapa do recurso que eles têm que dar por terem ganho a concessão. E é claro que o governo do estado vai preferir aumentar a tarifa a abrir mão dessa outra etapa de alguns milhões que eles ainda têm que pagar. O que é uma maldade. Se o governo passou uma informação errada, o certo seria não receber essa segunda etapa, ou menos do que eles devem. Seria realmente cruel que o governo fique com esse recurso e aumente a tarifa para a população.
Após a manutenção anual na adutora do Guandu, cuja normalização do sistema leva 72h, até hoje há bairros sem água, o que nunca aconteceu com a Cedae. A privatização foi um mau negócio para cariocas e fluminenses?
Em alguns bairros já está há mais que 72h. Eu, como deputado de esquerda, sou contra privatizações. Mas, como grande conhecedor tanto das empresas estatais como municipais e concessões, como da Região dos Lagos – uma concessão mal feita, que funcionou mal - e Niterói – uma das cinco melhores do Brasil -, tenho uma visão diversificada. Há empresas que funcionam razoavelmente, outras funcionam muito mal. Sempre fiz críticas fortes à Cedae. A culpa não era dos técnicos, dos engenheiros, o próprio governo federal pegava o dinheiro da Cedae para caixa única e a empresa não fazia a manutenção dos dutos. Nunca foi uma empresa que funcionou bem. Eu era o único deputado de esquerda que criticava e o pessoal dizia que as críticas levavam à privatização. Eu achava o contrário, se não criticasse o povo ficaria com raiva porque a Cedae não funcionava bem, não tratava o esgoto e tinha muito desperdício. E quando privatizasse nem haveria tanta reação popular...embora tivesse excelentes técnicos. Agora, acho que ainda é cedo para avaliar a nova concessão, mas o fato é que ela não está dando conta do recado porque não fez o mapeamento.
E foram 13 adutoras que explodiram em 11 meses...
Eu estimo, com base em vários estudos, análises de especialistas da Uerj, da Coppe (UFRJ), que deve haver uns 15km, talvez até 20km de adutoras com gente morando em cima. Como fazer? Teria que ter um estudo, um mapeamento, relocando essas pessoas pouco a pouco, pegando os pontos mais críticos, de maior risco. É brutal, uma herança complexa. Mas não sei se eles estão fazendo o que deveriam, nada diz que não vai estourar outra. Mas dizer que a culpa é exclusivamente de quem chegou... é claro que tem alguma culpa, mas devem ser 40, 50 anos de adutora com o pessoal morando em cima e ninguém fez nada. Eles chegam e começa a explodir, e vai continuar explodindo adutora. O que eles poderiam fazer para tirar milhares de casas de cima de tantos dutos? Poderiam dizer, estamos chegando, tem esse problema que é sério, vamos fazer tal levantamento, nos ajudem que vamos começar a mapear e pedir para o governo realocar essas pessoas. Em alguns casos mudar os tubos, trocar os que estão furados e vão estourar. Não fizeram nada disso. Pegaram uma herança péssima, mas também não fizeram nada para investigar, levantar, pedir ajuda.
JAinda não há garantias se o problema não se repetirá em 2025, porque os salários são baixos, há grande rotatividade de mão de obra e, com isso, não se formam técnicos experientes e capazes. Como intervir nessa situação?
O salário realmente não é nada de especial. O que eu sei, porque sou amigo do pessoal que trabalhava antes na Cedae e inclusive lutou contra a privatização – um deles do meu gabinete –, é que o acordo de privatização tinha uma cláusula de não demissão, e essas empresas que ganharam acabaram contratando esses antigos da Cedae. Eles continuam ganhando alguma coisa pela Cedae, que é muito pouco, e a concessionária dá um complemento. Mas, ainda assim, o salário é muito baixo. Para cumprir as muitas cláusulas, eles tiveram que contratar pessoas com salários realmente baixos. A própria Cedae, antes da privatização, demitiu uns 20 engenheiros antigos, que ganhavam melhor. Logo depois houve uma crise no sistema Guandu que demorou para consertar, o que atribuímos às demissões desses engenheiros que sabiam muito.
E há um fato positivo: a balneabilidade das praias do Flamengo, Glória, Botafogo, Praia Vermelha e Paquetá. Acompanhamos várias iniciativas que não deram certo. Isso, pelo menos, a Águas do Rio conseguiu resolver...
Aí eu vou discordar. Porque eles estão se apropriando indevidamente de coisas feitas antes, inclusive por nós (como secretário de estado). Um exemplo, a praia do Flamengo e Paquetá, na nossa gestão, acabamos com todos os lixões em volta da Baía de Guanabara, sem exceção, que lançavam milhões de litros/dia de chorume na baía, além dos lançamentos da Reduc, que reduziu 80% da poluição. Vimos que o esgoto da Marina da Glória ia direto para a praia, assim como o do Rio Carioca, porque aquela estação de tratamento que construíram ali não dava conta. Eles fizeram coisas boas sim, ontem eu mergulhei no Flamengo, e se houve bons resultados foi também pelas ações anteriores.