RIO

Mulher vai morar em hotel, com medo do ex-namorado, que é major da PM-RJ

'Estou correndo risco de vida', denuncia

Por Gabriel Mansur
redacao@jb.com.br

Publicado em 21/09/2023 às 15:10

Alterado em 22/09/2023 às 11:37

[Paulo Araújo] Major da Polícia Militar do Rio de Janeiro foi desmentido pela rede Smart Fit Reprodução

A jornalista Luana Keioze divulgou um vídeo em suas contas nas redes sociais em que acusa o ex-namorado Paulo Araújo, major da Polícia Militar do Rio de Janeiro, de "ameaça e perseguição". No vídeo, Luana relata que, após um breve relacionamento de três meses com Paulo, decidiu pôr um fim na relação devido a traições cometidas pelo PM.

De acordo com Luana, Paulo passou a seguir seus passos desde o término. A notícia foi publicada pelo G1. Ela conta que o major, que é lotado no Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidão (RECoM), tem um comportamento agressivo, já fez ameaças diretas e de forma velada e até deu voz de prisão contra ela dentro de uma academia de musculação, onde ambos treinam, após uma discussão entre eles.

Os dois se conheceram há cerca de 10 meses, quando Paulo alugou um apartamento no mesmo prédio em que ela mora há pelo menos uma década. O relacionamento, segundo ela, acabou em abril deste ano e desde então sua vida "virou um inferno". Luana afirma que está até mesmo "correndo risco de vida".

"Estou correndo risco de vida e por isso conto com a ajuda de vocês. Há cinco meses eu terminei um namoro de apenas três meses com o Paulo. Nós somos vizinhos, engatamos um namoro e após três meses descobri suas tradições, diversas, e decidi colocar um ponto final nesse namoro. Ele, como oficial superior da PMERJ, tem utilizado todos os privilégios de sua carreira para me ameaçar, me agredir, me difamar, me coagir, mas ele não vai me transformar numa vítima de feminicídio no Brasil, eu vou usar minha voz", contou.

Segundo a jornalista, o major da PM já demonstrava sinais de agressividade e um comportamento possessivo ao longo do período que estiveram juntos. Luana disse ter tentado terminar com ele várias vezes.

"Durante o período que eu estava com ele, quando eu estava trabalhando, nunca consegui ficar sem receber 20, 30 ligações, chamadas de vídeo, várias mensagens. (...) E quando eu retornava, ele queria saber por que eu não atendi. Sempre muito desproporcional".

Luana comentou que, depois do término do namoro, Paulo passou a vigiar sua rotina.

"Eu tentava conversar, tentava terminar e não conseguia. Ele me perseguiu, chegou a dormir na escada do meu prédio. Teve uma vez que cheguei de viagem e ele disse que se eu não ficasse com ele não ficaria com mais ninguém", disse Luana.

Um dos episódios que mais assustou a jornalista aconteceu na academia onde os dois treinavam. Segundo ela, o namoro já havia terminado. Ela conta que corria na esteira, sozinha, quando Paulo entrou no local e começou uma discussão. Ainda de acordo com os relatos, ele fez ameaças contra a ex-namorada na frente de todos. Em seguida, Paulo teria dado voz de prisão contra Luana. A vítima conta que, a partir deste momento, ele foi bandido da rede Smart Fit em âmbito nacional.

"Uma voz de prisão porque eu não estou com ele? Porque ele me viu ali malhando, sozinha? É um major da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro", comentou Luana.

Medo de dormir em casa

Luana informou que conseguiu na Justiça uma medida restritiva contra Paulo, para que ele mantenha uma distância de 250 metros dela. Contudo, segundo ela, o Tribunal de Justiça do Rio (TJRJ) teria reduzido a distância mínima permitida para 50 metros. Com medo do que Paulo possa fazer, a jornalista saiu do apartamento onde mora e passou a alugar um quarto de hotel, onde alega sentir-se mais segura.

"Eu não tenho dormido em casa. Eu tô em um hotel. Eu tenho precisado de favores de amigos. Não consigo mais ficar em paz dentro da minha casa, nem andar nas ruas", desabafou. "Eu moro no mesmo lugar há mais de dez anos, e ele, há menos de dez meses. Eu tô presa, e ele livremente me rondando. O que mais precisa acontecer para que esse homem saia de perto de mim, pelo amor de Deus?", concluiu a jornalista. 

 

O outro lado

Em nota, o advogado Pedro Gabrig, que faz a defesa do militar, disse que seu cliente "nega veementemente as acusações feitas por sua ex-namorada, Luana Keioze". Ainda de acordo com Gabrig, "Paulo e Luana tiveram um curto relacionamento consensual, o qual findou em abril deste ano. Desde então cada um seguiu a sua vida, apesar de Luana e Paulo serem vizinhos".

De acordo com a defesa do PM, "o vídeo gravado por Luana na academia não comprova as suas acusações. Dele não é possível extrair qualquer ameaça feita por Paulo, muito menos algum pedido para reatarem o relacionamento. O desentendimento na academia foi motivado pela cobrança de uma dívida pretérita que Luana tem com Paulo, e não por uma suposta perseguição e tentativa de reatar o relacionamento, como ela relata", destacou a defesa.

Sobre a afirmação de que Paulo teria sido expulso da academia, o advogado, mais uma vez. negou. "Ele voluntariamente cancelou o seu plano por solicitação própria em outra unidade, após o desentendimento, conforme o comprovante entregue pela rede. A Defesa reitera que a investigação corre sob sigilo, reafirma o compromisso de Paulo com a Justiça e repudia a tentativa de linchamento virtual promovida com a publicação do vídeo", destacou o advogado.

A Smart Fit, no entanto, contesta a versão do suspeito. Em nota, a empresa informou que deu todo o suporte à aluna e adotou todas as medidas cabíveis. Luana também informou à reportagem que no dia que foi atacada na academia, a empresa acionou o protocolo de segurança e chamou a polícia, que foi até o local e garantiu a segurança da jornalista

A Polícia Civil do Rio de Janeiro confirmou que o caso foi registrado na 12ª DP (Copacabana) e que os agentes da unidade realizam diligências para concluir as investigações. Já a PM informou que a Corregedoria instaurou procedimento apuratório para averiguar as circunstâncias do ocorrido.

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