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O mar do Rio não está para salva-vidas

Banhistas se queixam da falta de agentes na praia; Associação de Bombeiros confirma falta de profissionais na orla

Marcos Tristão -
Viatura da corporação entrega comida para um único salva-vida no posto
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Para os apaixonados pelos mares fluminenses que não sabem nadar, a orientação é se aventurar em águas rasas. Bem rasas. Isso porque, segundo banhistas, os bombeiros salva-vidas estão cada vez mais escassos na orla. Em uma passagem pelos postos de salvamento na manhã de ontem, o JORNAL DO BRASIL localizou, dos postos 1 ao 7, apenas um agente por unidade, quando seriam necessários, segundo os próprios profissionais, pelo menos três.

Macaque in the trees
Viatura da corporação entrega comida para um único salva-vida no posto (Foto: Marcos Tristão)

A denúncia dos banhistas é confirmada pela Associação de Bombeiros Militares do Estado do Rio (ABMERJ). Segundo o diretor da entidade, há déficit de pelo menos quatro mil homens. “No Leme, não só sumiram os guarda-vidas como não tem barraca adequada. [No início do mês] Presenciei um turista sendo salvo por uma guarda municipal. No dia que isso aconteceu, os guarda-vidas só apareceram na praia depois de uma da tarde”, reclama Alzirely Queiroz, moradora do bairro. “Até pouco tempo, faziam um trabalho legal, andavam com apito alertando os banhistas e ficavam sempre circulando. Mas isso mudou”, conta a banhista.

A Praia do Leme foi um dos locais visitados pelo JB na manhã de ontem. Das 10h às 11h, do Posto 1 ao 2, apenas um salva-vidas foi encontrado. O soldado bombeiro disse que os colegas estavam circulando pela praia, mas eles não foram localizados pela reportagem do jornal. Só a partir do Posto 2 é que um segundo militar foi encontrado. Não faltam, no entanto, placas vermelhas espalhadas, indicando perigo.

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Grupo de estrangeiros formado por três uruguaios e um argentino evitou o mar devido à falta de agentes (Foto: Marcos Tristão)

As indicações, espalhadas pela orla, chamaram a atenção de um grupo de turistas do Uruguai que evitou entrar na água, diante da ausência de guarda-vidas. “É a primeira vez que venho ao Rio. Já faz uma semana que estamos aqui e ainda não tive coragem de entrar na água. Apesar das placas indicando risco, não vemos os guardas. É até contraditório. Tenho medo”, reclama a dona de casa uruguaia Myrian Charo.

Seu marido, o funcionário público Daniel Nunez foi o único de um grupo de quatro estrangeiros que teve coragem de se aventurar no mar. Mas ficou no raso. “Achei bem policiado. Já passou um ladrão aqui, um policial que o capturou, mas ninguém para nos ajudar em caso de afogamento”, queixou-se ele.

Entre os turistas nacionais, a reclamação é a mesma. A dona de casa mineira Joana Corte Real, de 61 anos, veio de Leopoldina sedenta para se banhar. Mas preferiu ficar só tomando sol. “Salva-vidas? Não encontrei nenhum”, contou.

No Posto 3, já em Copacabana, o casal paulista Raphael de França e Isabele Elis também não encarou o mar. Os dois mantiveram a filha, Elis, de 5 anos, brincando apenas na areia .

No Arpoador, os banhistas contaram que viram dois salva-vidas por volta das 9h dentro do posto de salvamento, mas a partir das 11h, a dupla não foi localizada. “Nós salvamos mais banhistas do que os próprios salva-vidas. Já são poucos para dar conta da demanda, principalmente no fim de semana. Para piorar, se distraem muito”, relatou o professor de surfe Alex Ribeiro. A veracidade do relato foi confirmada por outros colegas do surfista.

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Casal de São Paulo também preferiu ficar só na areia (Foto: Marcos Tristão)

Para o diretor da Associação dos Bombeiros Militares do Estado do Rio de Janeiro (ABMERJ), o sargento bombeiro Claudio Vinícius, os agentes já trabalham no limite. “Hoje, não temos nem mil salva-vidas na ativa, quando o necessário seriam pelo menos cinco mil. Isso é só o reflexo de um déficit que já assola a corporação há tempos. Temos a necessidade de 23 mil bombeiros, mas só contamos com 13 mil. No caso dos salva-vidas, o último concurso foi feito há três anos. Abriram 300 vagas, mas só preencheram 250. Para atendermos a demanda, precisamos ter salva-vidas. Não tem jeito”, defende.

Segundo explicou Cláudio, fora do período de verão, é comum ter menos salva-vidas em serviço, já que são escalados para trabalhar 12 horas seguidas de outras 60 de descanso. Enquanto no verão, as horas de folga que seguem o período trabalhado somam 48 horas.

Procurada por meio da assessoria de imprensa, a corporação não negou o déficit de agentes nas areias. Mas defendeu, em nota, que “a distribuição do efetivo leva em conta fatores como as estatísticas de salvamento marítimo, a frequência de banhistas e as condições do mar”.

Marcos Tristão - Grupo de estrangeiros formado por três uruguaios e um argentino evitou o mar devido à falta de agentes
Marcos Tristão - Casal de São Paulo também preferiu ficar só na areia