Pinguins são bichinhos estranhos; pássaros que não voam, peixes de sangue quente que não vivem sem ar fresco.
Talvez a espécie, atração secundária de Os pinguins do papai – a primeira é, obviamente, Jim Carrey e seu infindável catálogo de caretas – funcione como símbolo do paradoxo que é o longa-metragem dirigido por Mark Waters: é um filme para crianças que oferece um catálogo de aberrações adultas ou uma comédia para a família que trata os espectadores adultos como seres infantilizados e muito tolos?
Tudo sobre a ideia de uma adaptação do livro infantil Mr Popper’s penguins, de Richard e Florence Atwaters, publicado no final dos anos 30, sugere encantamento e diversão. Mas o longa-metragem em si, que pouco guardou de sua fonte original, soa desinteressante, grotesto e algo apelativo.
Ou alguém acha muito interessante a história de um ganancioso corretor de imóveis de Manhattan incomodado por bichinhos barulhentos, cagões e flatulentos que acaba sendo transformado por eles?
É bom lembrar que, no texto original, escrito mais de décadas atrás, o protagonista era um pintor de paredes, casado e pai de crianças adoráveis. Na versão dirigida por Waters (de Meninas malvadas e Minhas adoráveis ex-namoradas, entre outros títulos do mesmo calibre), o senhor Popper surge como um frio executivo de Nova York, divorciado, pai de pirralhos mimados e visivelmente traumatizado pela ausência da figura paterna na infância. Tantas fontes de neuroses juntas, claro, caem como uma luva no repertório facial e gestual de Carrey.
Por fora, Os pinguins do papai sugere um conto da carochinha das melhores safras dos estúdios Disney. Por dentro, está mais próximo das comédias sobre relacionamentos (familiares, amorosos) que beiram a escatologia, da lavra de Judd Apatow (O virgem de 40 anos), Todd Phillips (Se beber, não case) e quejandos.
Coadjuvantes de luxo gerados por computador, os pinguins inesperadamente herdados do pai funcionam, a princípio, para Popper, como mero instrumento de reconquista do filhos; depois viram motivo de colapso nervoso. Enfim, sentimentos, motivações e caráter dos personagens (reais e digitais) não são muito claros em um filme que se pretende dar lições de moral e conduta em crianças e adultos ao mesmo tempo em que os entretêm. Cotação: * (Regular)