Alvo da PF, Bolsonaro nega falsificação em cartão e diz que não tomou vacina por ter 'lido a bula'

Ex-presidente foi alvo de busca e apreensão da PF em sua casa por suspeita de inclusão de dados falsos sobre imunização

Por GABRIEL MANSUR

Jair Bolsonaro

Alvo de operação da Polícia Federal por suspeita de falsificar dados vacinais incluídos no Ministério da Saúde, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou, na manhã desta quarta-feira (3), em entrevista à Band, que não adulterou seu cartão de vacinação. O ex-mandatário repetiu que não tomou a vacina "por ter lido a bula", que a imigração jamais cobrou seu cartão de vacinação, mas também não explicou como esse registro consta nos sistemas do Ministério da Saúde.

"Nunca me foi pedido cartão de vacina em lugar nenhum. Não existe adulteração da minha parte. Não tomei a vacina. Em nenhum momento eu falei que tomei a vacina e não tomei", afirmou Bolsonaro na porta de sua casa, num condomínio em Brasília.

Investigações apontam que os dados do cartão de vacinação de Bolsonaro, sua filha de 12 anos, Laura Bolsonaro, seu ex-assistente de ordem, Mauro Cid, e sua esposa, Michelle Bolsonaro, foram alterados com o intuito de burlar as restrições sanitárias vigentes impostas por Brasil e Estados Unidos destinadas a impedir a propagação da Covid-19 no momento em que a pandemia estava no auge.

Ainda segundo o ex-presidente, Michelle se vacinou em 2021, durante viagem aos Estados Unidos. Já sua filha realmente não teria tomado o imunizante.

"Ela (Michelle) tomou a vacina nos EUA, da Janssen. E outra, minha filha, que eu respondo por ela, a Laura, de 12 anos, não tomou a vacina também. Tenho laudo médico no tocante a isso. Fico surpreso com a busca e apreensão por esse motivo ", declarou.

Segundo o ex-presidente, foram tiradas fotos do cartão de Michelle Bolsonaro. Ele confirmou que seu celular foi levado pelos investigadores, mas disse não temer o resultado das investigações, pois não tomou vacina e não há irregularidades ou informações que precisem ser escondidas.

"Eu realmente fico surpreso com uma busca e apreensão nesse sentido. Em momento nenhum falei que tomei a vacina. Todo mundo é cidadão igual, mas fazer busca e apreensão na casa de um ex-presidente eu fico… Hoje em dia no Brasil tudo é possível”, reforçou.

As afirmações foram corroboradas pela ex-primeira-dama. Nas redes sociais, Michelle afirmou que não sabe o motivo da operação e que seus advogados não tiveram acesso aos autos. Michelle também negou que seu celular tenha sido apreendido, como noticiado pela imprensa.

"Hoje a PF fez uma busca e apreensão na nossa casa, não sabemos o motivo e nem o nosso advogado teve acesso aos autos. Apenas o celular do meu marido foi apreendido. Ficamos sabendo, pela imprensa, que o motivo seria "falsificação de cartão de vacina" do meu marido e de nossa filha, Laura. Na minha casa, apenas eu fui vacinada", postou.

Bolsonaro seria ouvido às 10h desta quarta por uma equipe da Polícia Federal em Brasília, mas se negou a depor, o que é permitido. Os advogados de Bolsonaro pediram o adiamento do depoimento do ex-presidente pois disseram que não tiveram acesso aos autos e, por isso, pediram mais tempo para esclarecimentos.

Horas antes, o ex-presidente estava entre os alvos de mandados de busca e apreensão na casa onde mora desde o fim do mandato, em um condomínio de alto padrão no DF.

A operação

A PF realizou, nesta manhã, a operação que mais chegou perto do núcleo duro do ex-presidente, com a prisão de três de seus principais auxiliares, o tenente-coronel Mauro Cid, Max Guilherme e Sérgio Cordeiro.

Tanto Max quanto Cordeiro são, inclusive, dois dos oito cargos de assessor a que Bolsonaro tem direito como ex-presidente da República. Este último foi quem cedeu a casa para o ex-mandatário realizar lives durante a campanha eleitoral, quando foi proibido de fazê-las no Palácio da Alvorada.

Eles também acompanharam Bolsonaro na sua temporada nos Estados Unidos, após perder a eleição. Max ainda esteve ao lado do ex-presidente em suas primeiras viagens pelo Brasil e nos passeios que tem dado por Brasília, como ao colégio militar.

As medidas são no âmbito de uma investigação, diz a PF, sobre uma suposta "associação criminosa constituída para a prática dos crimes de inserção de dados falsos de vacinação contra a Covid-19 nos sistemas SI-PNI e RNDS do Ministério da Saúde."

"A apuração indica que o objetivo do grupo seria manter coeso o elemento identitário em relação a suas pautas ideológicas, no caso, sustentar o discurso voltado aos ataques à vacinação contra a Covid-19", afirma a PF.