Em depoimento de 5 horas, Gonçalves Dias nega conchavo com golpistas no 8/1
À Polícia Federal, ex-ministro afirmou que, sozinho, não teria conseguido prender os vândalos que invadiam o Palácio do Planalto; Alexandre de Moraes quebra sigilo das imagens
O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Gonçalves Dias, prestou depoimento à Polícia Federal de Brasília na manhã desta sexta-feira (21). Dias chegou na sede da corporação por volta das 8h45 e por lá ficou até às 13h30.
O depoimento faz parte do inquérito que apura os ataques golpistas às sedes dos Três Poderes, em oito de janeiro. Na quarta-feira (19), a CNN Brasil divulgou imagens em que o general da reserva aparece circulando em meio aos golpistas no Palácio do Planalto. No mesmo dia, o ex-ministro pediu demissão do cargo.
"O comparecimento na sede da Polícia Federal é, para mim, uma grande oportunidade de esclarecer os fatos que têm sido explorados na imprensa", afirmou o militar aos jornalistas na saída da PF.
Dias também afirmou que não teve qualquer responsabilidade - nem por omissão nem por meio de uma ação sua - em relação ao que houve durante atos antidemocráticos, quando os prédios sedes do Executivo, Legislativo e Judiciário foram atacados por vândalos. O general ressaltou que "confia na investigação e na Justiça".
"Confio na investigação e na Justiça, que apontarão que eu não tenho qualquer responsabilidade seja omissiva ou comissiva nos fatos do dia 8 de janeiro", completou.
A oitiva foi uma determinação do ministro Alexandre de Moraes, que relata a investigação no Supremo Tribunal Federal (STF). Para o ministro do STF, os vídeos indicam "atuação incompetente" e "ilícita e conivente omissão" de membros do GSI.
O depoimento
Gonçalves Dias precisava esclarecer a razão de não ter reagido aos ataques e também quem são os os outros servidores que aparecem nas imagens divulgadas pela CNN Brasil. Em uma delas, o capitão do Exército José Eduardo Natale de Paula Pereira chega a oferecer garrafas de água mineral aos criminosos.
Aos policiais, o ex-ministro afirmou que, sozinho, não teria conseguido "efetuar prisão das três pessoas ou mais que encontrou no 3° e 4° andares, sendo que um dos invasores encontrava-se altamente exaltado". A jornalistas, ele afirmou que sua imagem ao lado dos golpistas foi divulgada fora de contexto. "Fizeram um corte específico na produção, na produção dos vídeos que vocês olharam", disse.
"Colaram minha imagem ao major distribuindo água para os manifestantes, fizeram cortes da minha imagem. Tenho 44 anos de profissão no Exército Brasileiro, sempre pautei minha vida em cima dos valores éticos e morais. O maior presente que dou a mim até hoje é a honra", esclareceu.
Na opinião de G Dias, como é conhecido, militares que aparecem ajudando os extremistas devem ser punidos a rigor da lei. Ele citou especificamente um major que estava distribuindo água, em referência a José Eduardo Natale de Paula Pereira. José atuava como coordenador de segurança de instalações dos palácios presidenciais e estava trabalhando no Palácio do Planalto no domingo.
"Quem tiver algum envolvimento, que seja punido. Inclusive aquele major. Aquilo é um desvio de atitude aqui de dentro", declarou.
Quebra de sigilo
Após o depoimento de Dias, foi a vez de Alexandre de Moraes entrar em ação. O ministro determinou a quebra do sigilo das imagens de circuito interno do Palácio do Planalto e estipulou que a Polícia Federal ouça os servidores do GSI que estavam no palácio durante a invasão em até 48 horads.
"Determino a quebra do sigilo da divulgação das imagens do dia 8/1/2023 do circuito interno de segurança do Palácio do Planalto em poder do GSI, com o envio a esta Suprema Corte, em 48 horas, de todo o material existente, observada a preservação integral das imagens, que será aferida em posterior perícia, para efeito de preservação da cadeia de custódia", escreveu Moraes.
O ministro também disse que a tomada de depoimento dos servidores pela Polícia Federal é necessária para "aferição das condutas individuais".