POLÍTICA

Trabalho escravo e crimes ambientais: conheça alguns apoiadores de Bolsonaro

A campanha do atual presidente recebeu mais de R$ 3,1 milhões em doações de infratores ambientais no primeiro turno

Por POLÍTICA JB com Alma Preta Jornalismo
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Publicado em 29/10/2022 às 08:46

Alterado em 29/10/2022 às 08:46

Os irmãos Mardoqueu, Jairo e Gláucio, sócios da Herculano Mineração, são réus em processo de homicídio qualificado Reprodução/Uol

Fernanda Rosário - Na reta final do período eleitoral, Jair Bolsonaro (PL) soma mais de R$85 milhões de pessoas físicas que fizeram doações para sua campanha, com uma disparada de arrecadações de mais de R$60 milhões após o primeiro turno. Ao longo da corrida eleitoral, entre os seus principais doadores, há nomes de fazendeiros, empresários ligados ao setor do agronegócio, além de pessoas já multadas e investigadas por crimes ambientais e por trabalho escravo.

Segundo dados obtidos em setembro deste ano pelo projeto Data Fixers, em parceria com a agência Fiquem Sabendo, e a análise publicada pelo InfoAmazonia, só no primeiro turno, o presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu mais de R$3,1 milhões em doações de campanha de 93 infratores ambientais, como o sojicultor Oscar Cervi e o pecuarista Celso Bala.

A análise revela que esses 93 doadores foram multados em mais de R$ 300 milhões por crimes ambientais entre 2005 e 2022, o que fez com que Bolsonaro fosse o candidato que mais recebeu recursos de pessoas autuadas pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis).

De acordo com Ana Paula Prates, diretora de políticas públicas do Instituto Talanoa - entidade dedicada à política climática -, a doação de pessoas envolvidas em multas ambientais para Bolsonaro é um indicativo sobre a política atualmente em curso.

Como já noticiado anteriormente pela Alma Preta Jornalismo, desde o início de seu mandato, Bolsonaro apoia uma política de redução da atuação de órgãos ambientais, como o Ibama e o ICMBio. Seu mandato foi marcado pela redução orçamentária dessas entidades, o que afeta os processos de fiscalização e defesa do meio ambiente e de comunidades tradicionais e originárias.

“Desde o início do governo, a gente vem observando o avanço na questão da violência. Há não só uma intrusão das terras indígenas e de outras áreas tradicionais com garimpo legal e com o desmatamento, mas principalmente há a questão da violência sobre os povos originários. O avanço da criminalidade nessas áreas foi muito normalizado por esse governo e estimulado”, ressalta a diretora de políticas públicas do Instituto Talanoa.

“A doação desses doadores demonstra que o crime compensa e que para eles vale a pena continuar com esse tipo de governo”, explica Ana Paula Prates. Segundo ela, as doações recebidas por Bolsonaro de pessoas envolvidas em crimes ambientais também indicam um possível maior avanço criminal nas políticas ambientais em uma reeleição.

“O próprio Bolsonaro já esteve envolvido em multa ambiental”, lembra Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima. “Ele teve a multa dele arquivada depois de muita pressão e perseguição contra o fiscal que multou ele por pesca ilegal. Há também o levantamento que revela que o Bolsonaro ganha em termos de votação nas cidades que mais desmatam a Amazônia”, explica o secretário executivo.

Segundo ele, Bolsonaro inovou no Brasil, não no sentido de inventar o crime ambiental, que sempre existiu, sobretudo na Amazônia, mas em colocar o crime ambiental dentro do governo dele, no gabinete da Presidência da República e nos Ministérios.

“A agenda de clima, de direitos humanos e indígena são agendas de responsabilidade, cuidado coletivo, direito social e isso, nesse governo, não vai ter espaço. Na verdade, essas agendas atrapalham [esse governo]”, explica Marcio Astrini. Ele complementa que, pensando nos acordos internacionais assumidos pelo Brasil sobre a questão climática, o Brasil está contra os esforços globais de poluir menos o planeta.

“Existem projeções de que o Brasil pode aumentar as suas emissões até o ano de 2030, ainda na trajetória do que o governo Bolsonaro apresenta hoje. Então a gente teria uma situação em que o Brasil isoladamente representaria um risco pra questão do clima no mundo inteiro por conta do aumento de emissões”, acrescenta.

Confira abaixo quem são alguns dos doadores para a campanha de Jair Bolsonaro que estão envolvidos em multas e investigações por crimes ambientais ou em suas propriedades.

 

Celso Bala

Celso Gomes dos Santos, conhecido como Celso Bala, é o 21° no ranking de doadores de Jair Bolsonaro, com uma doação de R$500 mil contabilizada em 1 de setembro. Ele foi um dos primeiros doadores da campanha de Bolsonaro.

 

Macaque in the trees
Celso Gomes abraçado a seu ídolo Bolsonaro (Foto: reprodução)

 

Celso é pecuarista em Rondonópolis e Alta Floresta, em Mato Grosso, e considerado o "Rei do Gado” na região. De acordo com análise do InfoAmazonia e dados do projeto Data Fixers, em parceria com a Fiquem Sabendo, o fazendeiro tem quatro registros de infrações por desmatamento e armazenamento irregular de agrotóxicos em Alta Floresta (RO) e Nova Monte Verde (MT).

As multas, aplicadas em 2014 e 2020, somam R$ 552 mil e os processos aguardam julgamento. Em Nova Monte Verde, as multas foram aplicadas por conta do armazenamento de produtos nocivos à saúde humana e ao meio ambiente em desacordo com as exigências legais na propriedade Fazenda Agrocondor I. (Demais fontes: MTEsporte)

 

Cornélio Adriano Sanders

O fundador do Grupo Progresso, empresa do setor do agronegócio com produções como soja, milho e algodão, é o oitavo no ranking de doadores de Jair Bolsonaro, com uma doação de R$1 milhão contabilizada em 7 de outubro, para o segundo turno da campanha.

 

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Cornélio Adriano Sanders (Foto: Foto: CUT)

 

Em 2006, ele foi denunciado pelo Ministério Público Federal (MPF) após trabalhadores em condições análogas à escravidão serem encontradas na Fazenda Progresso em 2005, no Piauí. Conforme noticiou O Globo, a Delegacia Regional do Trabalho encontrou vasilhames de produtos químicos usados para armazenar a água fornecida aos empregados, submetidos a jornadas excessivas e a condições desumanas.

Ele foi incluído na lista suja do trabalho escravo do Ministério do Trabalho em 2009 e foi retirado da lista em 2019, depois de arquivamento do caso a pedido do MPF, “após as manifestações defensivas comprovando a ausência de provas”, informou em nota a assessoria do fazendeiro ao veículo O Globo.

 

Oscar Luiz Cervi

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, Oscar Luiz Cervi é o nono no ranking de doadores de Jair Bolsonaro, com uma doação de R$1 milhão contabilizada em 1 de setembro.

Nascido no Rio Grande do Sul, o sojicultor, dono do grupo Cervi, é um dos maiores produtores de grãos do país, sendo um dos principais fornecedores de soja para a multinacional Bunge. Sua produção de soja, milho e algodão começou em 1983 em terras do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.

Segundo publicação de O Globo, o empresário foi multado ao menos quatro vezes entre os anos de 2003 e 2005, por provocar um desmatamento da ordem de 11,6 mil hectares, o equivalente a 622 campos do estádio do Maracanã. Ao todo, as multas somaram R$1, 6 milhão em valores da época por conta da derrubada ilegal em São José do Xingo/MT e Bom Jesus/PI.

Uma das multas, de R$571,3 mil foi pelo desmatamento de vegetação nativa na Fazenda Santa Maria, que é de propriedade de Oscar Cervi, no Mato Grosso. Em resposta ao veículo O Globo, o Ibama pontuou que, das quatro multas, uma foi cancelada no mesmo período da sua aplicação, a outra quitada em 2013, uma prescrita em 2016 e a última permanece suspensa por decisão da justiça federal.

 

Réus da Herculano Mineração

Os empresários e irmãos Mardoqueu, Jairo e Gláucio Herculano, sócios da Herculano Mineração, são réus em processo de homicídio qualificado de três operários e por delitos ambientais pelo rompimento em 2014 de uma barragem de rejeitos. O rompimento da barragem da mineradora de minério de ferro e minério de ferro manganês ocorreu em Itabirito (MG), liberou cerca de 300 mil metros cúbicos de rejeitos e causou graves impactos ambientais na região.

Conforme noticiado pelo Uol, os empresários doaram R$750 mil à campanha pela reeleição do presidente Jair Bolsonaro. Os irmãos realizaram três transações bancárias de R$ 250 mil para o segundo turno na conta da campanha do presidente.