Sob chancela do ministro e general Braga Netto, uma nota conjunta foi divulgada na noite dessa quarta-feira (30) pelo Ministério da Defesa e pelo Exército, versando sobre o golpe que culminou na ditadura militar que perdurou por 21 anos no país.
O texto causou revolta nas redes sociais - internautas levantaram no Twitter a hashtag "ódio e nojo à ditadura", frase histórica proferida pelo político Ulysses Guimarães após a Assembleia Constituinte, que definiu os parâmetros da Constituição Federal de 1988 e marcou a redemocratização do país.
ÓDIO E NOJO À DITADURA pic.twitter.com/rHxNZ2hGQR
— Cris (@crisvector) March 31, 2022
Braga Netto – que teve uma ascensão meteórica desde que ingressou no atual governo – deve ser candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PL), que tenta a reeleição. Ele deve deixar o posto de ministro da Defesa nesta quinta (31) com essa expectativa.
No documento denominado "Ordem do Dia", Braga Netto classificou o Regime Militar como "Movimento de 31 de março de 1964".
"O Movimento de 31 de março de 1964 é um marco histórico da evolução política brasileira, pois refletiu os anseios e as aspirações da população da época", diz a introdução do texto.
O termo "movimento", em alusão direta ao golpe militar, já havia sido usado em anos anteriores pelo governo Bolsonaro. A nota prossegue dizendo que "a história não pode ser reescrita, em mero ato de revisionismo, sem a devida contextualização".
O comunicado veio no mesmo dia em que Bolsonaro voltou a ameaçar o Judiciário sobre o resultado das eleições de 2022.
"Nos anos seguintes ao dia 31 de março de 1964, a sociedade brasileira conduziu um período de estabilização, de segurança, de crescimento econômico e de amadurecimento político, que resultou no restabelecimento da paz no País, no fortalecimento da democracia, na ascensão do Brasil no concerto das nações e na aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita pelo Congresso Nacional", prossegue a nota.
O regime enaltecido por Bolsonaro e Braga Netto foi marcado por perseguição política, censura, tortura e assassinatos.
Embora os números sejam pouco precisos, a estimativa é que mais de 20 mil pessoas tenham sido torturadas ao longo de 21 anos de vigência da ditadura militar.
Revoltados, os usuários do Twitter viralizaram uma frase histórica de Ulysses Guimarães após a Assembleia Constituinte: "Temos ódio e nojo à Ditadura".
"Traidor da Constituição é traidor da pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do parlamento, calotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério. Quando, após tantos anos de lutas e sacrifícios, promulgamos o estatuto do homem, da liberdade e da democracia, bradamos por imposição de sua honra: temos ódio à ditadura. Ódio e nojo", disse Guimaråes, em 5 de outubro de 1988, quando a Carta Magna foi promulgada. (com agência Sputnik Brasil)
Ódio e nojo da ditadura. Para que não se esqueça. Para que nunca mais aconteça #DitaduraNuncaMais
— Cecília Olliveira (@Cecillia) March 31, 2022
Ministério da Defesa Brasileiro CELEBRANDO o GOLPE de 64 e compartilhando fake news sobre um fato histórico.
— Bryanna Nasck?????????? (@BryannaNasck) March 31, 2022
É um absurdo tão grande, é de uma perversidade tão nojenta que me deixa chocada.
TEMOS ÓDIO E NOJO A DITADURA!???????????? https://t.co/p9wFL9r6Hn
Na época, pessoas levadas aos porões relataram terem sido submetidas a choques elétricos, estrangulamento, afogamentos, socos, estupros e outras agressões. Em muitos casos, os torturados não sobreviveram.
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, Comissão da Verdade, instaurada em 2014, indicou 191 mortos e 210 desaparecidos em decorrência da perseguição dos militares. Outros 33 corpos foram localizados posteriormente, totalizando 434 pessoas assassinadas no período. (com agência Sputnik Brasil)
A ditadura deixou um rastro de sangue e silêncio no Brasil. E é com tristeza que relembramos esse cruel momento da nossa história para que ele nunca mais se repita! “Traidor da Constituição é traidor da pátria", Ulysses Guimarães. #DitaduraNuncaMais pic.twitter.com/k8lMaIllz6
— Humberto Costa (@senadorhumberto) March 31, 2022