POLÍTICA

A nove meses do 1º turno, polarização se cristaliza entre Lula e Bolsonaro

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Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 05/01/2022 às 08:36

Alterado em 05/01/2022 às 08:36

Lula e Bolsonaro na disputa pela liderança das casas legislativas Arquivo

A nove meses do primeiro turno da eleição presidencial, o cenário da disputa começa a ganhar contornos mais definidos. Especialistas ouvidos pelo Broadcast Político apontam que a polarização entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL) se cristaliza, enquanto a terceira via se vê emparedada.

Em busca da reeleição, Bolsonaro terá o desafio de se equilibrar entre radicalizar o discurso para mobilizar sua base e se moderar para conquistar outros públicos para enfrentar o favoritismo do petista. Por outro lado, a terceira via precisará vencer a pulverização de candidaturas do campo e encontrar um discurso capaz de confrontar as maiores forças mobilizadoras do voto no Brasil atualmente: petismo e bolsonarismo.

Com a desaprovação do mandato batendo recordes e pesquisas de intenção de voto que mostram que Lula poderia vencer a eleição em primeiro turno, Bolsonaro corre o risco de seguir os passos do ex-prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (Republicanos), nas eleições de 2020. Esta é a avaliação do cientista político e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio, Ricardo Ismael. Ele lembra que Crivella teve votos suficientes para chegar ao segundo turno, principalmente de parte do eleitorado evangélico, mas sofreu uma derrota acachapante para Eduardo Paes (PSD).

"Para ir ao segundo turno, Bolsonaro pode ser tentado a radicalizar o discurso e fidelizar o público tradicionalmente bolsonarista. Mas, se ele fizer um discurso muito radical, quando chegar no segundo turno, vai levar uma goleada, pois não vai reverter", afirma Ismael. Ciente de que precisa ir além do seu público tradicional, o presidente tenta conquistar o eleitorado de baixa renda, mais inclinado a votar em Lula segundo apontam as pesquisas, com políticas como o pagamento de parcelas de R$ 400 do Auxílio Brasil e o vale-gás, lembra o professor.

 

Moro e a terceira via

Apesar das tentativas de construir uma alternativa a Bolsonaro e Lula, a chamada terceira via parece ainda não ter conquistado o eleitorado, mostram pesquisas de intenções de voto. Cientistas políticos avaliam que ainda é cedo para dizer que o campo não conseguirá apresentar candidaturas viáveis, mas afirmam ser necessário diminuir a pulverização - atualmente, 8 nomes se apresentam como representantes desta alternativa - e falar para além do eleitorado "nem nem" (nem Lula nem Bolsonaro) para conquistar a população.

Nome da terceira via que aparece mais bem posicionado nas pesquisas, o ex-juiz Sergio Moro (Podemos) tem dois desafios para se viabilizar. É o que aponta Carolina de Paula, articulista do Broadcast Político e diretora-executiva do DataIESP, agência de pesquisa aplicada vinculada ao Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).

"O primeiro desafio é justificar a questão da entrada dele no governo Bolsonaro. O segundo, mostrar a sua diferença em relação ao presidente. As pesquisas qualitativas mostram que existe um sentimento de traição por parte desse eleitorado que votou no Bolsonaro.", afirmou Carolina.

"Acho um pouco exagerado chamar o ex-juiz Sergio Moro de terceira via, pois ele tem várias pautas na agenda muito semelhantes ao presidente Jair Bolsonaro", contesta a cientista política e professora da FGV, Graziella Testa, também articulista do Broadcast Político. (Bruno Luiz e Vinicius Alves/Agência Estado)

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