POLÍTICA

Lista dos mais influentes: Bolsonaro está 'no contrapé do cenário internacional', avalia professor

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Por JORNAL DO BRASIL
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Publicado em 21/09/2021 às 08:02

Alterado em 21/09/2021 às 08:02

Presidente Jair Bolsonaro sai de seu hotel enquanto participa da 76ª sessão da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, 20 de setembro de 2021 Foto: Reuters / Stefan Jeremiah

A revista Time divulgou a lista das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2021 na semana passada e deixou o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), de fora.

A lista é dividida em seis categorias: ícones, pioneiros, titãs, artistas, líderes e inovadores. No grupo dos mais influentes líderes, que inclui políticos do mundo inteiro, estão figuras como os presidentes dos EUA, Joe Biden, da China, Xi Jinping, do Irã, Ebrahim Raisi, e de El Salvador, Nayib Bukele, os primeiros-ministros de Israel, Naftali Bennett, da Índia, Narendra Modi, e da Itália, Mario Draghi, e o novo vice-premiê do Afeganistão, Abdul Ghani Baradar, cofundador do Talibã (organização terrorista proibida na Rússia e em outros países).

O apanhado traz apenas um nome brasileiro: a empresária Luiza Trajano, do Magazine Luiza, foi nomeada para a categoria Titãs.

 

Bolsonaro e a lista dos mais influentes

Em 2019, Jair Bolsonaro foi o único brasileiro presente na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo da revista Time. A publicação afirmava que o presidente recém-eleito representava "uma ruptura brusca com uma década de corrupção de alto nível e a melhor chance do Brasil em uma geração de promulgar reformas econômicas que podem domar o aumento da dívida".

A revista dizia ainda que Bolsonaro "é um garoto-propaganda da masculinidade tóxica, um homofóbico ultraconservador com a intenção de travar uma guerra cultural e talvez reverter o progresso do Brasil no combate às mudanças climáticas".

Em 2020, o Brasil teve dois representantes na lista dos 100 mais influentes: Jair Bolsonaro e influenciador digital Felipe Neto. O texto que apresenta o presidente destaca que, apesar do elevado número de vidas perdidas para o novo coronavírus, a "pior recessão em 40 anos" e os muitos incêndios que devastaram a floresta amazônica, Bolsonaro seguia com popularidade alta.

"Apesar de uma tempestade de denúncias de corrupção e um dos maiores índices de mortes por causa da covid-19 no mundo, o agitador de direita continua popular entre uma grande parte dos brasileiros. O índice de aprovação de Bolsonaro se deve em parte aos pagamentos mensais do auxílio emergencial feitos aos mais pobres do país durante a pandemia. Mas também reflete os seguidores fervorosos, quase cultuadores, que ele comanda. Para sua base, ele simplesmente não pode errar", lê-se na publicação.

Embora não esteja na edição deste ano, Bolsonaro apenas o quarto brasileiro a ser eleito na categoria de líder ao longo dos mais de 20 anos da lista da revista. Os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT), esteve na lista em 2004 e 2010, e Dilma Rousseff (PT) nos anos 2011 e 2012. O então juiz Sergio Moro esteve na edição de 2016.

Queda de popularidade

Renan Bernardes, doutorando em Comunicação e Interculturalidade pela Universidade de Valência, na Espanha, afirma que a ausência de Bolsonaro na revista Time deste ano ocorreu por uma série de fatores: negacionismo, fraco desempenho econômico, falta de habilidade política, enfraquecimento da moeda brasileira. Esses e outros elementos fizeram com que o presidente perdesse o seu capital político, sobretudo o capital político internacional.

"Depois da não reeleição do [ex-presidente norte-americano Donald] Trump, o mundo deu uma respirada, porque os EUA ainda pautam muito a política internacional, dessa ideia de extrema direita emergindo como uma alternativa [...]. E essa respirada deixa o Bolsonaro no contrapé do cenário internacional", disse o professor em entrevista à agência de notícias Sputnik Brasil.

Na semana passada, durante a abertura da sessão do Conselho de Direitos Humanos, a alta comissária para direitos humanos das Nações Unidas, Michelle Bachelet, chamou a atenção para as ameaças às populações indígenas e aos ativistas no Brasil, e descreveu um cenário de "séria preocupação".

O professor recorda que ano passado Bachelet fez críticas semelhantes e, na ocasião, Bolsonaro ofendeu o pai da ex-presidente do Chile, general de brigada da Força Aérea chilena que se opôs ao golpe de Augusto Pinochet e foi torturado e morto.

"Bolsonaro parece uma criança mimada ocupando um cargo muito importante porque é o tipo de respostinha e lacração [...]. Isso também tira capital político, esse estado de caos não é benéfico para a longevidade política de uma nação e do líder dessa nação [...]. Não combina com o líder político de uma nação gigante, que já foi a sexta economia do mundo", comenta.

Renan Bernardes ainda relaciona a não presença de Bolsonaro entre os mais influentes com a queda de popularidade do presidente. Bernardes recorda que o Instituto Datafolha apontou que a reprovação do presidente está em tendência de alta, e chegou a 53% na semana passada, o pior índice desde que Bolsonaro assumiu a presidência.

"A Time quando faz suas listas ela não entra no mérito do julgamento moral dessa influência [...], tanto que um talibã está na lista [...]. Eu diria que nesse caso a ausência dele, diferentemente dos últimos dois anos, está relacionada com a queda de popularidade [...]. Essa ausência nessa lista é sintomática, demonstra que ele está perdendo força ao longo do tempo, seja por rompimento de alianças que fez, seja por um desgaste na pandemia. É o retrato de se apequenar cada vez mais", avalia o especialista.

O professor afirma que nas últimas manifestações o presidente tem dobrado a aposta, forçando as pautas de fechando do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Congresso Nacional e de intervenção militar, e considera que esse extremismo vai afastar o cidadão médio, que queria apenas tirar o PT do poder.

"O grupo dele [Bolsonaro] quando vai algumas pautas que o cidadão médio olha e diz: 'Aí não', ele acaba por esvaziar um pouco, e essa perda de popularidade, na minha opinião, está atrelada a esse extremismo que vem ganhando as ruas".

Dessa forma, Bernardes não vê o presidente tendo mais votos em 2022 do que 2018 e recorda que os grandes vencedores da última eleição presidencial foram os "não votos": branco, nulo e abstenção. "Ele nunca foi maioria. [Teve] um quarto da população e um terço da população votando, por aí".(com agência Sputnik Brasil)

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